Quando em 1829 o pedagogo e professor de música francês LOUIS BRAILLE ( 1809-1852 ) criou uma linguagem específica para os cegos ( a linguagem hoje leva o seu nome e passou a ser adotada em outros países a partir de 1879 ) ele não estava apenas facilitando a vida e sendo solidário com aqueles que sofriam , e sofrem , o mesmo drama ( ele se tornou cego com apenas 3 anos de idade ) mas também estava provando que os portadores de deficiência também podem ter uma vida normal , realizar e sonhar . O escritor JURA ARRUDA teve uma experiência bastante gratificante com um grupo de crianças portadoras de deficiência visual e compartilha conosco esse momento único na crônica de hoje . CONFIRA :
"As crianças sentaram em semicírculo e pareciam curiosas . Eram poucas . O sol invadiu a sala e incomodava alguns , que se moveram para a sombra . Uns tinham baixa visão , outros nenhuma . A Juliana deu início ao encontro . Falou sobre livro e autor . Falou sobre o brinquedo que os aguardava do lado de fora . Houve burburinho . O autor ( FOTO ABAIXO )
contou que havia escrito algumas histórias , e que a mais recente era fruto de uma tarde de verão no litoral . Poucos minutos depois , a história de Rico ecoava pela sala da AJIDEVI - Associação Joinvilense para a Integração dos Deficientes Visuais . ( FOTO ABAIXO )
Percebíamos os ouvidos atentos e as expressões marcantes em cada um daqueles rostos durante os quase quatro minutos de história .
' Que história bonita ' , diziam uns ; ' Que história legal ' , diziam outros , até que Luana , a mais velha da turma , exclamou : ' É uma história maravilhosa ! ' . Rico é um papagaio que tem a asa quebrada e não pode voar ,
personagem principal do livro ' O Vento Que Me Voa ' , que além de impresso , é história contada em áudio . Depois de produzir alguns exemplares em braile do primeiro livro , ' Fritz , Um Sapo Nas Terras Do Príncipe ' ,
o áudio book do novo livro pareceu ser mais um passo rumo à acessibilidade .
Logo depois , fomos para o pátio , onde Rico , o simulador de voo , aguardava . As crianças estavam agitadas e foram uma a uma sendo alçadas para receber o vento no rosto e a sensação do voo . ' Eu tô voando ' , era o que ouvíamos a cada criança que girava no brinquedo . Eram todos Ricos , eram todos pássaros livres .
Era eu também um pássaro livre naquela manhã de sol ameno . Foi quando me dei conta de que Juliana e eu estávamos realizando : uma ação simples , uma história pequena e um brinquedo manual que formava o quadro de sonho realizado . Não o das crianças , mas o do autor do livro e da produtora , que sentiram , com o perdão da soberba , orgulho do feito .
Uma professora aproximou-se e perguntou se havia uma edição do livro em braile .
Respondi que não , que havíamos decidido fazer uma versão em áudio . ' Seria melhor em braile , para estimular a leitura ' , comentou . Senti-me triste porque tudo parecia tão perfeito até ali . Calei . Em casa pus-me a pensar sobre tudo isso . Uma versão em braile será bem vinda , mas não penso que a versão em áudio deixa de estimular a leitura . Pelo contrário , as primeiras histórias que ouvimos foram verbalizadas por nossos pais , tios , avós . Uma boa história é sempre capaz de fazer voar ,
seja lida , contada ou apenas sentida , como o vento , que é real ,mesmo quando gerado por um voo de brinquedo . "
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