quinta-feira, 24 de março de 2016

Doces Lembranças

Afinal de contas , de onde vem aquele ele elemento da natureza invisível , fascinante , tão poderoso e contraditório ? Em uma época em que os conhecimentos científicos ainda apenas engatinhavam , os antigos gregos tinham uma resposta bastante diferente , e fantástica , para essa pergunta : acreditavam eles que como fruto da relação entre o deus HÍPOTES ( JÚPITER , para os romanos ) e a ninfa MENAL ´PE ( na antiga mitologia greco-romana as NINFAS eram divindades femininas relacionadas os rios , fontes , de água , florestas , campos , bosques e montanhas )  surgiu uma divindade conhecida como ÉOLO , ou seja , o DEUS DOS VENTOS ......Ele vivia e reinava em um conjunto de ilhas vulcânicas conhecidas EÓLIAS ( trata-se do arquipélago de LÍPARI , ao sul do litoral da atual Itália ) e lá também teve 6 filhos e filhas , todas eles na forma de ventos . Tudo ia bem quando certo dia Eólo recebeu a visita de seu amigo ULISSES , que lhe entregou como presente ventos contrários à navegação e que estavam dentro de um ODRE ( trata-se de um tipo de vasilha feita de pele em em forma de um saco ) ; acontece que amigos de Ulisses não resistiram à curiosidade e abriram o odre , e aí houve a desgraça : isso acabou desencadeando uma série de tempestades .......Para reparar o mau que os mui amigos de seu amigo haviam feito , Eólo passou a estudar Astronomia e Meteorologia e também a aconselhar os navegantes . Além de ter motivado mais uma das fantásticas histórias mitológicas contadas pelos antigos gregos , o VENTO - esse elemento natural que pode ser suave , refrescante , agradável e por outro lado temível , traiçoeiro e destruidor - também serviu como principal fonte de inspiração para a inspiradíssima crônica de hoje , de autoria do sempre tímido e irreverente HILTON GORRESEN . Além de lembrar do vento , das sensações que ele provoca no escritor e de - cheio de saudosismo - relembrar velhas e doces lembranças de sua infância e juventude em sua São Chico natal , Hilton nos lembra da relação entre o vento e uma moça bela e graciosa , fundamental não só para a nossa existência como também para a de outras espécies animais : uma senhorita nobre chamada LIBERDADE.........CONFIRA :

"Não sei se é porque sou um sinestésico, de acordo com a

Neurolinguística ( ABAIXO ) , mas meu histórico de vida é formado por sensações.


Imagens são nuvens que se desvanecem em minha memória, se transfiguram

em sombras.

Mas me apreendo pelas sensações ( ABAIXO ) . Foram cicatrizes de alegria,

tranquilidade, euforia, vergonha, amor e humilhação que tatuaram minha

história.

O aroma de tradição e incenso nas missas solenes na infância ( AO FUNDO DA FOTO ABAIXO ESTÁ A IGREJA MATRIZ DE SÃO FRANCISCO DO SUL ) , o

clima primaveril,

o perfume de mato, os pingos de chuva na janela, o cheiro

dos gibis antigos,

 o sol de verão nas costas e nos pés descalços, os

mergulhos na água fria da Babitonga ( ABAIXO ) ,

 o odor de flores nos tapetes diante do

colégio, para as procissões,

 o correr nos quintais de terra, circundados de

bananeiras, goiabeiras e pés de ameixa, a ascensão ao primeiro emprego...(ABAIXO , O SEGUNDO DA DIREITA PARA A ESQUERDA É O ENTÃO JOVEM HILTON GORRESEN )


Minha coleção de filmes antigos é uma tentativa de lembranças, mas não

encontro neles o ponto certo que representa um menino ansioso diante das

cortinas vermelhas do Cine Marajá ( ABAIXO ) .

 Meus gibis não têm o sabor que eu

sorvia nas peripécias de seus heróis.


A única coisa que para mim permanece constante é o vento. Por que o

vento ?

Porque o vento me provoca sensações associadas a momentos de

bem-estar. Me traz momentos de intensa liberdade.

E também porque é

poético formar frases com a figura do vento : ' ...E o vento levou ' . ' O tempo

e o vento '. ' O vento será tua herança '  ( foi a minha herança também, e, pelo

jeito, vai ser a dos meus filhos ). ( ABAIXO ,A REPRODUÇÃO DE UMA "BRILHANTE TESE CIENTÍFICA " FEITA PELA IGUALMENTE " BRILHANTE " PRESIDANTA , OPS ! , PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF )


Adorava correr contra o vento de outono, sentindo-o no rosto e nos

braços. A exemplo do personagem de Titanic ( ABAIXO ) – e sem o saber – podia sentir-

me o dono do mundo.

Sempre que venta agradavelmente, vento de bom

tempo, sinto perpassar essa sensação de liberdade. Respiro fundo. Não é por

outra razão que minha concepção de Liberdade é a de uma gaivota

sobrevoando o mar, asas paradas, planando ao sabor do vento.


Talvez eu não seja o único. Vejam o Caetano Veloso ( ABAIXO ) : “caminhando

contra o vento ' ... e aquela outra música : ...' depois andar de encontro ao

vento...' .

É como romper barreiras, vencer distâncias, seja no volante de um

carro, de uma lancha, seja numa caminhada firme.


É uma forma de captar a realidade, sentir a vida no corpo.

Constatar que

a velha natureza é uma fonte de prazer, dos poucos que nos são consentidos

hoje gratuitamente.

Sim, por mais que eu tenha mudado, a sensação do

vento ( ABAIXO )  permanece a mesma de minha infância. "

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