Ele era alemão de nascimento mas brasileiro e , principalmente , joinvilense de corpo e alma : mais velho de três filhos de um médico , nasceu em Leipzig ( ABAIXO ) - uma das principais cidades da comunista e hoje falecida Alemanha Oriental ,
no entanto acabou sendo criado , estudando , casando e constituindo família na cidade de São Paulo e em janeiro de 1955 mudou-se para Joinville . Ele até tentou ser empresário : foi proprietário das fábricas de móveis ( ABAIXO ) FORJA ARTÍSTICA , LAR RÚSTICO e MÓVEIS CABANA , mas definitivamente essa não era a sua praia ......
Durante a sua juventude chegou a viver , durante breve período , em sua Alemanha natal , - mais precisamente na cidade de Darmstadt ( ABAIXO ) - onde formou-se em Engenharia Mecânica , especializando-se em motores de aeronaves .
Naquela época que estava antecedendo a eclosão da infame e assassina Segunda Guerra Mundial o clima já pesadíssimo e não restou outra alternativa a ele se não a de retornar ao Brasil , sem no entanto jamais exercer a profissão na qual se formou , melhor assim........Se a dinâmica e moderna indústria aeronáutica perdeu talvez um bom projetista e a indústria moveleira deixou de contar com um desajeitado empresário , a PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA E DA HISTÓRIA DE JOINVILLE ganhou aquele que talvez o maior de seus militantes : CARLOS FICKER . ( ABAIXO, A CAPA DO DO SEU HISTÓRICO LIVRO , PUBLICADO EM 1965 )
Em quase 20 anos de pesquisas escreveu 10 livros sobre os mais diversos temas históricos ( dois deles foram escritos em alemão , respectivamente sobre a Guerra do Paraguai e São Bento do Sul , e ambos para o Instituto Hans Staden , de São Paulo - ABAIXO CORAL DO INSTITUTO , EM APRESENTAÇÃO REALIZADA NA DÉCADA DE 60 )
e ainda escreveu uma quase incontável quantidade de artigos para o jornal A NOTÍCIA e a publicação BLUMENAU EM CADERNOS , além de ter sido o presidente da comissão responsável pela criação do MUSEU NACIONAL DE IMIGRAÇÃO E COLONIZAÇÃO . Era para ser apenas uma viagem a passeio : Carlos Ficker encontrava-se na cidade alemã de Wiesbaden ( ABAIXO ) quando em 7 de maio de 1974 um mal súbito encurtou a sua vida , aos 58 anos de idade ( nasceu em 11 de fevereiro de 1916 ) .......
Um fato , ou melhor um possível projeto , tornou essa perda ainda mais sentida : na ocasião Ficker planejava fazer um complexo e minucioso trabalho a respeito de imigrantes oriundos dos arquipélagos portugueses de Açores ( ABAIXO , A ILHA DO PICO ) e Madeira e que estabeleceram em Santa Catarina .
Ao falecer , Ficker deixou uma considerável herança.......não financeira , mas sim histórica : auto didata , detalhista e metódico , formou um impressionante acervo de mais de 20.000 fotos , mapas , livros , registros dos mais variados tipos , documentos oficiais e livros contábeis da antiga colônia Dona Francisca , o que equivale a cerca de 80 % do atual acervo do Arquivo Histórico de Joinville .......E tinha mais : a única coleção completa do velho e histórico jornal KOLONIE ZEITUNG ( ABAIXO , CAPA DA PRIMEIRA EDIÇÃO DO JORNAL , PUBLICADA EM 20 DE DEZEMBRO DE 1862 ) , publicado entre 1862 e 1942 ! Por muito pouco esse impressionante material histórico não se perdeu e felizmente isso acabou ficando na campo do SE......
Felizmente existem aqueles que pensam e agem em prol da comunidade : um grupo de historiadores responsável pela criação e administração do Arquivo Histórico ( entre 1972 , data de sua criação , e 1986 , ele funcionou no mesmo prédio da Biblioteca Pública - ABAIXO ) ,
liderados por ELLY HERKENHOFF ( 1906-2004 - ABAIXO ) e ADOLFO BERNARDO SCHNEIDER ( 1906-2001 ) , começou a se mobilizar para que o acervo que estava nas mãos do já falecido historiador fosse adquirido pelo município de Joinville e , portanto , se tornasse um bem público , acessível a todos .
