segunda-feira, 25 de julho de 2016

Uma Recordação Diferente

Você está a fim de fazer uma pequena viagem no tempo ? Mesmo que a memória não seja muito o seu forte lhe pedimos que faça um esforço : AGORA PROCURE SE LEMBRAR DE ALGUM FATO QUE TENHA MARCADO A SUA VIDA ......E aí , já se lembrou ? Certamente o fato que você acabou de se recordar ou que ainda está se recordando no exato instante em que está lendo estas mal escritas linhas foi relacionado a IMAGENS : o poder delas é tão grande que os chineses já há milhares repetem uma curta , certa e conhecidíssima frase do conhecimento de todos , "UMA IMAGEM VALE MAIS DO QUE MIL PALAVRAS ".......E se você tentasse recordar esse fato tão importante em sua vida de outro modo : através dos CHEIROS ? Bom , existem motivos fortes para isso  : nós somos capazes de reconhecer 10.000 TIPOS DE ODORES ( ! ) , sendo que em nosso nariz existem 50 milhões de células com as funções de recebê-los  e identificá-los .....Ainda a respeito disso , outro fato curioso : a BAUNILHA é uma das substâncias mais facilmente identificáveis pelo odor , sendo , por exemplo , 1.000 vezes mais forte que o cheiro de óleo de alho e 15.000 vezes mais forte que o da raspa de limão !  E é justamente a partir dos cheiros guardados em sua mente que o escritor DONALD MALSCHITZKY relembra momentos marcantes de sua longa trajetória de 64 anos de idade , experiência e aventuras  : politizado e extremamente crítico , ele anda ultimamente bastante inspirado ( será o AMOR ? ) e nos brinda neste princípio da última semana de julho com um maravilhoso texto , misto de filosofia e poesia .......CONFIRA ! 

"Das casas de minhas avós ( ABAIXO ) , baús e baús de emoções

provocadas pelo olfato e pela atmosfera :


a luz fraca na noite no

curral ( ABAIXO ) mal iluminava as vacas com seus odores de couro e pasto,

misturado com o cheiro da ração cortada

e de leite morno

espirrando para o balde ( ABAIXO ) , das batatas doces cortadas para o gado e

que comíamos com sal grosso também ao gado destinado, e

éramos primitivos.


Cheiro de mistério entre os tecidos deixados no sótão

 com

suas histórias. A acidez exalada do requeijão

 deixado escorrer,

embrulhado em pano e pendurado e a mistura com o respirar de

assepsia provocado pelos panos brancos e a manteiga

e a

atmosfera levaram a, um dia, fazer da cozinha amiga inseparável.

Na outra vó, a fragrância da palha de milho, do mate cortado,

da fumaça da lamparina,

da banha de porco na fritura

pavimentavam os caminhos de volta para um tempo já evaporado

da cidade.


Nas duas, a aventura no cheiro do pasto,

 do taquaral, dos

capões de mato, da fumaça da sapecada de pinhão,

 do barro

úmido.

De infância, ainda, os odores de magia no cheiro de pinheiro

de Natal,

e nele, o que ficava da vela acesa e depois de apagada,

dos sonhos que a mãe fazia, da capa de chuva quando tirada da

embalagem, do primeiro tênis, do livro novo

quando começavam as

aulas e da cola usada para colar as capas dos cadernos, do lápis

ao ser apontado, do metal da primeira caneta tinteiro e de sua tinta,

da primeira Conga com bico emborrachado.


Persistem, ainda, os cheiros de deslumbramento da

descoberta diária do mundo na mistura de cheiros de café,

óleo e

cobertor impregnado de maresia nos tempos de mar de

subsistência, do que fica na pedra molhada pela onda, da areia da

praia pela manhã, da corredeira, do rio manso na campina, do rio

imerso na mata, do vento sul que traz frio,

da geada a secar as

narinas, da chuva na grama, da grama recém-cortada, do tempero

amassado na mão, do livro velho quando aberto, da gaveta de

lembranças.


Houve um tempo em que cavalgava, melhor: andava a cavalo,

pois nem trote conseguia controlar, e o cheiro de cavalo era

sinônimo daquela paz

 que se sente ao esquecer os problemas,

assim como o de comida sendo preparada é o abraço olfativo de

' carpe diem ' .


E há os odores de doce responsabilidade dos filhos quando

nenês

e de preocupação quando adolescentes, diferentes daquele

emanado dos netos,

que misturam alívio e apreensão.

De todos, o inexplicável, que vem de você, quando você volta. "

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