O cenário é a sempre bela e mágica São Francisco do Sul , a época é a distante e romântica década de 50 e os protagonistas são uma mulher misteriosa e um grupo de detetives mirins . De repente um crime agita a pacata cidade e os pequenos detetives juntam-se e mobilizam-se para tentar resolver o caso , tendo como principal suspeita uma estranha mulher . O desfecho da história ? Leia mais uma das impagáveis histórias de HILTON GORRESEN ! CONFIRA :
"Nós a chamávamos de loura misteriosa . Passava constantemente por nossa rua , o passo firme , enérgico , corpo fino , cabelos escorridos a cair sobre as costas meio curvadas . Vinha sempre com um vestido preto fechado até o pescoço e abaixo do joelho . Talvez o contraste entre o cabelo e a a roupa é que nos chamava a atenção .
A gente era viciado na leitura de gibis , como todos os garotos daquela época , e acompanhávamos os seriados de aventura no cinema . Por isso , cismamos que a loura só podia ser uma espiã enrustida . Não sabíamos de onde vinha nem para onde ia , nas tardes ensolaradas e quentes de verão , quando era preferível ficar à sombra de coqueiros , de preferência chupando sorvete .
Quando espalhou-se a notícia do assalto à joalheria do senhor Romildo ,
já imaginamos quem seria a chefona da quadrilha que praticara o roubo . Reunimos a turma , e como bons mocinhos , resolvemos solucionar o caso , mesmo enfrentando terríveis perigos . Naquele tempo , o crime não compensava . No final , a justiça sempre triunfava .
Juntamos toda a artilharia : setas , espadas de pau , canivetes , saca-rolha.....Nosso plano era seguir a loura , que certamente iríamos dar no esconderijo do bandido .
Sempre havia um de nós de tocaia . Se a loura aparecesse , era só avisar os demais . Mas passou a semana e ela não deu as caras .
Numa tarde , deixei o Gaveta vigiando e fui em casa tomar um capilé . Era o refrigerante mais popular e econômico da época .
Atravessei o corredor e , chegando sala onde minha mãe tinha um ateliê de costura , ouvi uma voz um tanto soturna .
Antes de ver , já sabia que era ela , a loura satânica .
Certamente descobrira nosso plano . Minha mãe estava em perigo . Eu não podia recuar , não dava tempo de avisar a turma . Só me restava fazer uma coisa : apalpei o canivete no bolso , pronto para entrar em ação ,
e entrei valentemente no ateliê .
A loura estava sentada ao lado da máquina Singer . Seu rosto era branco , inexpressivo , com algumas rugas ao redor dos olhos . Folheava um volume da revista Burda ,
que as freguesas utilizavam para escolher modelos de vestidos .
Quando me percebeu , levantou os olhos da revista , deu um leve sorriso de dentes amarelos e perguntou :
- É esse seu filho ?
- É ele - respondeu solícita minha mãe .
- Eu o vejo sempre coma turminha , quando vou à casa paroquial , ajudar o frei Libório .
Que será que esses meninos estão tramando ?
Droga , tinha acabado o mistério da loura . "
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