Em 1977 o sonho virou realidade : o acervo estava em mãos de um dos filhos de Ficker , que vivia no interior de Minas Gerais e após muitas negociações a Prefeitura de Joinville acabou pagando um valor considerável por um bem que sempre deveria ser público ! Curiosamente , e às vésperas do primeiro centenário do nascimento de Carlos Ficker , não existe qualquer rua , praça , via ou monumento público que leve o seu nome......Em 1965 , por uma dessas felizes , raras e louváveis iniciativas a FUNDIÇÃO TUPY ( ABAIXO ) realizou um concurso para se escolher alguém que escrevesse um livro a respeito da história da cidade e adivinhe quem venceu ?
Além de ter o privilégio de poder escrever a respeito da história de sua amada cidade , Ficker teve outra honraria : o prefácio do livro foi escrito pelo lagunense e ex-médico da própria Fundição Tupy , OSWALDO RODRIGUES CABRAL ( 1903-1978 - ABAIXO ) . Trata-se talvez daquele que foi o maior conhecedor da história de Santa Catarina : além de uma vasta e respeitável quantidade de livros escritos a respeito da história local , Cabral escreveu também muitos livros resgatando e lembrando a cultura , as danças , os tipos de música e as manifestações folclóricas locais .
O preciosíssimo livro de Carlos Ficker - HISTÓRIA DE JOINVILLE : CRÔNICA DA COLÔNIA DONA FRANCISCA - mais uma vez reforçou aquela velha imagem de "Joinville , cidade alemã " , o que aliás contradiz um dos trechos do prefácio de Oswaldo Rodrigues Cabral ( ABAIXO )
- " Com efeito , o que se lê em muitos autores é apenas a exaltação do colono , depreciando-se o elemento nacional....." - mas mesmo assim ele teve de se render a um fato histórico : logo no primeiro capítulo , ao comentar sobre a demarcação das terras onde mais tarde surgiria Joinville e que foi realizada pela equipe liderada pelo político e engenheiro lagunense JERÔNIMO FRANCISCO COELHO ( 1806-1860 - ABAIXO ) no período entre 20 de dezembro de 1845 e 24 de janeiro do ano seguinte ,
Ficker comentou sobre o fato de já existirem na região moradores luso-brasileiros e que mais tarde seriam pejorativamente chamados de "caboclos " pelos imigrantes alemães e seus descendentes .......O historiador citou 17 fazendeiros , ou sesmeiros ( SESMARIAS eram terras concedidas pela coroa portuguesa e mais tarde pelo império brasileiro ) , da região , gente como JOÃO CERCAL , LUIZ DIAS DO ROSÁRIO , SALVADOR GOMES , AFONSO MIRANDA , FRANCISCO DA MAIA , entre vários outros , vivendo nas regiões equivalentes aos atuais bairros do Bucarein , Boa Vista , Itaum , Iririú e até mesmo no "germânico " distrito de Pirabeiraba .......( ABAIXO ATUAL SEDE DO ARQUIVO HISTÓRICO DE JOINVILLE : NESSE EXATO LOCAL CHEGOU A EXISTIR UMA SESMARIA )
Ficker , embora que de maneira bastante breve , não se resumiu apenas a citar nomes , ele também traz alguns fatos curiosos : na comarca de São Francisco do Sul foi encontrado um inventário datado de 1830 e que faz referência a um certo FERMIANO DA SILVA , morador de um pequeno povoado existente na região de Três Barras , equivalente hoje a Pirabeiraba ( ABAIXO - em 1965 , data da publicação do livro de Ficker , ainda existiam ruínas da igreja em meio ao mato ......) .
