segunda-feira, 11 de novembro de 2013
Doce lembrança
Foi publicado ontem(10 de novembro) no jornal NOTÍCIAS DO DIA e o ALAMEDA CULTURAL não poderia deixar de lado......Esse local marcou época em Joinville por seus deliciosos e doces sabores e também foi um dos pontos de encontro da juventude da cidade até 1980.Por um desses preços altos e estúpidos da modernidade,especialmente em países que desprezam a cultura como o Brasil,ele foi demolido....Esta era a SORVETERIA POLAR e a demolição de seu prédio mostra mais uma vez o descaso com o patrimônio histórico!UM POVO SEM PASSADO ,ALÉM DE NÃO TER IDENTIDADE,NÃO APRENDE COM OS ERROS PASSADOS PARA LIDAR COM OS DESAFIOS DO FUTURO.Confira a seguir a reportagem na íntegra:
"Um lembra do sorvete.
Para outro, a salada de frutas com chantili era o que tinha de melhor.
Mas tem sempre aquele que não esquece do chocolate gelado, para tomar devagarinho, com canudinho.
Ou ainda do frapê de morango – quase uma passagem para o céu.
Deu água na boca? Pois é, você pode nem ter conhecido as famosas iguarias. Mas só de ouvir as histórias contadas por gerações de joinvilenses já dá vontade de voltar no tempo, rumar para a rua 15 de Novembro, entrar na Sorveteria Polar(FOTO ABAIXO) e pedir um gelado.
Três décadas depois de fechar as portas, ela ainda é lembrada com saudades por pessoas que hoje tem mais de 40 anos, e que faziam do local um ponto de encontro com os amigos.
A sorveteria funcionava na rua 15 de Novembro, ao lado de onde hoje é a Casa Bahia, bem pertinho da Harmonia-Lyra.(ABAIXO FOTO DA RUA XV DE NOVEMBRO,ESQUINA COM ATUAL JOÃO COLIN E PRÓXIMO DO ANTIGO LOCAL DA SORVETERIA,EM 1926)
A casa tinha dois pavimentos e a família de Adalberto e Wally Koch morava no andar de cima. Embaixo ficava o estabelecimento comercial. Na frente, um jardim, com mesas cobertas por guarda-sóis, cerca baixa e um caramanchão florido por cima do portão. Na parte de dentro um balcão onde o próprio Adalberto Koch, ou Nene, como era conhecido, montava os sorvetes e fazia o famoso chantili, com uma batedeira manual. 'Cansei de ver o meu tio bater o chantili. Era pequena, mas me lembro. Ele tinha um pote prateado e batia a nata com a mão. Fazia isso como ninguém, o chantili era famosíssimo', recorda aos 67 anos Lavi Mari Koch, sobrinha de Nene, que frequentou o local desde menina. 'Chantili como aquele, nunca mais comi igual', constata.
Lavi lembra que havia vários funcionários, mas Nene e Wally estavam sempre bem perto, cuidando de tudo, deixando sua marca. “O tio preparava os copos do que seria servido e atendia. Ele adorava. Ela preparava as taças de salada de frutas no balcão”. Nos anos 60, 70(ABAIXO,FOTO DA RUA DAS PALMEIRAS NOS ANOS 60)
, a Polar fazia parte do ritual da juventude, especialmente nos fins de semana. Os amigos se encontravam na sorveteria no final de tarde. Depois rumavam para o Cine Colon, o principal nesse período. Quando acaba a sessão, muitas vezes iam dançar em locais como o Clube 25, que ficava entre a rua 15 de Novembro e a 9 de Março, no último andar de um prédio. 'Nos encontrávamos na Polar para ir para estes lugares', conta.
INÍCIO DA DÉCADA DE 30:
O hábito de frequentar a Polar começou na geração anterior a de Lavi Koch. A sorveteria abriu as portas na década de 30 e já naquela época era um point da cidade.(ABAIXO,FOTO DA RUA DO PRÍNCIPE NA DÉCADA DE 30)
O começo das atividades tem duas versões. Em reportagem publicada no jornal A Notícia, em 1981, informando sobre o fechamento do estabelecimento, dizia-se que o início havia ocorrido em 1935, sob comando de Adolfo Bernardo Schneider,(FOTO ABAIXO)
guarda-livros por profissão e pesquisador da história de Joinville. No início a sorveteria funcionava na rua Visconde de Taunay, quase na esquina com a rua 9 de Março.(ABAIXO,FOTO DE 1907 DESSE LOCAL)
Só algum tempo depois é que foi transferida para a rua 15.
Na reportagem, Schneider contava como surgiram os guarda-sóis que se tornaram uma marca da sorveteria ao longo das décadas. Ele pediu ajuda a Alberto Colin, que tinha uma loja onde vendia guarda-chuvas. Desenharam, então, guarda-sóis em vime, para combinar com as poltronas do mesmo material que faziam conjunto com mesas redondas.
A princípio, os tecidos eram coloridos, com flores, para dar um ar alegre ao local. Nos últimos tempos, as mesas eram cobertas com toalhas xadrez vermelho ou verde.
