Os números e os fatos são realmente de impressionar e de deixar com qualquer um de "queixo caído " : 7.500 trabalhadores , 100 empresas ( 27 delas são multinacionais de 10 países distintos ) , um PIB ( a soma dos valores de tudo o que produz ao longo de um ano ) de aproximadamente 2,53 bilhões de reais e que por sua vez representa 2,65 % do PIB catarinense , uma quantia média de dinheiro movimentada por ano superior , por exemplo à da cidade de Criciúma ( ! - ABAIXO ) , avenidas urbanizadas , um tipo de paisagismo que privilegia o PEDESTRE ( com calçadas , bancos e coberturas floridas ) , núcleo de EDUCAÇÃO AMBIENTAL , programa " ATLETA DO FUTURO " ........
É incrível mas não estamos nos referindo a alguma cidade catarinense ou a algum tranquilo e desenvolvido município dos Estados Unidos , do Canadá , da Austrália ou da Europa mas sim a um dos maiores complexos empresariais do Brasil - PERINI BUSINESS PARK ( ABAIXO ) - localizado após o distrito industrial de Joinville e em meio ao caminho rumo ao distrito de Pirabeiraba , e olha que os números que acabamos de citar são referentes a 2012 !
Os números e fatos grandiosos de apenas um complexo industrial são apenas uma gigantesca mostra do formidável poderio econômico de Joinville mas , afinal de contas , DE ONDE SURGIU ESSE PODERIO ? A origem desta pergunta remonta à cidade portuária norueguesa de TRONDHEIM ( ABAIXO - até hoje uma das principais cidades daquele país e sua capital durante a Idade Média ) e mais precisamente à longínqua data de 4 de novembro de 1850 :
do porto local partiu um navio veleiro chamado "SOPHIE " , liderado por um jovem capitão "alemão " de 26 anos conhecido apenas como LESSEN e transportando 120 esperançosos homens , oriundos das mais diversas regiões da Noruega e que haviam adquirido o próprio navio , fabricado em Hamburgo ( ABAIXO , VELEIRO NORUEGUÊS DO SÉCULO 19 , SEMELHANTE AO " SOPHIE " ) . Na época a Europa entrou em polvorosa : chegou a notícia de haviam sido encontradas minas de ouro na Califórnia , territória que até há pouquíssimo tempo pertencera ao México ......
Aquela notícia soou como uma música nos ouvidos daquele grupo de noruegueses : além de viverem em um país localizado em uma das regiões mais inóspitas e isoladas do mundo , a Noruega era naquela ocasião um país pobre , rural e atrasado ( consta que na primeira metade do século 19 havia próximo ao PALÁCIO REAL - ABAIXO - , em Oslo , algo que no Brasil seria semelhante a uma favela e já em 1825 um navio zarpou do porto de Oslo rumo aos Estados Unidos levando emigrantes ) e imigrar para a Califórnia era não só a chance de enriquecer como praticamente uma forma de garantir a sobrevivência longe das misérias de seu país ( não lembra um certo país em que se fala português ? ) .
Para infelicidade e azar daquele grupo , apenas alguns poucos deles conseguiriam chegar ao destino : quando o navio estava nas proximidades do Rio de Janeiro acabou sendo atingido por uma pavorosa tempestade ,digna desses filmes do gênero "catástrofe " tão na moda ultimamente 9 antes já haviam enfrentado uma tempestade nas proximidades do litoral da Escócia ) : felizmente não houve mortes e mesmo seriamente danificado o navio ( ABAIXO ) conseguiu chegar e atracar no porto do Rio de Janeiro , depois de quase 3 meses de viagem em alto mar e mais mais precisamente em 26 de janeiro de 1851 e foi na então capital do então império do Brasil que mais uma vez a "sereia " acabou enfeitiçando aqueles noruegueses .......
A "sereia " dessa vez foi representada pela SOCIEDADE HAMBURGUESA - empresa que colonizaria e lotearia Joinville - e foi personificada na figura nada atraente de um homem de meia idade : o cônsul da república de Hamburgo no Rio de Janeiro ( algo que é sempre válido lembrar : a Alemanha só surgiu como um país unificado em 1871 ) e representante da empresa de Hamburgo , HERMANN LIEBICH .....Os noruegueses que aceitaram dar "um tiro no escuro " , ou melhor , ir para a desconhecida COLÔNIA DONA FRANCISCA - " o lugar de terra extremamente fértil , como um jardim ou um paraíso onde toda a vegetação prosperava ", segundo propaganda da Sociedade Hamburguesa ( ABAIXO , O SEU PRINCIPAL ACIONISTA : CHRISTIAN MATHIAS SCHROEDER ) -
acabaram sendo divididos em 2 grupos e embarcados em 2 PATACHOS , ou seja , em dois pequenos tipos de embarcações costeiras ( ABAIXO ) : o grupo maior - 61 homens - viajou a bordo do patacho "MARRECO " e o outro - 13 homens - foi no patacho " GLÓRIA DOS ANJOS " ( curiosamente esse grupo não tinha a intenção de permanecer na colônia Dona Francisca e , certamente decepcionados com o que viram aqui em terras de Dona Francisca , acabaram retornando ao Rio de Janeiro em 28 de março , não fazendo parte oficialmente da lista de imigrantes-fundadores de Joinville ) . Segundo pessoas que pesquisam esse tema , os noruegueses vieram para cá pensando tratar-se de São Francisco da Califórnia e não de São Francisco do Sul ......