O autor ainda faz referências a um ataque indígena ocorrido em 1834 a uma família que vivia onde hoje está a PESCAÇA ( ABAIXO ) , no qual a mesma acabou sendo trucidada ;
a um assalto indígena a um morador que vivia no que hoje é o início da rua Nove de Março ( ABAIXO - próximo ao monumento A BARCA ) ;
a uma colônia do coronel FRANCISCO DE OLIVEIRA CAMACHO ( militar e um dos maiores fazendeiros da região , com enorme influência política em São Francisco do Sul ) e a uma enorme fazenda existente desde 1826 , entre os atuais bairros Bucarein ( ABAIXO ) e Itaum , com considerável número de escravos e pertencente a Antônio José Vieira .......
Aliás os dois últimos citados tiveram enorme importância no surgimento de Joinville , a cederem parte de seus escravos ( ABAIXO , CASA DE ESCRAVO EM JOINVILLE ) no transporte dos imigrantes , em canoas , entre São Francisco e Joinville , e até mesmo antes da fundação oficial de Joinville :
em 22 de maio de 1850 chegaram aqui LEONCE AUBÉ ( 1816-1877 - ABAIXO ) , representante do Príncipe de Joinville ;
HERMANN GUENTHER , engenheiro responsável pela escolha do escolha do local da futura colônia , e a sua companheira , a feminista JULIE ENGELL e ainda duas famílias - uma de suecos ( VON KNORRING ) e outra de alemães ( SCHNEIDER ) , com o objetivo de preparar o futuro local da colônia , fazer as primeiras plantações e edificar as primeiras construções .......( ABAIXO , CONHECIDA GRAVURA , FEITA EM 1850 )
Nas antigas regiões das sesmarias durante décadas foram seguidas antigas tradições trazidas pelos portugueses , como REIADAS ; danças , como FANDANGO e SÃO GONÇALO , o PÃO-POR-DEUS ( correspondências trocadas entre os namorados , através de papéis em forma de coração - ABAIXO ) e o divertido BOI DE MAMÃO .
Isso acabaria contribuindo para que durante muito tempo existissem duas Joinvilles : Norte x Sul , América x Caxias , brasileiros x "alemães " , "caboclos " x " europeus ".......Infelizmente muitas daquelas tradições das antigas regiões de sesmarias acabaram desparecendo mas felizmente outras , como o BOI DE MAMÃO ( ABAIXO ) ainda sobrevivem........
Se é impossível contar a história de Joinville sem o livro e o trabalho de Carlos Ficker , também fica difícil contar a história do teatro joinvilense sema COMPANHIA DIONÍSIOS DE TEATRO ( ABAIXO ) ........Surgida em 1997 , é formada pelas atrizes ANDRÉIA ROCHA E CLARICE SIEWERT , pelos atores EDUARDO CAMPOS e VINÍCIUS FERREIRA e pelo diretor SILVESTRE FERREIRA .
Tendo encenado até 25 espetáculos - entre eles as peças LÁ NA LUA , QUEM CANTA UM CONTO GANHA UM PONTO , AMOR POR ANEXINS , MIGRANTES e DIVIDINDO EU ( ABAIXO ) - e atraído um público de aproximadamente 500.000 pessoas ,
desde 2000 a companhia vem acumulando prêmios , como os da FUNARTE e do FESTIVAL NACIONAL DE TEATRO DE GUAÇUÍ ( Espírito Santo - ABAIXO )
e abrilhantando festivais de teatro e ventos realizados não só em Joinville como também em outras regiões do país , especialmente no Estado de São Paulo , em outras cidades catarinenses , como Brusque , Jaraguá do Sul e Blumenau .
Também realizam oficinas de teatro e têm uma extensa lista de projetos de caráter sócio-educativo , sendo que uma delas foi a peça AS AVENTURAS DO BOI DAS ÁGUAS........Patrocinados pela companhia municipal ÁGUAS DE JOINVILLE , em 2014 a trupe da Dionísios encenou uma história em que um protagonista era um boi nascido num rio de Joinville e que é vítima da falta de saneamento básico , e isso com muita alegria , irreverência , interação do público , trovas e repentes .
O espetáculo de estréia aconteceu na Praça da Bandeira , com a presença de 90 estudantes da escola municipal da Estrada Anaburgo , dos que passaram por lá e .........de você , que terá o privilégio de prestigiar mais uma demonstração de talento dos atores joinvilenses ! VALE A PENA CONFERIR !
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