quinta-feira, 30 de setembro de 2021

METE BRONCA , DODÔ !!!!

" Mal a manhã empurra a madrugada para o oeste, começa a cantoria do sabiá laranjeira ( ABAIXO ) , sobrepondo-se aos cantos dos outros pássaros e até aos sons intrusos dos seres humanos com sua habitual falta de cuidado e consideração. Canta para marcar território e para namorar, e assim passa as horas do dia até que a luz se esconda. Não esmorece, é cantando que garante a continuidade de sua espécie.
Sabiás ( ABAIXO ) e humanos têm similaridades de comportamento, especialmente aqueles humanos que usam a garganta para se impor sobre os demais e que não conseguem calar a boca nem nos momentos mais solenes, só que o canto dos pássaros é agradável e pode trazer paz.
Curiosamente, reagimos de forma parecida a agressões do meio : há um tempo, na cidade de São Paulo, os sabiás ( ABAIXO ) começaram a cantar de madrugada, indo algumas horas noite adentro. O Instituto Passarinhar, após longo estudo, descobriu a razão : stress, devido ao barulho e à agitação da cidade grande, ficam estressados e perdem o sono.
Vivemos no meio de um turbilhão de tensões, incertezas, medos, restrições pelo enfrentamento da pandemia. Se nunca o dia de amanhã foi certo, se a morte sempre foi a única certeza, agora o amanhã incerto é o que vem ao acordarmos no meio da noite ( ABAIXO ) e a morte é palpável nos noticiários, presente nos telefonemas, assunto banal nas conversas, para lembrar de quem se foi, precisamos de números.
Já não sabemos o que dizer, se é ' meus pêsames ' , ' condolências ' , ' sinto muito ' ou ' um abraço sentido ' , que sabemos não poder dar, mas nada faz muito sentido. Endurecemo-nos para seguir o tempo que nos resta em sua incógnita. Aprisionamos nossa solidariedade para não nos expormos. Do nada, mergulhamos na tristeza que escondemos ( ABAIXO ) , e voltamos a lembrar que não somos fortes.
Há os que não seguem os cuidados fundamentais, não falemos deles, mas dos que se cuidam : quantos projetos foram empurrados para depois ou bem depois ? Serão realizados ? E a pergunta mais doída: haverá tempo ( ABAIXO ) ? Ouvi de um amigo que ouviu de outro :
' Muitos idosos não terão mais tempo para usufruir da situação pós-epidemia, incontáveis oportunidades passaram e não voltarão para eles, a perda é definitiva. ' Pior do que deixar de viajar é saber que não é mais possível viajar. A nós, os navegantes nessa atmosfera opressora de stress e depressão, cantar adianta ? Conseguiremos ? "

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