Verdade ou lenda bem humorada , o fato é que aqueles noruegueses teriam muita importância no surgimento de Joinville : está certo que em fins de 1852 apenas 9 deles decidiram permanecer por aqui mas a maioria das casas da colônia ( ABAIXO ) - se não todas - foi construída por eles e sendo mais pobres e menos instruídos que "alemães " e suíços e de cultura e língua completamente diferente deses , faziam os serviços mais pesados , trabalhando como pedreiros , carpinteiros , marceneiros e derrubadores de árvores , mesmo que muitos deles não exercessem essas ocupações na Noruega .....
Todos eles eram luteranos , a maioria era solteira , quase todos eram jovens ( apenas 7 noruegueses tinham mais do que 45 anos ) , agricultores ou operários , para ciúme das "alemãs " tinham predileção pelas suíças ( a fonte dessa curiosa informação é o valosíssimo e polêmico livro " SUÍÇOS : O DUPLO DESTERRO , lançado em 2003 e de autoria do ótimo historiador joinvilense DILNEY CUNHA- ABAIXO ) ,
não tinham sobrenomes ( eles só surgiram na Noruega no fim do século 19 : geralmente os "sobrenomes " eram nomes das fazendas onde trabalhavam e em outros casos os pais seguiam determinadas regras para batizar cada um de seus filhos fazendo com que a cada geração o nome da família mudasse ) e na verdade um deles era sueco ( era o padeiro PETER GUSTAV PETERSEN : casou-se com a suíça BÁRBARA MUELLER , deixando uma numerosa descendência - incluindo a futura primeira-dama de Joinville , LILY FREITAG - e falecendo esmagado por uma árvore - que horror ! - em 22 de janeiro de 1857 , aos 40 anos ; no valioso acervo do MUSEU NACIONAL DE IMIGRAÇÃO E COLONIZAÇÃO existe uma foto sua- ABAIXO , A ANTIGA " RUA DO NORTE " - HOJE JOÃO COLIN - , LOCAL ONDE ELE VIVIA ) .......
Outra curiosidade : se o navio que levou os noruegueses de seu país era "alemão " , a famosa "BARCA COLÓN" ( ABAIXO ) era de fabricação norueguesa ( dos famosos 118 imigrantes que vieram a bordo dela , 75 eram suíços ) : foi construída na cidade de KRAGEROE em 1850 , chegando a ser utilizada na GUERRA DA CRIMEIA - entre 1853 e 1854 ( a guerra envolveu Rússia , Turquia , França e Reino Unido ) - e infelizmente naufragando em 1863 , em local ignorado .
E coube justamente a um grupo de noruegueses criar o PRIMEIRO EMPREENDIMENTO INDUSTRIAL DE JOINVILLE : UMA OLARIA.......Infelizmente os nomes desses noruegueses pioneiros são desconhecidos , exceto um : ROLF LYNG , um jovem então com 26 anos e que era operário na Noruega .
A olaria estava localizada em uma região mais ao sul e afastada da colônia , próxima a um morro e não muito distante de um portos da colônia , onde hoje está o MERCADO PÚBLICO MUNICIPAL ( no local da olaria hoje existe o prédio onde funciona a COMERCIAL PESCAÇA- ABAIXO ) . Embora os noruegueses tivessem logo desistido da olaria ( a primeira produção de tijolos saiu queimada pelo fato dos imigrantes desconhecerem o tipo de solo da região ) , ali também surgiu o que poderia ser considerada a primeira vila operária de Joinville : além das suas instalações e de ranchos também existiam moradias no local .
