Algumas pessoas contam sua história através de livros , outras através de íntimos diários , tem aqueles que contam através de canções ; já outros como a poetisa RITA DE CÁSSIA ALVES resolvem contar através dos versos ....... .. CONFIRA :
"Descanse seus olhos sobre estas linhas ,
ou pouse a ponta dos dedos no lado das letras .
O que vou contar diz respeito à criança que estou , mimada sem pressa .
Aos seis anos , diante do carro de bonecas , brinquedos e jogos de montar desfilavam nas mãos dos meninos e meninas , deslumbrados pela oferta natalina .
Escolhi o minal . Precocemente a capa e as folhas douradas viriam antes das rezas de um Deus que me Sabia .
A primeira leitura surgiu das histórias . Inventei nomes e criei as minhas .
Bichos falavam e fabulavam em outra vida .
Pouco tempo depois , quem me curava tratou de curar as feridas que o imaginário da moça costurava .
Os fios do escritor que me chegavam às mãos criaram uma nova pele : esta seda / seda poética que se infiltrava pela derme , recitando .
Dos meus dentros amorosos , o que na veia pulsava , impulsava escritas compartilhadas .
A tapeçaria , cosida no resultado dos dias , tornou-se panorama de crônicas , romances e textos curtos em que a poesia se alongava .
Era imperioso contar o que me via e a docência nada mais foi do que a porta escancarada deste aprendizado .
Nos escritos da arte de conviver ,descobri que alunos são notas : musicais .
Deles extraí minérios e a pedra bruta da minha condição de aprendiz .
Quem diz que ensina , nem sempre se inventa .
E é preciso urgência na força mental e fragilidade na boca para receber as falas do outro .
é imperiosos o silêncio em respeito ao verbo de outrem , e esse ontem que revisito é um lapso de entrega e desvario .
Como se rio fosse , foz de rios e lodo colorindo a mulher de branco , os signos e sinais sabem pintar cenários reinventados pela delicadeza .
Hoje os nomes de quem escreve a cidade no concreto e na raiz - esta flor do asfalto que a memória dá outro caule e roupagem - abraçam todas as artes .
Amanhã , mesmo que se diga tarde para o que cedo se perpetua , ainda assim estenderei este texto-tributo , manto e ninho , aos que me acrescentam .
Dentro de mim mora a palavra , e eu contaria tudo outra vez ! "
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