Era uma vez uma divindade que vagava sem destino pelos campos e que existia na forma de uma belíssima mulher . De tão bela , ela fez com que dois irmãos , os deuses-ventos BÓREAS ( vento invernal vindo do norte ) e ZÉFIRO ( vento primaveril vindo do leste ) , se tornassem rivais e disputassem o seu amor . Zéfiro foi mais rápido : durante uma primavera ela raptou a bela moça , que mesmo tendo sido raptada acabou logo se afeiçoando à ele . Casaram-se e Zéfiro , apaixonado e generoso , deu à ela um belo jardim de flores e foi assim que CLÓRIS ( em grego escreve-se KHLORIS ou KHLOROS , com esse nome tendo 4 significados : " verde-pálido " , "verde-claro , "pálido " ou "fresco " ) tornou-se a deusa da primavera , sendo cultuada pelos antigos gregos . Como aconteceu com outras divindades gregas , ela também era adorada pelos romanos , só que com o nome de FLORA : acredita-se que tenham sido OS SABINOS , um das primeiras civilizações a povoarem o que hoje conhecemos como ITÁLIA , quem teriam introduzido esse culto e sendo que reservavam o mês de ABRIL à ele .
Assim como tantas civilizações antigas , o antigo calendário romano também iniciava-se com a primavera e eles acreditavam também que Flora teria presenteado os homens com o MEL e as sementes de inúmeras espécies de flores , sendo ainda uma das responsáveis pelo nascimento do deus MARTE . Em sua honra eram realizados uma série de jogos , conhecidos como FLORÁLIAS . Neste maluco ano de 2015 , em que a maior parte do inverno teve clima e jeito de primavera e a julgar pelo clima invernal , predominante até a última segunda-feira ( 16 de novembro ) , parece que Clóris , ou Flora , foi raptada por Bóreas...... Para HILTON GORRESEN uma estação não é apenas uma época do ano : tratam-se de períodos cheios de recordações , pessoas e fatos especiais . Como o irreverente escritor são chiquense está sempre surpreendendo , na crônica de hoje ele nos revela o seu lado poeta .....CONFIRA :
"É , caro leitor , a estação primaveril está quase terminando , mas a primavera
não deu as caras .
Foi só chuva e chuva
(desconfio que este texto já foi publicado
mas é daqueles que sempre está valendo . Mudando a estação , é só trocar
' primavera ' por verão ou inverno e mandar para o prelo - ABAIXO ) .
Sou daqueles que espera essa estação do ano para poder caminhar tendo ao
lado árvores floridas ,
acima o céu de um azul suave como uma taça de pudim , do
qual dá vontade de tirar um pedaço ,
e sentindo no rosto a brisa fresca e
reconfortante .
Melhor do que isso, só estando em Paris na primavera ,
andando de
charrete num bulevar florido e ouvindo Maurice Chevalier . ( ABAIXO )
Mas também se
admite ouvir Frank Sinatra ( ABAIXO - I love Paris in the springtime... ) .
Estações do ano deixam na gente marcas e lembranças . Lembra daqueles
invernos em que sua família enchia as malas de agasalhos
e iam passar uns dias na
serra , na casa da vovó ?
Daquele verão na praia , no qual você conheceu aquela
linda veranista , vinda do oeste , tiveram um breve romance e nunca mais teve
notícias dela ?
Lembra daqueles outonos , as ruas repletas de folhas secas ,
e você
saboreando seu café debaixo de um caramanchão , ao cair da tarde ?
Quando me volto para os dias de infância , dou logo de cara com a chegada
da primavera , depois de um ' longo e tenebroso inverno ' , a cerimônia do plantio
de mudas de árvore na escola ,
as brincadeiras nas árvores ; o tempo parece que
revigorava nossa energia infantil .
Porém , naquele tempo , a estação mais esperada era o verão .
Não se
esperava o verão , como hoje , para fugir do calor na praia ou para renovar o
bronzeado . Ninguém pensava nisso . No verão, o mar era nossa segunda casa .
Eu
morava defronte da baía ( ABAIXO , CASARÃO DOS GORRESEN ) e as tardes eram cheias de mergulhos e nadadas , ao lado
dos amigos .
A gente corria por uma rampa e se jogava de ponta-cabeça no mar ;
era o prazer físico de perfurar como uma lâmina a superfície azul da baía , ( ABAIXO , BAÍA DA BABITONGA )
sentir a
água gelada a se fender até morrer o impulso do corpo .
Hoje os verões são tórridos, cheios de barracas ,
de argentinos ,
de suor no
pescoço e cheiro de óleo bronzeador . Hoje o sol queima ,
estraga a pele , provoca doença .
Por isso, quero de volta a primavera ,
pode ser a última, ninguém sabe .
Nem que tenha de ir aos tribunais , quero a reposição da primavera , com juros de
flores desabrochando , correção monetária de azul cerúleo , limpo de nuvens, e
multa de ar leve e perfumado . "
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