Eles estão e azem parte da paisagens dos grandes centros , tanto em países pobres quanto nos desenvolvidos . São tratados como verdadeiros párias da sociedade , que os trata com indiferença e desprezo , quando não com extrema violência e crueldade . Desassistidos e jogados à própria sorte , perderam tudo o que tinham pelos mais variados motivos : drogas , álcool , brigas familiares , miséria .......VAGABUNDOS , PEDINTES , SEM-TETO , MORADORES DE RUA , MENDICANTES ..........várias são as palavras usadas para definir um MENDIGO . É certo também que nem todos eles são realmente mendigos e fizeram da mendicância a sua "profissão " ; também o cinema e a televisão exploraram por diversas vezes o lado lúdico desse tipo de vida , se é que ele realmente existe : o genial CHARLES CHAPLIN ( 1889-1977 ) imortalizou o personagem CARLITOS , um andarilho trapalhão e com ares aristocráticos , com cartola , bengala e um imenso bigode e a TV Record , entre 10 de dezembro de 1973 e 31 de janeiro de 1974 exibiu a hoje esquecida telenovela MEU ADORÁVEL MENDIGO e que tinha em seu elenco os futuros "trapalhões" DEDÉ SANTANA e MUSSUM , além de inúmeros outros exemplos . O escritor JURA ARRUDA o conhece apenas através de algumas informações e de fotos , mas procurou saber o que há por detrás da sofrida vida de um mendigo bastante conhecido em Joinville e chamado por muitos de ADRIANO ........descobriu que o mendigo citado tem uma lição a nos dar , apesar de sua tão sofrida e maltratada vida . Que lição é essa ? CONFIRA :
"Ele traz no olhar a paz de quem não carrega mágoas ou rancor . Vive nas ruas e , talvez por não trazer lembrança de conforto , aparenta sentir-se confortável . Fora chamado de Adriano nos últimos tempos por servidores da Assistência Social . Não sentia falta de documento de identidade , como se bastasse a ele ser chamado apenas .
O sorriso é frequente . Adriano é descrito como amigável . Fala pouco sobre si e do mundo , por isso não dá pistas . Tem a barba por fazer e cabelos que tanto poderiam ser a última moda como grave desleixo .
Traz poucos pertences e pouca memória . Na literatura encontrei citações sobre a felicidade consistir em possuir apenas o que se pode carregar . Parece o caso de Adriano , que por possuir pouca memória , não tem tristeza para carregar .
Uma foto publicada no jornal esses dias mudou um pouco o ritmo e , totalmente , o nome de Adriano , agora José , seu verdadeiro nome , segundo sua família que vive em Curitiba . ( ABAIXO , AMÃE DO MENDIGO )
O encontro significa que Joinville perderá José , o andarilho amigável .
O semblante e o olhar de José na foto do jornal são inquietantes . Perdi-me no retrato durante longos minutos , como quem tenta decifrar o segredo de uma esfinge .Suas sobrancelhas são arcadas e dão-lhe o ar de moço bom ; os olhos amendoados não revelam sua alma mas indicam vivacidade ; os lábios parecem prestes a revelar uma filosofia nova . Mas José é só José , é um José que perdeu , sabe-se lá , quanto da memória e das referências ! José é sereno e quieto , como se acordasse toda manhã com o objetivo de entender o mundo . José observa a vida com olhar novo todo amanhecer . Talvez seja aí que resida a felicidade e não no carro novo , na cama confortável ou no futuro promissor .
Somos a soma de tudo que vivemos e o que vivenciamos . Somos um arquivo imenso de sucessos e fracassos ,de dores e deleites . Somos escaldados , porque a lembrança de tudo o que vivemos nos pesa . Cultivamos medos e rancores passados . Somos a soma de nossa memória . Isso pesa .
José não . José não lembra que foi injustiçado , que apanhou da mãe quando não teve culpa , porque fizera sem querer ; não lembra que negaram à ele estudo e emprego ; que fora maltratado por um servidor público ou por um médico que nem sequer olhou em seus olhos . José não lembra dos olhares de indiferença nem das angústias juvenis .
José quem fora ? Não importa . José é , a cada novo amanhecer , uma pessoa nova , pronta para desfrutar a vida . A vida que ele conhece : a das ruas e calçadas .
A felicidade no rosto de José é a de quem não espera muito , por isso tem tudo . "
Não consigo encontrar as palavras que possam expressar o que senti ao ler essa história da vida de José. Só as minhas lágrimas se fizeram a voz do Espirito se comovendo por uma verdade que nós humanos fingimos conhecer mas na verdade esquecemos: o verdadeiro amor uns pelos outros. Adriano, ou José, entende minhas lágrimas. Mas não fala. Apenas sorri.
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