O sorvete de qualidade, feito com produtos naturais, sem conservantes, e o ambiente descontraído logo caiu no gosto da juventude. Nessa época, o programa incluía os bailes da Harmonia-Lyra (FOTO ABAIXO)
ou do Club Joinville,(FOTO ABAIXO)
e as sessões de cinema do Cine Palácio.(ABAIXO,FOTO DA ENTRADA DO ANTIGO CINEMA.NESTA FOTO DE 1966,APARECEM O ENTÃO PREFEITO NILSON BENDER EO ENTÃO PRESIDENTE DA REPÚBLICA,CASTELO BRANCO)
'A juventude se reunia lá, à tardinha, aos sábados, domingos ou feriados. Íamos para nos encontrar, olhar as meninas. Eu era habituê', revela o funcionário público federal Ozório Ferreira, de 88 anos, que não perdia a chance de pedir um frapê de morango. 'O frapê era a mais deliciosa bebida da Polar. Era um espetáculo. E o sorvete, então... Nem se fala', recorda.
Alguns dias depois de publicada a reportagem com Schneider, Magino Rosenstock, de São Bento do Sul, dava uma outra versão para o início da famosa sorveteria. Segundo ele, foram seus pais, Henrique e Hedwig Rosenstock que teriam aberto o estabelecimento e o dirigido por quatro anos, no início dos anos 30. Magino, ainda menino, ajudava a família. Desde aquela época, as receitas vinham sendo mantidas em segredo e passadas para os novos proprietários.
Das mãos de Hedwig, em casa, teriam saído as primeiras massas que eram transportadas para a sorveteria para serem manipuladas – uma distância de cerca de três quilômetros. Em seu relato, Magino afirmava que a mãe passava horas no preparo das massas ,que tinham como matéria-prima produtos naturais. Segundo ele, desta época vinham delícias que fizeram o sucesso do negócio durante anos, como o 'esquimó' e a 'cassatte', por exemplo.
O certo é que até 1938 Schneider esteve à frente do negócio. Depois disso ele o vendeu para Adolfo Schramm. Consta que depois foi adquirida por Werner Altmann. Adalberto Koch, o Nene, e a esposa Wally assumiram o estabelecimento em junho de 1948 e por 30 anos trabalharam ali. Jutta Hagemann, conhecedora da história da cidade, lembra bem da Polar. 'Era uma casa, com varanda na frente. As mesas ficavam no jardim. A cerca era de ripas de madeira e, por cima do portão da entrada havia uma trepadeira florida', relembra, aos 87 anos.
Adalberto e Wally Koch fecharam definitivamente o estabelecimento comercial no final de dezembro de 1980. Não que eles quisessem – as entrevistas da época mostram que o casal resistiu à ideia de acabar com o estabelecimento que era até uma atração turística de Joinville. Segundo consta nos jornais da época, o imóvel era alugado e o proprietário, Leopoldo Niemeyer, o pediu de volta alguns anos antes. O objetivo construir um prédio no local. Assim, a Polar foi desativada e o maquinário vendido. A casa foi entregue e, depois, demolida. Ficaram as lembranças. (ABAIXO,FOTO ATUAL DO LOCAL)
DOCES LEMBRANÇAS:
'Lá eu saboreei o meu primeiro sorvete. Tinha 16 anos e estava de passagem por Joinville. Fui com meu pai e os amigos dele. Na hora levei um susto e a turma toda riu. Pensava que era quente'
WILHELM FRITZE, 81 anos
'Na Polar, faziam um chocolate gelado, com sorvete dentro e nata por cima. Colocavam em um copo comprido e a gente bebia com canudinho. Eu vivi aquilo. A juventude se encontrava lá. As amizades eram diferentes e nós íamos de tardinha. Os amigos, os primos... Era com um happy hour.'
IRMGARD VOGELSANGER, a SCHNUKA, 88 anos
'Ia tomar um frapê. O frapê de morango era a mais deliciosa bebida da Polar. Era um espetáculo. E o sorvete, então... Nem se fala. Nos encontrávamos na Polar. De lá íamos para a Harmonia-Lyra, para o dancing. Ou íamos ao Cine Palácio para a matinê dançante. Era um tempo bom.'
OZÓRIO FERREIRA, 88 anos
'Todo mundo frequentava a Polar. Aquilo era uma tradição, era gostoso. O sorvete era o máximo. Ele serviam um sorvete de creme com licor de cacau em cima... era uma delícia. Também serviam uma salada de frutas cortadas bem fininha, com nata. Era muito gostoso e um ponto de passagem. Você sempre encontrava alguém lá.'
JUTTA HAGEMANN, 87 anos
'Em 1980, quando pela primeira vez usei óculos, ao sair da ótica Pérola (onde os óculos foram feitos), minha mãe disse: quer ir onde agora? E eu, prontamente: NA POLAR! E lá fomos tomar sorvete. Era de tarde e, quando sentamos na mesa, a primeira coisa que me chamou a atenção foi a placa da Crush: eu conseguia ler tudo o que estava escrito lá! Foi o meu 'teste' definitivo para saber se os óculos estavam certinhos.
Eu sempre tomava um chocolate duplo com sorvete e nata, mas, guloso como era, quando terminava pedia mais um aos meus pais... às vezes eles me atendiam, às vezes só me deixavam tomar um copo pequeno no repeteco.'
PAULO ROBERTO DA SILVA, 46 anos."
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