Mas o que havia levado uma mulher tão jovem e tão á frente de seu tempo a tomar uma decisão como essa ? Religiosidade ? Um suposto chamamento divino ? Alguma desilusão amorosa ? Nada disso : espertamente essa foi uma maneira encontrada para que Eugênia entrevistasse uma mulher que ali vivia . Tratava-se da irmã de uma mulher que havia sido assassinada , em um caso que ficou conhecido como " o crime da rua Doutor Januzzi , 13 " . A entrevista acabou gerando uma série de reportagens , publicadas entre 15 e 20 de maio de 1914 , gerando uma repercussão gigantesca e também acabou fazendo com que o jornal carioca satírico A CARETA publicasse os seguintes versos - em linguagem caipira - a respeito de Eugênia : " Apareceu aqui no Rio / Um jorná que chama Rua / Um jorná que sae a noite / quando está nascendo a lua / (....) Tem uma moça bonita / que o cabelo traz cortado / Usa chapéo como os home , / Tem cada um oio damnado . " ......Passaram-se 101 anos , muitas coisas mudaram - felizmente para melhor - e casos como o que acabamos de descrever hoje são curiosas notas de rodapé nas páginas da história e a leitura e o conhecimento , ainda mais coma internet , estão ao alcance de todos . Na crônica de hoje o irreverente HILTON GORRESEN não só aborda a velha questão machismo-feminismo como também dá uma verdadeira aula de Português , incluindo uma mini aula de latim ! CONFIRA :
"Sempre que escrevo estas crônicas me assalta certa dúvida : não sei se
estou me dirigindo mais ao público masculino ou ao feminino .
Onde me
refiro ao leitor , talvez tivesse que escrever leitora .
Ou diplomaticamente ,
como certo ex-presidente da República ( ABAIXO , JOSÉ SARNEY ) , devesse escrever : leitoras e leitores .
Outra opção seria usar uma expressão utilizada atualmente : caro (a) leitor (a) .
Acho horrível essa última . Elimina toda a intimidade , toda a aproximação
que os cronistas pretendem com seus leitores . Dá ideia de um carimbo, que
serve para todo tipo de documento .
Machado de Assis ( ABAIXO ) , em algumas de suas obras , costumava dirigir-se às
leitoras , provavelmente porque eram elas, na época , que mais se deleitavam
com a leitura de romances .
Sei que as feministas se revoltam com o que pretendem ser um
preconceito , do qual bastam poucos exemplos :
se numa classe existem 50
meninas e um só menino , todos vão ser classificados como alunos .
Se uma
mulher se destaca na Câmara , certamente será mencionada como o melhor
vereador .
Mas vamos encarar essa situação de outra maneira : como um
privilégio , uma distinção dada às mulheres .
Não , não estou falando besteira.
Algumas vezes a palavra masculina , principalmente no plural ( alunos ) ,
corresponde ao antigo neutro do latim ( ABAIXO , LIVRO ESCRITO EM LATIM ANTIGO ) , servindo , portanto , para os dois sexos .
Algo assim como alunum ( quem passou pelas aulas de latim sabe que o
famigerado neutro sempre termina em um ) . Portanto, seria difícil ter passado
ao português como forma feminina ( ' aluna ' ) .
Os nomes femininos , para serem diferenciados , foram acrescidos de
uma terminação , que se denomina desinência .
Desse modo , os elementos
femininos podem figurar em duas classes : o feminino ( aluna ) e o neutro
( aluno ou alunos ) , o que não acontece com os marmanjos .
Uma vendedora ,
por exemplo ,
pertence à classe geral dos vendedores e à classe particular das
vendedoras , onde nenhum marmanjo pode colocar o pé .
É como se as
meninas pudessem participar do clube do Bolinha ,
mas os meninos não
pudessem fazê-lo no clube da Luluzinha .
Responda , leitora , isso não é um
privilégio ?
Como nas crônicas pretendo dirigir-me à individualidade dos leitores ,
optei por expressar-me considerando a forma singular masculina , mas com a
certeza de que estou publicando uma crônica unissex , dirigindo-me a todos ,
homens e mulheres deste imenso Brasil ( não exagera , cara! ) . "
Nenhum comentário:
Postar um comentário