Mal comparando , mas caso Joinville fosse uma pessoa provavelmente seria aquela criança de 3 anos de idade que está aprendendo a dizer as suas primeiras frases completas ( atenção papais e mamães : corrijam-nos se estivermos errados , por favor ! ) ......Em 1861 , portanto 10 anos após a sua fundação e 3 após a sua elevação a condição de distrito , ou freguesia , de São Francisco do Sul ( algo que pouquíssimas pessoas sabiam , e sabem : o nome oficial de Joinville era FREGUESIA DE SÃO FRANCISCO XAVIER DE JOINVILLE ) , ela já tinha muito o que dizer , ou melhor , o que mostrar : o seu principal artigo de exportação era a MADEIRA , ( ABAIXO ,A SERRARIA PERTENCENTE AO PRÍNCIPE DE JOINVILLE E QUE FUNCIONAVA NO ATUAL DISTRITO DE PIRABEIRABA )
viviam aqui 3.050 pessoas e 597 famílias residindo em 924 casas , e de todas essas poucas milhares de pessoas , 2.437 eram luteranas e apenas 613 eram católicas , sendo que dessas 3.050 pessoas , 745 já haviam se naturalizado brasileiras . Naquele longínquo ano 124 pessoas vieram ao mundo na então colônia Dona Francisca , 63 pessoas deram os seus últimos suspiros aqui em terras de Dona Francisca e ainda 272 esperançosos e em sua grande maioria empobrecidos imigrantes europeus vieram tentar uma vida melhor por aqui ( entre 9 de março de 1851 e 31 de dezembro de 1861 vieram para Joinville exatas 4.460 pessoas ).......( ABAIXO , RESIDÊNCIA DO COMERCIANTE GUSTAV HASSE E QUE LOCALIZAVA-SE NA ATUAL RUA DO PRÍNCIPE )
Essa verdadeira chuva de números , é claro , não inclui os moradores luso-brasileiros e seus respectivos escravos que viviam em regiões próximas , como os atuais bairros BOA VISTA , CUBATÃO , ITAUM e PARANAGUAMIRIM ( ABAIXO ) , e que acabaram sendo excluídas do território da colônia Dona Francisca ( atenção historiadores locais : eis uma tarefa para vocês ! ) .
De qualquer maneira e ao contrário dos dez agitados anos anteriores , o ano de 1861 foi calmo e teria tudo para passar sem ter tido qualquer grande fato relevante na curtíssima história da então colônia Dona Francisca , exceto por dois acontecimentos .......Imagine a seguinte situação : uma viagem A PÉ , partindo de São Francisco , passando pelas localidades de Barra Velha e Itapocu , travessias de canoa dos rios Itapocu e Itajaí-Açú , dois breves pernoites em casa de imigrantes residentes no meio do caminho e ainda uma viagem por esse último rio rumo à Blumenau , DE CANOA.....( ABAIXO , UMA DAS PRIMEIRAS FOTOS DE BLUMENAU , DATADA DO SECULO 19 )
E não para por aí : após um breve período de descanso em Blumenau e partindo-se dali , munido de foice e facão e com uma pesada bagagem de mantimentos às costas , parte-se rumo ao norte ( regiões cortadas pelos rios ITAPOCU , TESTO- ABAIXO - e BENEDITO ) , atravessando-se florestas desconhecidas - muitas delas regiões de matas fechadas - e subindo serras rochosas e alimentando-se unicamente de macacos , jacutingas , palmitos e uma grande variedade de aves ......VOCÊ FARIA ISSO ?
Um sujeito chamado CARL AUGUST WUNDERWALD ( 1815-1868- ABAIXO , AGACHADO ) não pensaria duas vezes ao responder esta pergunta : esse agrimensor alemão e que foi o grande desbravador de Joinville em seus primórdios , iniciou essa aventura em 21 de agosto acompanhado de 6 homens ( ou seriam malucos ? ) e só quase 2 meses mais tarde - em 13 de outubro e depois de mais uma viagem a pé e que durou 6 semanas - ele e seus bravos ,corajosos , famintos e exaustos amigos acabaram voltando para casa .......
Mas por quê isso ? Loucura ? Não , nada disso : curiosamente naquela época ainda não havia um caminho ligando Joinville a Blumenau e essa aparente aventura maluca liderada por Wunderwald tinha justamente a intenção de descobrir e determinar qual seria o trajeto ideal para a construção dessa estrada . ( ABAIXO , OUTRA FOTO DE BLUMENAU DATA DA DO SÉCULO 19 )
Havia ainda outro motivo : na margem esquerda do rio Itapocu havia um lote de terras medindo 4 léguas quadradas e que oficialmente pertencia fazia parte da colônia Dona Francisca ( em 1859 o próprio Wunderwald havia aberto uma picada rumo á essa região ) só que a expedição liderada por Wunderwald descobriu que ela enchia por ocasião de alguma chuva mais forte e a ideia de se criar ali uma nova colônia acabou sendo abandonada ( curiosamente em 1876 um grupo liderado pelo engenheiro belga EMILIE JORDAN daria início nessa região à hoje cidade de JARAGUÁ DO SUL - ABAIXO , FOTO PROVAVELMENTE DATADA DA DÉCADA DE 30 , QUANDO AQUELE LOCALIDADE SE EMANCIPOU DE JOINVILLE ) .......
