As poucas pessoas que têm conhecimento da história da literatura brasileira , ou até mesmo quem tem o hábito da leitura , sabem perfeitamente quem foi esse sujeito : o poeta , jornalista e escritor carioca OLAVO Brás Martins Dos Guimarães BILAC ( 1865-1918 ) , considerado quase que de maneira unânime o mestre brasileiro de um gênero literário surgido na França , O PARNASIANISMO . Trata-se daquele tipo de poesia com versos harmônicos e muitas vezes rimados , cheia de palavras e imagens belas e lúdicas e quase sempre difíceis de se entender......Torcedor do Botafogo ( Bom , gosto não se discute , se lamenta...... ) , Bilac foi uma celebridade em sua época , uma espécie de pop star da poesia ( mal comparando , os sarais eram no século 19 e no princípio do século 20 , o que hoje são os shows de astros da música ) e uma das suas características mais notórias foi o fato de ter sido um nacionalista ferrenho , não só em muitas de suas poesias mas também por suas ideias e atitudes : defendeu a entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial ( 1914-1918 ) e se engajou em um movimento que incentivava o alistamento militar , sendo equivocadamente considerado o idealizador do ALISTAMENTO MILITAR OBRIGATÓRIO ( durante muito tempo a carreira militar foi uma das raras formas de ascenção social no Brasil , daí o fato de Bilac ter se engajado nessa campanha ) . O poeta também era um militante político : foi abolicionista , republicano e chegou a ser perseguido por fazer oposição ao então ditador de plantão , o marechal-presidente FLORIANO PEIXOTO ( 1839-1895 ) . Mas a sua obra mais conhecida não foi um poema e sim um hino : o HINO À BANDEIRA . Na ocasião - 1906 - Bilac era secretário do então prefeito do Rio de Janeiro , FRANCISCO PEREIRA PASSOS ( 1836-1913 ) , que lhe pediu um hino .
Como os conhecimentos musicais do poeta eram próximos do zero e , como sempre acontece , toda estrela tem o seu coadjuvante : aquele "formiguinha " que trabalha incansavelmente para que a estrela brilhe e nesse caso a "formiguinha " atendia pelo nome do maestro , compositor e professor carioca ANTÔNIO FRANCISCO BRAGA ( 1868-1945 ) , responsável por musicar e transformar em hino o poema de Olavo Bilac . Antônio começou tocando clarineta , quando tinha apenas 8 anos de idade e aos 21 anos participou do concurso para definir qual seria o novo hino nacional e , como ficou entre os 4 primeiros colocados ( o vencedor foi o hino composto pelo maestro LEOPOLDO MIGUEZ , mas como o povo preferiu o hino antigo , o seu hino foi transformado em uma homenagem à "proclamação" da república ) , recebeu uma bolsa de estudos na França tendo como mestre ninguém menos do que JULES MASSENET , compositor que se tornou bastante célebre em sua época por compor óperas populares . Mas a grande fonte de inspiração de Antônio foram as obras épicas do alemão RICHARD WAGNER ( 1813-1883 ) , que usou e abusou de recursos cênicos , vocais e orquestrais , e , por isso mesmo , a grande maioria das obras de Antônio é de marchas e hinos , o que lhe valeu um apelido : CHICO DOS HINOS ......O maestro é o patrono da cadeira de número 32 da ACADEMIA BRASILEIRA DE MÚSICA , entidade criada em 1945 pelo genial maestro HEITOR VILLA-LOBOS ( 1887-1959 ) . Por último , mais outra curiosidade : antes mesmo de se tornar uma nação independente , o Brasil chegou a ter duas bandeiras próprias , a do PRINCIPADO DO BRASIL ( criada em 1645 ) e a do REINO UNIDO DE PORTUGAL , BRASIL E ALGARVES ( criada em 1816 ) . Na crônica patriótico-saudosista de hoje a obra da dupla Bilac-Chico Dos Hinos funciona como uma espécie de passagem para mais uma das viagens do jornalista e contador de histórias ROBERTO SZABUNIA pela bucólica e pacata Rio Negrinho dos anos 60 . CONFIRA :
"É , não tem jeito . Sempre que minha vez neste espaço cai no dia 19 de
novembro , não enxergo outro assunto na minha frente que não seja o civismo .