Mesmo coma saída dos noruegueses , o já citado Rolf Lyng continuou a ser o responsável pela olaria e a sua morte , em 11 de outubro de 1851 , de certa maneira pode ser considerada também a primeira perda sentida e o primeiro fato triste da história de Joinville .....Outros fato curioso sobre esse local : em 1836 , portanto 15 anos antes da fundação oficial de Joinville , uma família de brasileiros que vivia exatamente naquele local acabou sendo trucidada durante um ataque indígena . MAS , AFINAL , QUEM ERA ESSA FAMÍLIA ? VIVIAM EM UMA FAZENDA COM AGREGADOS E ESCRAVOS ? O QUE PRODUZIAM ? OS AUTORES DO MASSACRE FORAM MESMO OS ÍNDIOS ? Infelizmente as respostas perderam-se nas brumas do tempo e talvez jamais veremos a sabê-las .......
Se a primeira indústria foi uma criação dos noruegueses , o primeiro grande empresário veio a bordo do veleiro "GLORIOSA" , que chegou a São Francisco em 27 de setembro de 1851 depois de mais 2 meses de viagem ( a embarcação saiu de Hamburgo em 19 de julho ) : o veleiro de 2 mastros e e que era um dos mais rápidos da época ( ABAIXO , EMBARCAÇÃO NORTE-AMERICANA DO SÉCULO 19 , SEMELHANTE AO "GLORIOSA " ) , trouxe uma leva de imigrantes de perfil completamente oposto à daqueles de 9 de março e entre seus 75 passageiros estavam 8 militares , 2 engenheiros , 1 médico, 1 advogado , 2 teólogos , 1 professor , 7 economistas , 5 comerciantes e 2 naturalistas .Tendo apenas 20 anos de idade e sendo acionista da Sociedade Hamburguesa ( é provável que a maioria dos 31 lavradores a bordo do "Gloriosa " fosse de empregados dele ) , curiosamente consta na lista oficial do navio que a profissão de BENHARD POSCHAAN JUNIOR era a de LAVRADOR !
Ele acabou adquirindo dois lotes - de números 36 e 36 a - e foi justamente a partir deles que teve início a abertura de uma picada , mais tarde transformada em rua ( com investimentos da própria direção da colônia pois durante certo tempo a olaria foi a única de Joinville ) . O nome escolhido para a nova rua era até óbvio - "ZIEGLEISTRASSE " ( ABAIXO ) , ou " Rua da Olaria " ( muitos também a chamavam de "Rua das Fábrica de Telhas " ) - e pode-se dizer que também o TURISMO DE JOINVILLE nasceu ali : os poucos moradores da colônia costumavam fazer seus passeios dominicais naquela rua .....
Ainda em 1851 o próprio Poschaan compraria a olaria , então pertencente à própria direção da colônia , pela bagatela de 1 conto e 100 mil-réis - uma fortuna naquela longínqua época - e em janeiro de 1852 começaria a realizar naquele mesmo local as primeiras agrícolas com arados à tração animal ( Poschaan também foi proprietário do primeiro grande empreendimento rural de Joinville , que localizava-se ao final da atual rua XV de Novembro - ABAIXO , EM FOTO DE 1866 , ÉPOCA EM QUE ERA CHAMADA DE "MITTELWEG " , OU "CAMINHO DO MEIO " ) .
Passariam-se várias décadas até que a já velha Ziegleistrasse mudasse de nome e adquirisse a sua denominação definitiva , datando provavelmente da época da morte do PRÍNCIPE DE JOINVILLE ( ele faleceu em em Paris , em 17 de junho de 1900 , vítima de tuberculose e à 2 meses de completar 82 anos de idade - ABAIXO , EM FOTO DATADA DE 1852 ) o seu atual nome : RUA DO PRÍNCIPE ......
Embora essa importantíssima e antiga rua ( ABAIXO ) seja um dos mais fortes ícones da cultura e da identidade de Joinville , tenha a maior concentração de prédios antigos da cidade e tenha sido palco de quase todos os fatos históricos mais importantes de Joinville , lamentavelmente e salvo engano , faltam estudos , pesquisas e trabalhos mais aprofundados que resgatem a sua história ( ALÔ HISTORIADORES DE JOINVILLE : ESSE RECADO É PARA VOCÊS ! ) ......
Uma das marcas registradas dessa importantíssima via são as manifestações e festas religiosas que lá acontecem : percorrer a Rua do Príncipe no dia de CORPUS CHRISTI ( ABAIXO ) , por exemplo , equivale a visitar uma galeria com PRIMOROSAS obras de arte ! E para deleite dos leitores do ALAMEDA CULTURAL , o vídeo do dia mostra um pouco de uma dessas maravilhosas obras de arte , por ocasião do dia de Corpus Christi de 2009 e fruto da imaginação , criatividade e religiosidade populares ......
Ah , para deleite ainda maior trazemos também mais 3 fotos antigas da histórica RUA DO PRÍNCIPE ! VALE A PENA CONFERIR !
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