quinta-feira, 17 de março de 2016

Voar , Voar.....

Há 8 dias atrás comemorou-se o centésimo sexagésimo quinto aniversário da fundação de Joinville e , além de celebrações e acontecimentos como as reinaugurações do maravilhoso Mirante do Boa Vista ( ABAIXO ) e do velho e pequeno ginásio Abel Schultz ,

 mais uma vez - e com inteira justiça - relembrou-se aquele pioneira leva de empobrecidos e sofridos imigrantes "alemães " , suíços e noruegueses que a partir daquele longínquo 9 de março de 1851 transformou uma clareira ( ABAIXO ) - feita , diga-se de passagem , por uma família "alemã " e outra sueca estabelecidas na região desde 22 de maio do ano anterior -

  em meio a uma mata em local quente , úmido e lodoso em uma das mais ricas , progressistas , industrializadas  e conhecidas do Brasil .......( ABAIXO , FOTO DA RUA DO PRÍNCIPE TIRADA EM 1913 )

Sem querer tirar o mérito daqueles heroicos imigrantes , muito pelo contrário , mas como você deve saber a primazia não coube a eles : estima-se que já vivessem na região em 1851 entre 600 e 900 pessoas , sendo uma população constituída de fazendeiros , pequenos agricultores e seus escravos , isso sem contar os índios .......( ABAIXO , PLÁCIDO OLÍMPIO DE OLIVEIRA , PREFEITO DE JOINVILLE ENTRE 1930 E 1932 E MEMBRO DE UMA DAS MAIS ANTIGAS FAMÍLIAS LUSO-BRASILEIRAS DA REGIÃO )

O fato de parte da região já ser ocupada fez com que entre 1845 e 1846 um grupo encarregado de demarcar as terras do casal de príncipes , e que era liderado pelo político e engenheiro militar lagunense JERÔNIMO COELHO ( 1807-1860 - ABAIXO ) , deixasse de fora da demarcação essas propriedades .

 O fato de ter ficado de fora do território da colônia Dona Francisca ( ABAIXO , MAPA DA COLÔNIA , FEITO EM 1853 )  fez com que o isolamento dessa população , chamada de luso-brasileira , aumentasse ainda mais , embora tenham tido uma importância fundamental no surgimento e desenvolvimento de Joinville : não só chegaram a ceder escravos para a condução dos imigrantes europeus em canoas pela baía da Babitonga e rio Cachoeira , como contribuíram com os seus conhecimentos da região no processo de adaptação dos imigrantes e ainda lhes abasteciam com produtos agrícolas e frutos do mar .

 Diante disso , AFINAL QUANDO TERIA INICIADO A COLONIZAÇÃO DE JOINVILLE  ? Infelizmente , além do isolamento , quase todos os luso-brasileiros eram analfabetos e a respeito deles existem muito poucos registros escritos . O mais provável é que a história de Joinville tenha iniciado junto com a da vizinha e histórica São Francisco do Sul , naquele 23 de março de 1658 : existe uma hipótese , NÃO COMPROVADA , de que o fundador da vizinha cidade - o português MANOEL LOURENÇO DE ANDRADE - a princípio não teria fundado uma vila na ilha mas sim no que hoje seria o bairro Paranaguamirim ( ABAIXO ) ..........

Suposição à parte , uma dos " berços " e mais antigas regiões de Joinville leva o nome - de origem indígena -  justamente do rio  abastece cerca de 70 % de sua população .......Até mesmo os estudiosos se dividem quanto ao significado do nome : para alguns CUBATÃO , significa " terra montanhosa ou morro " ; para outros significa "barro que se torna duro " e há ainda quem defenda a hipótese de que o nome venha de um árvore chamada CUBATAN , conhecida por sua durabilidade e resistência .( ABAIXO , ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DA COMPANHIA " ÁGUA DAS ÁGUAS DE JOINVILLE "  ÀS MARGENS DO RIO )

        Se você pensou que os primeiros habitantes daquela região foram os portugueses , errou : foram os SAMBAQUIANOS ( ABAIXO ) , aqueles remotos , enigmáticos e ainda pouco conhecidos povos que viveram antes mesmos dos índios e ocuparam uma larga faixa litorânea entre os atuais Estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul .

 Aliás , o Cubatão é uma das regiões de Joinville com maior número de sambaquis : existem ali 8 sítios arqueológicos ( ABAIXO , SAMBAQUI CUBATÃO I ) .

 Em relação aos portugueses , é provável que tenham chegado à região lá pela metade do século 18 , e isso inclui alguns imigrantes oriundos do arquipélago de Açores ( ABAIXO , A ILHA DE SNATA MARIA , INTEGRANTE DAQUELE ARQUIPÉLAGO )  e entre as famílias mais antigas do lugar estão os OLIVEIRA CERCAL , os CIDRAL , os BUDAL ARINS , os GONÇALVES DE ARAÚJO e os COSTA  . Embora - assim como em outras regiões rurais - ali também estivessem presentes a modesta agricultura de subsistência e a criação de animais domésticos , como vacas , bois , galinhas e porcos ,

 o que movimentava a economia daquela distante , pequena e então isolada região era o cultivo da cana-de açúcar e consequentemente as produções de açúcar ( adquirido em sua maior parte pela USINA SANTA CATARINA - ABAIXO - , localizada em Pirabeiraba  e que a princípio pertenceu ao irmão do Príncipe de Joinville : o DUQUE D ´AUMALE )

e cachaça . Por sinal a região chegou a ser maior produtora da apreciada e brasileiríssima bebida em Joinville : existiram ali 15 alambiques ( o único ainda hoje existente pertence à família Oliveira Cercal - ABAIXO ) e , além de ser vendida no centro de Joinville , também era comercializada na vizinha São Francisco , para a qual era conduzida através de canoas .

