quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Castiguinho

Uma colônia estrangeira fundada por um punhado de empobrecidos e esperançosos imigrantes vindos da Europa , localizada em uma região de difícil acesso em uma esquecida e então quase despovoada e pobre província do sul do então Império do Brasil, e ainda por cima em uma região onde já viviam várias famílias de brasileiros e que eram em sua maioria grandes fazendeiros  . Surpreendentemente esse lugarejo cresce de maneira rápida e intensa , torna-se uma das locomotivas de Santa Catarina , atrai cada vez mais imigrantes - tanto nacionais quanto estrangeiros - e todas essas pessoas têm como um de suas figuras de referência  - senão a principal figura de referência um nobre europeu ........Com certeza você deve estar pensando que esta descrição deva ser de Joinville ......mas não é : estamos nos referindo à progressista BRUSQUE . Ao contrário do PRÍNCIPE DE JOINVILLE que jamais apareceu aqui nas antigas terras de Dona Francisca , um barão austríaco que atendia pelo nome de MAXIMILLIEM  VON SCHNEEBURG ( 1799-1869 ) - vivia no Brasil desde 1825 e seguiu carreira como engenheiro militar - não só esteve na então chamada colônia Itajaí-Brusque como ajudou a fundá-la e ainda teve a espinhosa missão de administrá-la até 1867 , missão na qual ,  diga-se de passagem , ela saiu-se incrivelmente bem . Como um messias que guia o seu povo rumo à terra prometida , o barão austríaco liderou um grupo formado por 59 imigrantes , todos alemães : após venceram o curso do rio Itajaí-Mirim durante vários dias a bordo de simples canoas , finalmente , em 4 de agosto de 1860 , chegaram a uma região conhecida como VICENTE SÓ e onde , entre outros , curiosamente já vivia um alemão chamado PETER JOSEPH WERNER , que também tinha um engenho na região e que acabou os abrigando . Iniciava ali a história de Brusque ( hoje naquele local de desembarque dos fundadores existe uma praça com um monumento lembrando o fato ) .......
         O seu crescimento foi muito rápido : em 4 meses a pequena comunidade já tinha 406 habitantes , em 1862 exportou 130 arrobas de fumo  e em 1876 existiam ali 24 fábricas e 9 estabelecimentos comerciais . Distrito de Itajaí a partir de 1873 , desmembrou-se daquele município em 1883 e até 17 de janeiro de 1890 chamou-se São Luiz Gonzaga , passando a partir de então a se chamar Brusque , numa homenagem a FRANCISCO CARLOS DE ARAÚJO BRUSQUE , o presidente da então província de Santa Catarina na época de sua fundação e que , diga-se de passagem não queria que aquela localidade tivesse o seu nome ( até parece os políticos de hoje , não é mesmo ? ) ........A partir de 1867 Brusque passou a receber levas de imigrantes irlandeses ( viveram durante um período bastante breve na colônia Príncipe Dom Pedro e que hoje equivale hoje ao município de Guabiruba ) , norte-americanos ( também viveram na mesma região que os irlandeses e , assim como os primeiros , por um breve período ) , italianos ( os mais numerosos depois dos alemães ) , franceses ( em número reduzido e geralmente em cargos burocráticos ) e poloneses ( que vieram a partir de agosto de 1869 e que assim como os irlandeses e norte-americanos estabeleceram-se onde hoje é Guabiruba , que só se emancipou de Brusque em 1962 ) . Aliás coube aos poloneses - em sua maioria tecelões oriundos da cidade de Lodz - dar início àquela que é a grande marca registrada de Brusque : A ATIVIDADE TÊXTIL . Porém , coube a um alemão natural da região de Baden e de origem francesa criar a primeira empresa têxtil , em 1892 : CARLOS RENAUX ( 1842-1945 ) , radicado em Brusque a partir de 1862 e que durante décadas foia figura mais influente da cidade , em todos os setores da sociedade ....... Além da excelência de seus tecidos Brusque também é cenário de uma impagável história erótico-cômica : certeza de muitos risos , HILTON GORRESEN , hoje ataca mais uma vez , tendo como cenário a dita "capital catarinense da indústria têxtil " ........CONFIRA :

"Toda semana se encontrava com a morena de Brusque . ( ABAIXO , VISTA GERAL DA CIDADE ) 

Ela era casada, sem filhos, o marido um funcionário miúdo de repartição pública. 

Adorava tudo nela ( ABAIXO ) , as pernas roliças, sovando uma na outra, o dedão do pé mais curto, o suor fino no rosto e sobretudo o sotaque açoriano.

Encontravam-se perto da rodoviária ( ABAIXO ) ,

 ele abria a porta do carro e vupt ! a morena se abancava e seguiam para o apartamento, às vezes para um motel.

     Criativa, ela sempre inventava um troço diferente. O que ele gostava mais era o “castiguinho ' .
     – Castiguinho não, pelo amor de Deus! – ele fazia encenação, fingindo que não queria, pra ficar mais gostoso. Ainda mais que ela falava ' caxtiguinho ' 

    – O menino foi malcriado. Tem de levar caxtiguinho – dizia ela.

Certo dia:
   – Hoje vai ser caxtiguinho duplo, acabei de inventar.
Com isso tinha conseguido dele o aparelho de som, a lavadora de louça, quitação do carnê do jogo de quarto, um aparelho de barbear 

– presente para o maridão –, entre outros. 
     – Como é que você explica em casa esses presentes?

     – Ele acha que tenho economias, do tempo de vendedora da Avon.

     Um dia, o marido morreu. Afogado numa pescaria. 

Compareceu ao enterro, só observando de longe. Viu o caixão baixar à cova, cheio de coroas de flores em cima,

 uma velhinha seca que se lamentava, 

abraçada a um jovem, e a morena de preto, fazendo seu papel de viúva inconsolável.

 Imaginou que talvez fosse ele, o maridão defunto, que a levava aos encontros semanais, deixando-a na rodoviária. Era um reforço aos seus minguados vencimentos.

     Acabou casando com a viúva.

 Era um amor velho, já havia se acostumado a ela. Esta, por sua vez, para não perder o costume, arranjou um amante em Brusque. Era ele sair para o emprego, pegava o Fiat que ganhara de presente ( ABAIXO ) e ia encontrar o outro na rodoviária. Uma vez por semana.

     Começou a desconfiar quando ela lhe deu uma jaqueta de couro no aniversário. Disse que eram economias de quando trabalhava com a Avon. Certamente não se lembrou de que ele ' já havia visto esse filme ' .

     Precisava de provas. Assim como havia corneado o antigo marido com ele, quem sabe se também não o estava passando pra trás. Antes de chegar ao cúmulo de mandar segui-la, resolveu deixar um gravador escondido no quarto. 

Será que ela se atreveria a trazer macho para seu ' santo lar ' ? 

Vamos tentar... Qualquer evidência, levava o gravador para seu advogado ( ABAIXO ) e conseguia a separação numa boa. Adultério.

     Não esperou muito. Numa sexta-feira, à noite,

 ao rodar o aparelho, viu que havia algo gravado:
     – Castiguinho não ! Eu não mereço. O que eu fiz pra ganhar castiguinho ? – era uma voz grossa, fingindo indignação.
     – Foi um menino malcriado. Vai ganhar caxtiguinho triplo.


     Triplo ? Com ele, nunca tinha chegado no triplo. Como seria ?

 Desistiu de utilizar o material gravado. O juiz não ia entender essas intimidades. "

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