quinta-feira, 24 de abril de 2014
Meu céu particular
Em tempos bastante remotos o homem das cavernas desenhava o animal que queria caçar , acreditando "capturar sua alma " e ,com isso , facilitar a caçada . Naquela remota época a expectativa de nossos ancestrais mal chegava aos 40 anos . Tão antiga quanto a crença no sobrenatural é a crença em uma outra vida após a morte . Misturando criatividade , bom humor e um pouco de filosofia , na crônica de hoje HILTON GORRESEN comenta sobre como seria a vida no além . CONFIRA :
"A ideia de um lugar no Universo( ou fora dele ) onde receberiam depois da morte uma recompensa pelos atos praticados ,existe desde tempos imemoriais ( que belo lugar- comum ) . Para os gregos era o Olimpo ,
para os nórdicos , o Walhala ,
para os índios americanos os sagrados campos de caça .
Diferentes crenças e religiões interpretam e até imaginam esse local - o céu - de diferentes modos .
Se o céu vem se enchendo de 'boas almas ' , sem rodízio delas , desde o tempo da Criação , deve ser um local deveras extenso para receber tanta alma . Qual será então o tamanho do céu ? Sua imagem padrão é a de um conjunto de nuvens sobre as quais flutuam os bem - aventurados ,
executando harmoniosas melodias numa harpa .
E eu , que não sei tocar harpa , o que farei nessas incontáveis horas livres na eternidade ?
Se permitirem dar minha opinião , acho que o céu deveria ser um domínio pessoal , diferente para cada pessoa , conforme seus gostos e sua personalidade . Um céu particular . Quem gosta de navegar , faria jus a um extenso oceano , limpo de ondas e tempestades , com um vento fresco e acolhedor .
Quem gosta de futebol , já se instalaria em um campo com impecável gramado , onde assistiria a uma sucessão infindável de jogos e campeonatos .
Os ' dons- juans ' , se é que essa categoria merece o céu , cairiam num harém com lindas odaliscas , gueixas e índias de Hollywood .
Meu céu particular seria ambientado na Paris do começo do século 20 ( FOTO ABAIXO ) , numa eterna primavera , com suas luzes , jardins , bulevares e velhas edificações .
Moços de chapéu de palheta fariam serenatas debaixo de românticos postes com lampiões .
Cinemas semelhantes a palácios , com uma monumental sala de entrada , exibiriam os filmes que eu gostaria de ver e que nunca foram produzidos .
Moças com luvas e grandes chapéus passeariam , à tarde , em carruagens pelos bulevares floridos .
Almas de grandes escritores perambulariam pelos bares , restaurantes e livrarias .
Jornais publicariam os derradeiros capítulos dos folhetins de Balzac , ( FOTO ABAIXO )
Dumas ( FOTO ABAIXO )
ou Eugene Sue . ( GRAVURA ABAIXO )
Músicas típicas parisienses , cantadas por Edith Piaf ( FOTO ABAIXO )
e Maurice Chevalier ( FOTO ABAIXO )
( não há problema na mistura de épocas , pois o tempo no céu não tem existência ) .
Haveria bosques ( adoro a palavra bosque) com antiquíssimos carvalhos e caminhos pejados de folhas secas .
Moinhos com pás de madeira à beira de regatos , com gansos correndo pela vegetação amarelada , como num quadro impressionista .
Mais não descrevo para não despertar inveja ; mas vá preparando sua opção , quem sabe o Criador resolve acatar minha sugestão . "
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