sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Letras Joinvilenses: Sofá de couro

A poetisa RITA DE CÁSSIA ALVES não apenas faz poesias como também cria histórias fantásticas......na crônica de hoje ela ressalta a importância do COMPANHEIRISMO.CONFIRA: " A neta tentava contornar os diferentes compromissos para sair da selva de concreto em que se aprisionava. O Solar das Hortênsias, seu refúgio ao trancar a porta depois de dias atarefados, representava um espaço por muitos ignorado. Mabel escrevia uma outra história e sua vida pertencia ao campo, às mãos acalentadas pela solidão de um jardim. Lembrava agora de Tia Nininha(FOTO ABAIXO) e um sorriso melancólico disse sim à viagem há tanto planejada. Dois filhos, duas ausências de quem esquece a mãe feito paisagem à deriva. Sentia assim a tristeza da tia e os hiatos dos primos. Quando chegou, sabia que ela estava lidando com os afazeres do jardim. Aguardou o rosto e a resposta: seja bem-vinda, minha filha! Seu corpo aguardava o cheiro da terra e guardava campos férteis. Algo molhado teimava em cair de seus olhos, mas se conteve. Precisava daquele lugar como quem pede abrigo, e acolhida, sabia que a tia era quem exigia guarida. Pouco pedia, contentava-se com as breves presenças para as longas ausências que viriam depois. - Estás mais magra, menina. Anda se alimentando bem? - Tenho sede, tia. O saber e o sabor do que vivo matam minha fome. - E os livros? Tens escrito muito? Presta atenção nas pausas, vives em meio às buzinas e tropeços, não esqueças do verde quando olhares. Tia Nininha evita falar de si, se entretém com as novidades que lhe escapam do outro mundo. Abre a janela e lembra do amado , diante do sofá de couro, sempre acarinhado pelas palavras que ela repete: - Nada é tão grande que não possa acabar, nem a alegria e nem a tristeza. Portanto, descarregue bagagens desnecessárias: rancor, sentimento não correspondido, promessas não cumpridas, beijo roubado. Abraço aquele corpo adivinhado por instantes que dividimos. Esqueço da rotina que me impede de ficar aqui por mais tempo. Sinto o cheiro do café fresquinho invadindo os pequenos cômodos da casa. Seus abraços decoram a mesa e nos fartamos. Peço colo......"

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