terça-feira, 22 de outubro de 2013

Azul

Na crônica de hoje DONALD MALTCHSKY mostra que uma pessoa pode ter tudo o que desejar na vida e ser super protegida,mas será vazia caso não tenha o essencial:LIBERDADE.É uma crônica com jeito de fábula infantil!CONFIRA: "Muito bonita desde pequena.Imensos olhos azuis cintilantes e inteligentes,muito antes da idade de serem assim.Nasceu filha única e filha única cresceu. Por ser linda,por ser única,por ser filha de pessoas abastadas,foi mimada,muito mimada,o que incluía cuidados extremos com cada passo.Não que não se sujasse,mas logo aprendeu que isso era feio,que havia milhões de bichinhos na sujeira(milhões ela não sabia o que era,mas,pela forma com que a palavra era pronunciada,adivinhava que era uma coisa terrível);correr também não podia ,pois poderia bater nos cantos dos móveis. Pular corda não sabia e nunca deixaram que tentasse.Nunca lambuzou o rosto com caldo de feijão,nem brincou de fazer bolo com bolacha molhada ou qualquer dessas gororobas que criança chama de comida gostosa. Amigos não tinha,pois poderiam passar maus modos,ou,pior,doenças.Seus brinquedos eram cuidadosamente escolhidos para que não houvesse o risco de se cortar,bater,de engolir uma peça.E eram constantemente esterilizados. Passava a maior parte do tempo dentro de casa,afinal ,o mundo lá fora era tão perigoso!Havia sempre uma leve névoa de tristeza nos imensos olhos. Numa de suas poucas saídas para o jardim,topou com uma largata numa folha.Assustou-se,como seria de se esperar;melhor:apavorou-se e saiu correndo. Passou o tempo.Parado para a menininha,de intensa atividade para a largata que construía seu casulo.Dentro da casa,alguma coisa começou a mexer dentro da cabeça da menininha e,talvez,por instinto,talvez porque houvesse um chamado maior,passou a ficar a janela por longos períodos. Dentro do casulo,a transformação total e apertada. Era dia de sol e algo causava uma pequena revolução dentro do casulo.Seu conteúdo aumentava e havia um chamado incontrolável para sair.Devagar,com muito esforço,um pedaço de asa,outro do corpo e, em breve,dois leques azuis se mexiam onde antes havia um casulo cinza.Algumas horas e o impulso incontrolável de voar.E voou. A menininha,na janela,encantou-se e acompanhou o vôo da borboleta.Azul como seus olhos.Em algum lugar alguém se perguntou quem refletia o quê. Não tirou os olhos da borboleta,que voou,até se confundir com o céu.E a menininha ali,com seus olhos fulgurantes.Ela ainda não sabia,mas naquele momento começava a germinar a semente da liberdade em sua pequenina alma."

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