segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Som de Joinville : Mulher-Coragem

Existem certas pessoas que parecem ter nascido para cumprir alguma grande missão , e além disso parecem também ter nascido na época errada ........Regras ? Convenções ? Preconceitos ? Tabus ? Ela ( ABAIXO ) desconhecia estas palavras e em uma época em que o papel da mulher na sociedade era submisso , praticamente nulo , ela foi derrubando cada uma das barreiras que iam surgindo a sua frente : 

com 30 anos de idade abandonou o marido - um oficial da Marinha - com quem não tinha afinidade e paixão alguma e com quem fora forçada a se casar - pelos seus pais - quando tinha 16 anos ( dos três filhos que teve com ele , só criou o mais velho ) ; viveu e teve uma filha com outro homem sem jamais casar-se com ele e morreu vivendo com um homem 36 anos mais jovem do que ela . Totalmente independente e muito a frente de seu tempo , além de seu comportamento completamente fora dos padrões da época , chocou a muitos também por suas convicções e opiniões políticas : foi uma ardorosa militante dos movimentos abolicionista e republicano . Mas foi em função de seu talento incomum que ela ficou eternizada na história : além de ter sido uma das percursoras de gênero musical que é sinônimo de Brasil e foi uma das raras pessoas a criarem um conceito novo de como se fazer música no Brasil.......
     Filha de uma mulata e de um rigorosíssimo militar que mais tarde a deserdaria , a carioca e revolucionária Francisca Edwirges  Neves Gonzaga , a CHIQUINHA GONZAGA ( 1847-1935 - ABAIXO )  ,  já disse a que veio com apenas 11 anos de idade : 

compôs uma música natalina chamada CANÇÃO DOS PASTORES . Em 1877 , após dar fim ao seu casamento infeliz , passou a se dedicar exclusivamente à MÚSICA , a grande paixão de sua vida , tornando-se pianista profissional ( na época usava-se o termo PIANEIRA ) e compondo a primeira de suas cerca de 2.000 composições ( ! ) , também uma de suas composições clássicas : ATRAENTE , cujo simples nome naquele conservador e puritano século 19 já era uma fronta grave.......Logo formaria com o flautista JOAQUIM ANTÔNIO DA SILVA CALLADO ( 1848-1880 ) uma afinada dupla , sendo dois dos responsáveis pelo surgimento do brasileiríssimo CHORO . Em 1885 outro pioneirismo de Chiquinha : ela tornou-se a PRIMEIRA MAESTRINA DO BRASIL , regendo a opereta A CORTE NA ROÇA e tornado-se na mesma época regente da banda da então Força Pública , hoje Polícia Militar . O trabalho de Chiquinha ( ABAIXO ) não era feito " apenas " de música : ao longo de quase 60 anos de vida artística , compôs 77 peças  teatrais . Autora da primeira marchinha carnavalesca brasileira - Ó ABRE-ALAS ( 1899 ) - o seu talento ímpar logo chamou a atenção do Velho Mundo : excursionou pela Europa entre 1902 e 1909 e tornou-se muito popular em Portugal .......

     Uma de suas mais célebres composições foi o tango GAÚCHO ( a palavra não se refere apenas a quem nasce no Rio Grande do Sul mas também aos argentinos ) e que recebeu o nome popular de CORTA-JACA . Partes da música foram tocadas pela primeira vez durante a opereta de costumes ZIZINHA MAXIXE , em agosto de 1895 , no teatro ÉDEN LAVRADIO , no Rio de Janeiro . O autor da peça e ator MACHADO CARECA criou uma nova letra para a música e contribuiu para popularizá-la : em 1914 ela era tão popular que a então primeira-dama NAIR DE TEFFÉ ( 1886-1981 - ABAIXO ) - outra mulher á frente de seu tempo - 

a tocou ao violão e em pleno PALÁCIO DO CATETE - então sede do governo federal - diante de surpresos e chocados diplomatas e políticos .......Isso era um afronta , uma vergonha , um escândalo : uma música "de baixo calão ' sendo tocada em pleno palácio do governo ! Diante isso o então presidente HERMES DA FONSECA ( 1855-1923 ) ganhou o apelido de Corta-Jaca e o então senador RUI BARBOSA ( 1849-1923 - ABAIXO )  fez um furioso discurso : “A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba. Mas nas recepções presidenciais o corta-jaca é executado com todas as honras de música de Wagner, e não se quer que a consciência deste país se revolte, que as nossas faces se enrubesçam e que a mocidade se ria!”........

Como diria uma sábia frase : OS HOMENS PASSAM AS MÚSICAS FICAM ! Gravada pela primeira vez em 1902 , pela dupla OS GERALDOS  , a música foi regravada inúmeras vezes , inclusive por dois mestres da música clássica no Brasil : o pianista ARTUR MOREIRA LIMA e o maestro RADAMÉS GNATALLI . Originalmente Chiquinha a compôs para canto , piano , pequenas orquestras , fagote , oboé , trompa , tímpanos e viola  . No primeiro vídeo de novembro e regidos pelos mestres CLAUDENOR FÁVERO ( ABAIXO )

 e NICOLAU SCHMIDT , ( ABAIXO )

três alunos da escola de música VILLA LOBOS , da CASA DA CULTURA DE JOINVILLE , tocam essa clássica canção do repertório da dama do choro , que com certeza , ficaria muito orgulhosa da apresentação ! VALE A PENA CONFERIR ! 

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