segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Pai

Desde 2008 os privilegiados leitores do jornal NOTÍCIAS DO DIA  têm o prazer de conhece-lo aos poucos e compartilhar de suas manias , histórias , opiniões e lembranças ; privilégio que também os leitores do ALAMEDA CULTURAL vêm tendo desde dezembro de 2013 e no último dia 11 de julho puderam conhece-lo melhor através de mais uma de nossas mensais e já tradicionais micro entrevistas ........este é o jornalista e contador de "causos" ROBERTO SZABUNIA . Natural de Rio Negrinho , fato do qual muito se orgulha , é um dos mais experientes jornalistas de Joinville , com passagem pelos mais diversos veículos de comunicação , incluindo uma passagem pela RBS TV , então recém instalada em Joinville . Mas ele não seria o profissional que é se não tivesse um alicerce seguro e fortíssimo : o seu pai , vindo da distante e gelada Polônia . Inspirado por um antigo sucesso do ator e cantor FÁBIO JÚNIOR , certamente uma das canções mais comoventes da história da música brasileira , ele escreveu a crônica de hoje homenageando o seu já falecido pai . Em uma época em que os pais andam cada vez mais afastados de seus filhos , o texto serve como uma reflexão . CONFIRA :

" ' Pode ser que daqui a algum tempo / Haja tempo pra gente ser mais / Muito mais do que dois grandes amigos / Pai e filho talvez . '

 A emotiva canção composta e interpretada por Fábio Júnior ( FOTO ABAIXO )



 tocou dia desses em alguma emissora de rádio , enquanto eu trabalhava . Parei um pouco e me concentrei na música , que invariavelmente me leva a ter recordações de meu pai . Neste domingo ( 31 ) , completam-se desde que meu 'pai' , como chamava no tempo de criança , foi vencido pela diabetes que o vinha enfraquecendo .

 O primeiro verso da canção me fala muito de perto , pois tive de fato uma grande amizade com o Toninho , como era conhecido dos amigos em Rio Negrinho . Vindo adolescente da distante Polônia ( FOTO ABAIXO )  ,



 o mais velho dos cinco irmãos não demorou a se adaptar à nova terra - de resto , todos se aninharam tão bem que ninguém diz que minhas tias Maria e Josefa são polonesas e que os tios Zé e Ênio nasceram na Alemanha .

 Meu pai era severo , refletindo em mim a rígida educação que tivera . Colocou-me logo no melhor colégio da cidade , onde as irmãs tinham o aval da família para dar continuidade à educação - mesmo que isso , às vezes , significasse um puxão de orelhas ou uma reguada na bunda , atitudes hoje execradas mas que ajudaram minha geração a se mostrar na linha do respeito . No ginásio , logo que percebeu minha paixão pela leitura ,



 meu pai procurava me abastecer de livros - lá da distante São Paulo minha mãe fazia o mesmo , me presenteando com coleções que ainda mantenho como inestimáveis tesouros .

 Em Rio Negrinho , a oferta de livros - limitada à uma única loja - convenientemente chamada 'Confiança' - , ganhou dois consideráveis reforços com as aberturas das biblioteca pública ( FOTO ABAIXO )



e da Associação Móveis Cimo . Está bem viva em minha memória o dia em que meu pai trouxe um exemplar  de 'Ivanhoé '



na volta do trabalho . A partir dali ,  bastava eu terminar de ler um livro , pra ele trazer outro no mesmo dia  .

' Você foi meu herói , meu bandido.......'

 Na canção de Fábio Júnior , até a expressão 'bandido' faz sentido . Não é , claro , na acepção literal do vocábulo , pois meu pai , assim como o do cantor , acredito - sempre prezou a honestidade . A porção ' bandida' podia ser simbolizada no dia em que ele me ofereceu um cigarro ,



 já ciente de eu filava umas tragadas  aqui e ali , como toda a piazada da minha geração . Também dividia comigo , já quando eu entrara na fase adulta ,  os 'mercedinhos' de cachaça tomados no fim da tarde  ,



 mordiscando nacos de carne defumada que ele trazia da venda . Eram atitudes de pai amigo , sem maldade e sem a devida ciência das consequências .

 Neste 31 de agosto , prefiro me recordar dos tantos agostos  de outrora , dos livros trazidos da biblioteca , das bolas de capotão detonadas nos campinhos , da pinguinha com carne defumada , das mesadas de truco , da alegria em embalar os netos .

 ' Você faz parte desse caminho

   Que hoje eu sigo em paz . ' "

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