quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

METE BRONCA , DODÔ !!!

" Tinha, talvez, 13 ou 14 anos e fazia o ginásio, como se chamavam as séries que vinham após o quarto ano primário. Numa redação, achei o máximo contar ter chegado à estação do trem ( ABAIXO ) e não haver ninguém me esperando, até que ' uma mão bateu em minhas costas ' . O professor Eloy Schneider, que lecionava Português : leu a redação à classe, como um exemplo e ainda nos ensinou o que era um cacófato, citando ' uma mão ' .
Fui às nuvens, como era o esperado e , ao contrário do aconteceria à maioria dos adolescentes , que, normalmente , se sentiriam ofendidos por terem sido chamados à atenção por um vacilo , passei a procurar cacófatos famosos como ' alma minha gentil que te partiste ' , de Camões ( ABAIXO ) .
O amigo Deonísio da Silva , dia desses, deu sua contribuição , perguntando quem era o ' herói cobrado ' colocado por Joaquim Osório Duque Estrada ( ABAIXO ) no Hino Nacional ( ' de um povo, o heroico brado retumbante ' ). Encarei-o como um desafio de quem queria me ajudar. Em outra ocasião, o mesmo professor, ao revisar uma saudação que me incumbiram fazer a um palestrante, ensinou-me a diferença entre ' eminente ' e ' iminente ' .
As ações do professor Eloy e de Dona Aurora Guimarães Pereira , minha professora ( ABAIXO ) do segundo ano primário , que me incentivava a escrever , sem o saberem, deram-me uma base que persiste e , no fundo , é responsável , entre outras coisas , por levar-me à audácia da exposição ao publicar crônicas semanais há quase trinta anos, além de alguns livros e outras publicações.
No Científico , tive aulas de Português com o Padre Robl ( ABAIXO ) , uma sumidade . Pediu-nos para fazer uma redação sobre Santa Catarina e não perdi a oportunidade de escrever que não sabia se houve mudanças ou se a fazenda só mudara de capataz. Sentindo-se ofendido , perdeu as estribeiras e , quase aos berros, disse que a redação estava cheia de erros.
Ao contrário do que se esperava de um professor , que deveria agir para corrigi-los , não apontou nenhum, embora os houvesse. A lembrança dos professores que o antecederam agiu como um bálsamo e fiquei quieto. No dia seguinte , deu-me carona : ambos morávamos em São Bento e o colégio era em Rio Negrinho ( ABAIXO ) . Nunca tocamos no assunto , mas passou a comentar minhas redações com parcimônia.
Essas lembranças acordaram ao ler ' Viver para contar ' , autobiografia de Gabriel García Márquez ( ABAIXO ) que , criança, tinha muita dificuldade em aprender o alfabeto , até que uma professora ensinou-lhe as letras pelo seu som . Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura . Sem seus professores, aconteceria ? "

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