quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Quero A Primavera De Volta

Era uma vez uma divindade que vagava sem destino pelos campos e que existia na forma de uma belíssima mulher . De tão bela , ela fez com que dois irmãos , os deuses-ventos BÓREAS ( vento invernal vindo do norte ) e ZÉFIRO ( vento primaveril vindo do leste ) , se tornassem rivais e disputassem o seu amor . Zéfiro foi mais rápido : durante uma primavera ela raptou a bela moça , que mesmo tendo sido raptada acabou logo se afeiçoando à ele . Casaram-se e Zéfiro , apaixonado e generoso , deu à ela um belo jardim de flores e foi assim que CLÓRIS ( em grego escreve-se KHLORIS ou KHLOROS ,  com esse nome tendo 4 significados : " verde-pálido " , "verde-claro , "pálido " ou "fresco " ) tornou-se a deusa da primavera , sendo cultuada pelos antigos gregos . Como aconteceu com outras divindades gregas , ela também era adorada pelos romanos , só que com o nome de FLORA : acredita-se que tenham sido OS SABINOS , um das primeiras civilizações a povoarem o que hoje conhecemos como ITÁLIA , quem teriam introduzido esse culto e sendo que reservavam o mês de ABRIL à ele .

    Assim como tantas civilizações antigas , o antigo calendário romano também iniciava-se com a primavera e eles acreditavam também que Flora teria presenteado os homens com o MEL e as sementes de inúmeras espécies de flores , sendo ainda uma das responsáveis pelo nascimento do deus MARTE . Em sua honra eram realizados uma série de jogos , conhecidos como FLORÁLIAS . Neste maluco ano de 2015 , em que a maior parte do inverno teve clima e jeito de primavera e a julgar pelo clima invernal , predominante até a última segunda-feira ( 16 de novembro ) , parece que Clóris , ou Flora , foi raptada por Bóreas...... Para HILTON GORRESEN uma estação não é apenas uma época do ano : tratam-se de períodos cheios de recordações , pessoas e fatos especiais . Como o irreverente escritor são chiquense está sempre surpreendendo , na crônica de hoje ele nos revela o seu lado poeta .....CONFIRA :



"É , caro leitor , a estação primaveril está quase terminando , mas a primavera



não deu as caras .



 Foi só chuva e chuva



 (desconfio que este texto já foi publicado



mas é daqueles que sempre está valendo . Mudando a estação , é só trocar



' primavera '  por verão ou inverno e mandar para o prelo - ABAIXO  ) .





Sou daqueles que espera essa estação do ano para poder caminhar tendo ao



lado árvores floridas ,



acima o céu de um azul suave como uma taça de pudim , do



qual dá vontade de tirar um pedaço ,



 e sentindo no rosto a brisa fresca e



reconfortante .



 Melhor do que isso, só estando em Paris na primavera ,



 andando de



charrete num bulevar florido e ouvindo Maurice Chevalier . ( ABAIXO )



Mas também se



admite ouvir Frank Sinatra ( ABAIXO - I love Paris in the springtime... ) .





Estações do ano deixam na gente marcas e lembranças . Lembra daqueles



invernos em que sua família enchia as malas de agasalhos



 e iam passar uns dias na



serra , na casa da vovó ?



Daquele verão na praia , no qual você conheceu aquela



linda veranista , vinda do oeste , tiveram um breve romance e nunca mais teve



notícias dela ?





Lembra daqueles outonos , as ruas repletas de folhas secas ,



 e você



saboreando seu café debaixo de um caramanchão , ao cair da tarde ?





Quando me volto para os dias de infância , dou logo de cara com a chegada



da primavera , depois de um ' longo e tenebroso inverno ' , a cerimônia do plantio



de mudas de árvore na escola ,



 as brincadeiras nas árvores ; o tempo parece que



revigorava nossa energia infantil .





Porém , naquele tempo , a estação mais esperada era o verão .



 Não se



esperava o verão , como hoje , para fugir do calor na praia ou para renovar o



bronzeado . Ninguém pensava nisso . No verão, o mar era nossa segunda casa .



 Eu



morava defronte da baía  ( ABAIXO , CASARÃO DOS GORRESEN ) e as tardes eram cheias de mergulhos e nadadas , ao lado



dos amigos .



A gente corria por uma rampa e se jogava de ponta-cabeça no mar ;



era o prazer físico de perfurar como uma lâmina a superfície azul da baía , ( ABAIXO , BAÍA DA BABITONGA )



 sentir a



água gelada a se fender até morrer o impulso do corpo .



Hoje os verões são tórridos, cheios de barracas ,



 de argentinos ,



 de suor no



pescoço e cheiro de óleo bronzeador . Hoje o sol queima ,



 estraga a pele , provoca  doença .



Por isso, quero de volta a primavera ,



pode ser a última, ninguém sabe .



Nem que tenha de ir aos tribunais , quero a reposição da primavera , com juros de



flores desabrochando , correção monetária de azul cerúleo , limpo de nuvens, e



multa de ar leve e perfumado . "


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