 Em grau menor vinham o cultivo e comercialização de arroz ( comprado pela LANGE , COLIN E COMPANHIA LIMITADA ) , leite , ovos , manteiga e queijo ( também comercializados em São Francisco ) . Generoso , o barrento rio Cubatão ( ABAIXO )  oferecia aos moradores locais diversas espécies de peixes , como tainhas , tainhotas , robalos , carás e cascudos .

Tão generosa quanto o rio era mata local : ali vivia uma considerável quantidade de animais , como onças , antas , porcos-do-mato , gambás ( ABAIXO )  e tamanduás-bandeira

e ainda espécies que eram caçadas pelos moradores , como jacupembas , veados , pacas , tatus e capivaras ( ABAIXO ) .

Como ninguém é de ferro , é claro que aqueles poucos moradores também se divertiam ........Quem hoje trafega por uma das principais ruas da região , DOROTHÓVIO DO NASCIMENTO ( ABAIXO ) , sequer imagina que um dia esse nome já foi sinônimo de diversão , ou melhor , de bailes : o único salão do lugar , o SALÃO GENEROSO , pertenceu ao homenageado bem como um de seus únicos estabelecimentos comerciais e ainda um alambique ( outro estabelecimento comercial existente no lugar era um comércio de secos e molhados pertencente a um certo Gonçalves de Araújo ) .

       Assim como em outras regiões de colonização e presença portuguesas antigamente era dançada ali , mais especificamente nos bailes  em casa de moradores , um tipo de dança conhecido como FANDANGO ( ABAIXO ) e que geralmente era animada por dois violeiros e dois cantores , com as festas de casamento se estendendo por dois dias .

A comodidade do luz elétrica chegou ali na década de 30 , mas a princípio apenas para algumas poucas , privilegiadas e abonadas famílias . Em 1992 a grande maioria dos moradores locais ainda utilizava água de poço , com o abastecimento de água encanada se resumindo a moradores próximos ao aeroporto ou residentes na praia da Vigorelli ( ABAIXO - o nome veio de uma empresa paulista de construção naval instalada na região na década de 70 )  . Felizmente , em 2008 a situação já era completamente diferente : cerca de 80 % da população local já tinha acesso à água encanada  .

Outra curiosidade relacionada ao passado rural do Cubatão : os plantios de arroz , milho e aipim , bem como a capinação das plantações e a produção de farinha de mandioca em uma rudimentar moenda conhecida como TIPITI ( ABAIXO ) , ocorriam em regime de mutirão e ao término desses trabalhos dançava-se o fandango.......

É óbvio que não dá para falar , ou escrever , sobre o Cubatão sem citar o AEROPORTO ( ABAIXO ) , inaugurado em 1942 : justamente no local onde ele se encontra existiu uma pequena  escola e consta também que mesmo antes da fundação oficial de Joinville ali também existiu uma fazenda pertencente a JANUÁRIO DE OLIVEIRA CERCAL , que empregava mão-de-obra escrava ( 60 escravos teriam trabalhado ali )........

Oficialmente , como um bairro , o Cubatão , ou Vila Cubatão , é bem recente : foi criado pela lei municipal número 54 , de 18 de dezembro de 1997 . Um dos mais distantes ( fica a 10,38 quilômetros do Centro - ABAIXO , IMAGEM AÉREA DA REGIÃO  )

e menores bairros de Joinville ( tem uma área de apenas 0,36 quilômetros quadrados ) , é também o terceiro bairro menos populoso da cidade : segundo o último Censo do IBGE , realizado em 2010 , tinha apenas 933 moradores , só perdendo para a Zona Industrial 2 e o bairro Dona Francisca ........Que tal ver o Cubatão do céu ? Convidamos você para uma interessante viagem : no vídeo do dia um helicóptero decola do aeroporto de Joinville e nos brinda com imagens maravilhosas não só do Cubatão como dos vizinhos bairros Aventureiro e  Iririú ( ABAIXO )  .........QUER EMBARCAR ?


Um comentário:

  1. Luciano, bom lembrar dos luso brasileiros, especialmente do meu heróico tio avo Placido Olimpio :D já estávamos aqui antes da colonização alemã, ainda q predominantemente brancos os luso brasileiros eram acima de tudo brasileiros, o q eles tinham de português se tornou parte desta liga de diversas culturas que se uniram para formar o brasileiro. O tio Plácido casou com Teresa Schlemm nossa saudosa tia avó por afinidade, ponto interessante da história joinvilense a ser pesquisado: a miscigenação entre luso e teuto brasileiros começou com as lideranças sociais e politicas da cidade, é uma hipótese q eu levanto. Missão para os nossos historiadores descobrirem. Fica a dica meu amigo historiador. Continue o seu inspirador trabalho :D

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