quinta-feira, 3 de julho de 2014

Um Camelô Na Praça

Ele nasceu no bairro da Lapa , reduto da boemia e da malandragem carioca , filho de mãe turca e pai grego . De família modesta , começou a trabalhar na adolescência , vendendo canetas . Esta é uma breve descrição dos primeiros anos de vida de SENOR ABRAVANEL , ou melhor , SILVIO SANTOS . Ele também já foi pobre e chegou a ser camelô e a história de seus primeiros anos de vida é igual a de milhões de brasileiros que driblam as dificuldades da vida com muita esperteza e criatividade para sobreviver , fazendo parte da chamada economia informal . Na crônica de hoje HILTON GORRESEN comenta sobre essas figuras tão presentes na paisagem dos grandes centros urbanos : OS VENDEDORES  E TAMBÉM ARTISTAS DE RUA . CONFIRA :

"Quando vi aquele pessoal todo em um círculo na praça , não pude deixar de me aproximar . Um camelô , certamente . Para mim esse vendedores de rua fazem parte do visual de cidades grandes .



 Combinam com os ruídos que vêm de todos os lados , carros , alto-falantes , locutores de porta de lojas . Praça sem camelô é triste , sem vida . E atraem passantes , choferes de táxi aguardando a próxima corrida , aposentados que se reúnem na praça e gente que sai de casa para curtir o dia de sol .



 Camelôs nascem com o dom da palavra fácil , são tagarelas , não podem deixar de falar porque as pessoas irão embora , deixando-os falando aos bancos e aos pardais da praça . Por isso se costuma dizer : Fulano fala mais do que o homem da cobra . Mas não há apenas o homem da cobra , há toda uma diversidade de 'showmans ' populares . Eles sabem criar um clima . Depois de envolver os passantes com sua conversa ininterrupta e divertida , deixam em suspenso o ator principal , o chamariz , seja passar por dentro de um arco de fogo  ou meter a mão na boca da cobra . É hora do comercial , ou seja , da venda de ugentos , pomadas e afins .



 É preciso pagar a permanência no hotel .

 Era hora do almoço . Eu pretendia ir num desses restaurantes populares , de comida caseira , outro signo de boas cidades . Adiei o almoço para dar uma olhada . Desta vez era um mágico , o único mágico de praça do país , conforme suas palavras .



 Me posicionei um pouco atrás do grupo a fim de observar melhor as pessoas . Gosto de estudar suas reações .

 As piadas e chistes do cara , provavelmente repetidas em todas as cidades visitadas , eram mais interessantes do que suas mágicas  , essas do repertório de qualquer mágico iniciante .



 Mesmo assim , impressionavam as pessoas . Procurei visualizar bem suas mãos , quando fazia desaparecer um lenço entre elas . Não consegui descobrir o truque .

 Ao meu lado , um senhor humilde ria desbragadamente  por entre meia dúzia de dentes . Crianças , interessadas no espetáculo , se postavam bem na frente do círculo de pessoas . O fulano parecia um Renato Aragão dos pobres ,



 procurando atingir todos os ouvidos com as cordas vocais já um tanto cansadas .

 Veio o indefectível truque do relógio em pedacinhos dentro de um pano preto . O jovem que emprestara o relógio sorri sem jeito  . E agora ? A platéia se diverte  . Veio a promessa de tirar um coelho dentro de outra sacola .



 Tudo ficando naturalmente para o final da sessão . Hora de vender as poções milagrosas .

 Não esperei o final . A fome estava apertando . "

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