Afinal , hoje é o Dia da Bandeira Brasileira .
O leitor e a leitora da minha geração
e das anteriores nem precisa parar pra pensar na data , pois 19 de novembro já
abre instintivamente a gaveta da memória, hasteando boas lembranças .
Ao ler
o título, ali em cima, tenho certeza que você começou a cantarolar : ' Salve lindo
pendão da esperança / salve símbolo augusto da paz / tua nobre presença à
lembrança / a grandeza da pátria nos traz ' .
Olavo Bilac ( ABAIXO ) devia estar num dia particularmente criativo quando compôs esses
versos .
Até vejo a imagem do poeta , sentado à mesa , pena e papel a postos ,
olhando pela janela e avistando uma bandeira a tremular . Em meu exercício de
imaginação , ele escreve quase sem parar , os versos transbordando da mente e
do coração , apenas alteando a vista janela afora para observar o tecido
flanando à brisa de uma tarde primaveril carioca .
Aliás , nas aulas de História
aprendemos que foi o governo do Rio de Janeiro quem encomendou o hino ao
poeta . ( ABAIXO , FOTO DO ENTÃO LARGO DO ROCIO - HOJE PRAÇA TIRADENTES - NO RIO DE JANEIRO , NO PRINCÍPIO DO SÉCULO 20 )
Mas não havia como circunscrevê-lo à então capital brasileira , era
inevitável que tão significativa composição – musicada pelo maestro Francisco
Braga ( ABAIXO ) – se tornasse nacional .
Ainda bem, não é ? Se assim não fosse , com certeza nossas manhãs de
sábado nos idos dos anos 60 não seriam as mesmas . ( ABAIXO , FOTO DA RUA JORGE ZIPPERER , EM RIO NEGRINHO , NO FINAL DOS ANOS 60 )
Tenho certeza que meus
antigos colegas de primário no Educandário Santa Teresinha ( ABAIXO ) concordam .
Sábado , naquele tempo , tinha aula de manhã . Mas não era uma atividade
curricular normal . Uma vez por mês havia sabatina ,
uma prova oral ou escrita ,
retomando os temas da semana . Mas era , acima de tudo , uma manhã
dedicada ao civismo . ( ABAIXO , DESFILE DE ALUNOS DO EDUCANDÁRIO SANTA TEREZINHA , EM 1960 )
Trocávamos o ' uniforme de dia ' usado durante os cinco
dias anteriores pelo ' de gala ' . Era roupa de marinheiro :
durante a semana , tons
de cáqui e ocre bem claro predominavam na blusa ( com elástico na bainha ) e
na calça ; nos pés , conga azul
( com biqueira era melhor, durava mais ) . Para as
meninas , vestido xadrez azul e branco ,
conga ou chinelinho . Mas no sábado
era dia de tirar o uniforme de gala do armário : sapatos pretos , calça azul-
marinho , camisa verde-primavera ,
gravatinha e bibico azuis debruados de
branco . Para as meninas , saia azul-marinho com alças ,
camisa branca , boina,
meias longas brancas e sapato . Meu , que elegância ! ( ABAIXO , DESFILE DO EDUCANDÁRIO SANTA TEREZINHA , REALIZADO EM 1955 )
Era bonito de ver aquelas
centenas de crianças de 7 a 10 anos enfileiradas no pátio ,
silêncio absoluto ,
seguindo pelos quatro lances de escadas até o auditório . Era a única forma de
entrarmos lá , pois durante a semana o acesso ao último andar era vedado aos
alunos .
Todos acomodados em suas cadeiras , ouvia-se até o bater de asas de uma
mosca no auditório silencioso , até que uma das irmãs
( agora a gaveta
bagunçou: como era o nome da ' irmã pianista ' , piazada ? ) começava a tirar os
acordes do Hino à Bandeira das cordas da pianola .
Todos cantavam com
alegria e respeito , ajudados pelas vozes adolescentes da turma do ginásio .
Pouco importava que os menores não entendessem muito bem o significado
dos parnasianos versos . Os ginasianos sabiam que ' o pendão da esperança
nos traz à presença a grandeza da pátria ' .
Querido símbolo da terra .
Da amada terra do Brasil . "
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