quinta-feira, 1 de agosto de 2013
Um pouco de polêmica:depoimento com o escritor BORIS PAHOR-última parte
Nesta última parte do depoimento do escritor esloveno BORIS PAHOR,publicada no site PAULOPES, é exposta sua visão sobre DEUS:
"No entanto, foi o fato de ter visto os inúmeros esqueletos de Natzweiler, Dachau, Dora, Harzungen e Bergen Belsenque me fez refletir sobre a onipotência e a bondade de Deus. Foi ali que eu disse a mim mesmo – como depois encontrei escrito em Hans Jonas, o filósofo judeu que se interroga sobre o conceito de Deus depois de Auschwitz(FOTO ABAIXO) – que o mal, a bondade absoluta e o sumo poder não podem estar juntos, um deles tem que ceder: ou o sumo poder, ou a suma bondade.
Um católico se salvaria dizendo que Deus criou o ser humano livre, portanto responsável pelo mal que faz. Concordo, digo eu, mas se partirmos do pressuposto de que Deus, como ser divino, vê o futuro e aceita o mal que os seres humanos fazem – a terra que tremerá e os fará morrer aos milhares, as pestes que ceifarão vítimas aos milhares, o câncer que matará de todas as formas pelas quais poderá se manifestar – eu excluo que ele seja sumamente bom. Não pode ser bom um Deus que não renuncia criar um mundo assim. E se não pode renunciar a isso ele não é a suma autoridade, não é Deus
Então, eu concluo com Einstein: se Deus é uma divindade que não se interessa pelo mundo, ou, melhor, que não criou o mundo porque ele não tinha a faculdade para isso, nem sentia a necessidade disso – como diz Lucrécio ou como, antes dele, pensavam Heráclito e Parmênides, e mais tarde Spinoza –, então ele não tem nem inteligência nem vontade. Para citar Santo Agostinho(ILUSTRAÇÃO ABAIXO): Sine intelligentia creatorem ou lumen superrationale.
Fiquei com Spinoza, com Deus sive natura, com Spinoza explicado excelentemente por Giuseppe Renzi, Spinoza honesto e corajoso que coloca os humanos diante da verdade, isto é, afirmando que eles estão sozinhos e devem encontrar a forma de viver em sociedade. Sim, comecei a me ocupar também do nosso destino depois de voltar vivo dos campos de concentração. Ousei colocar em dúvida o ensinamento recebido, que, quando jovem, eu aceitava como verdade indiscutível quando, ao invés, ela era, como eu descobri, totalmente discutível. (...)
A minha posição é análoga à do amigo Stéphane Hessel, caro amigo infelizmente falecido. Quando perguntaram ao grande escritor Mario Rigoni Stern (FOTO ABAIXO)o que era para ele a religião, ele respondeu: "Deter-me em silêncio no bosque". Era o que eu fazia quando caminhava entre as árvores no caminho que sobe ao planalto cársico. Agora sou mais modesto e, de manhã, me recolho diante da infinita expansão do mar."
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