Se a epopeia protagonizado por Carl August Wunderwald e seus amigos foi algo heroico e digno de um livro ou de um filme o outro fato importante de 1861 lembra as palavras GLAMOUR e PODER : pela primeira vez Joinville recebeu a visita de uma autoridade estrangeira .......Com toda a pompa e circunstância que aquela ocasião exigia , uma corveta da marinha imperial brasileira o aguardava em São Francisco e no dia seguinte - 10 de fevereiro - ele fez a tão aguardada visita à colônia Dona Francisca . Geógrafo de profissão , profundo conhecedor de biologia e zoologia , pela terceira vez o embaixador suíço JOHANN JACOB VON TSCHUDI ( ABAIXO ) percorria a América do Sul , só que dessa vez em caráter oficial : sua missão era conhecer todas as colônias brasileiras fundadas e habitadas por suíços e relatar a situação , tanto da colônia que visitava quanto de seus compatriotas suíços .
E a julgar pelas observações que fez em seu longo relatório , ele deve ter dado um sorriso de orelha a orelha ao conhecer a colônia Dona Francisca : se nas províncias de São Paulo e Espírito Santo vigorava o chamado SISTEMA DE PARCERIA ( na teoria os imigrantes eram sócios dos fazendeiros mas na prática era uma escravidão disfarçada : como as compras só podiam ser realizadas em armazéns nas próprias fazendas , as dívidas contraídas acabavam prendendo os imigrantes à elas - ABAIXO ,A FAZENDA IBICABA , LOCALIZADA NO MUNICÍPIO PAULISTA DE CORDEIRÓPOLIS E ONDE EM 1856 OCORREU UM LEVANTE IMIGRANTES SUÍÇOS E ALEMÃES ) e as quantidades de queixas e denúncias eram enormes e assustadoras , o relatório de Von Tschudi praticamente só foi elogios à Joinville , exaltando principalmente o progresso que já havia por aqui e a liberdade que os imigrantes tinham .
Mas as observações do embaixador não foram só em tom cor-de- rosa : ele fez severas críticas aos preços elevados preços cobrados pelos lotes de terras e à própria administração da colônia , que se preocupava mais em ostentar e com as aparências do que com administração da colônia em si , ( ABAIXO , O ENGENHEIRO OTTO LOUIS NIEMEYER , QUE ERA O ENTÃO DIRETOR DA COLÔNIA DONA FRANCISCA )
com o desenvolvimento industrial e comercial do que com o progresso agrícola e em procurar vender a imagem de uma colônia-modelo .......( ABAIXO , FOTO DE 1866 : O PRÉDIO MAIOR E ACIMA DOS OUTROS É A ANTIGA CATEDRAL DE JOINVILLE )
A longa viagem de Von Tschudi acabou sendo transformada em uma monumental obra chamada VIAGENS ATRAVÉS DA AMÉRICA MERIDIONAL ( ABAIXO ) , riquíssima em ilustrações , dividida em 5 volumes e que levou 3 anos para ser publicada , entre 1866 e 1869 .
O próprio relato escrito por ele a respeito de Joinville é bastante detalhado , fazendo referência até mesmo á grande quantidade de BARATAS e MORCEGOS ( eca ! ) existentes por aqui , mas iremos a 3 partes dele que a nosso ver mais chamam a atenção . A primeira chama a atenção para uma peculiaridade da colônia , décadas antes da invenção e popularização do AUTOMÓVEL ( ABAIXO , UM MODELO DE AUTOMÓVEL DO SÉCULO 19 ) :
" Dona Francisca tem a grande vantagem , comprada a outra colônias brasileiras , de contar com EXCELENTES RUAS , TRAÇADAS COM VISÃO E INTELIGÊNCIA . Uma parte delas corta a colônia no sentido principal de leste a oeste - como a da Ilha , Cometa , da Cruz , do Meio , Alemã e dos Suíços , do alto da qual se tem uma maravilhosa visão da serra e sua queda d ´água - as outras ruas cortam a colônia de norte a sul - como a do Sul e a Estrada Cubatão , a Catharina , a Parahy ( NOTA DO BLOG : trata-se da ESTRADA PIRAÍ ) e a Guiger , a última segundo consta , a mais importante para a agricultura dos assentamentos adjacentes . "( ABAIXO , FOTO DE 1910 DO INÍCIO DA ENTÃO RUA ALEMÃ , HOJE VISCONDE DE TAUNAY ; NO LOCAL DA CASA EM PRIMEIRO PLANO HOJE FUNCIONA UMA LOJA DE MÓVEIS )
Muito mais adiante , o embaixador relata uma cena interessante , e que chega até a ser comovente : " Durante minha excursão , meu acompanhante parou diante de uma cabana no Caminho do Meio ( NOTA DO BLOG : a atual rua XV DE NOVEMBRO - ABAIXO , FOTO DE 1866 ) , para apresentar-me seus moradores .
Eram dois anciãos , um suíço e um saxão , que há quase meio século estiveram em campos opostos na Batalha de Leipzig ( ABAIXO ) e agora pretendem terminar seus dias em harmonia na colônia brasileira . "
E , por último , o momento da despedida , até em tom poético : " Fui recebido nessa colônia com simpatia e hospitalidade , lembranças que guardo com gratidão . No dia de minha partida um grupo de canto , composto na maioria por suíços , acompanhou-me até o ponto de embarque . Enquanto o bote , sob o monótono bater dos remos , distanciava-se de Joinville , em meio à neblina e à chuva , podia ouvir ainda os sons da sentida canção de despedida . "..... E que tal agora um exercício de imaginação : E SE ESSA VISITA ACONTECESSE HOJE ? ( obviamente ele viria de avião.....)......CONFIRA O ÓTIMO VÍDEO DO DIA E IMAGINE-SE NO LUGAR DO EMBAIXADOR SUÍÇO ( ABAIXO ) AO ESTAR CHEGANDO EM JOINVILLE !
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