Esta é para refrescar a memória do amigo leitor : em 10 de setembro postamos um texto com o título de POVO , ARTE E FILOSOFIA e em que abordamos as comemorações do primeiro centenário de Joinville , ocorridas entre 9 e 18 de março de 1951 . O tema por si só já curioso , fascinante e deve ser sempre tema de discussões , conversas e ,principalmente , de pesquisas mais aprofundadas mas no momento iremos voltar um pouco no tempo , mais especificamente ao ano de 1940 : na época Joinville tinha um território maior do que os atuais 1.131 quilômetros quadrados ( incluía os atuais municípios de Schroeder e Guaramirim e ainda partes dos municípios de Massaranduba e Araquari - ABAIXO , MAPA DA REGIÃO DE JOINVILLE )
e apesar de sua grande extensão tinha uma população pequena , com 45.586 habitantes . ( ABAIXO , PRAÇA NEREU RAMOS EM 1940 )
Segundo o censo realizado naquele ano , Joinville tinha entre sua população 131 pessoas pardas , 1.578 negros , 1 pessoa amarela ( um solitário imigrante japonês , mas que infelizmente o censo não revela quem é ) e 1.469 habitantes estrangeiros . Dos estrangeiros , os alemães formavam a esmagadora maioria : eram 1.079 pessoas . Já os demais estrangeiros eram os seguintes : espanhóis ( 11 pessoas ) , italianos ( 29 pessoas ) e portugueses ( 36 pessoas - ABAIXO , A HOJE EXTINTA FARMÁCIA MINÂNCORA , FUNDADA PELO PELO FARMACÊUTICO PORTUGUÊS EDUARDO GONÇALVES EM 1915 ) .
Como é sabido , a esmagadora maioria dessa mais de 45.000 pessoas era de origem alemã e a cultura daquele país ainda estava fortemente arraigada aqui em terras de Dona Francisca . Com a exceção dos alemães , que por motivos óbvios estavam plenamente integrados à cidade , surge a seguinte pergunta : COMO VIVIAM AS MINORIAS DE JOINVILLE - NEGROS , PARDOS E DEMAIS ESTRANGEIROS - NAQUELE DISTANTE ANO DE 1940 ? Trata-se de uma pergunta que infelizmente , por falta de registros históricos mais detalhados , jamais venha ser respondida ........E COMO ERAM TRATADOS ? Isto é fácil de responder , basta analisar as próprias comemorações do centenário : ( ABAIXO )
a grandiosidade e pomposidade delas , além de servirem para mostrar toda a pujança de Joinville , acabaram sendo uma espécie de "tapa de luva de pelica " da comunidade de origem alemã , visto que a partir de 1938 foram perseguidos , proibidos de se expressar em alemão , de cultivar antigas tradições e várias entidades culturais , recreativas e desportivas acabaram sendo fechadas . Por isso adotou-se um discurso ao mesmo tempo ufanista e nacionalista e de exaltação ao imigrante alemão , visto como "ordeiro , laborioso , progressista e disciplinado " .
Discursos , por sinal , como este : " ......A cidade cresceu à sombra da colônia - argamassa de terra embebida em suor - como exemplo de crença , de amor , de renúncia , para que , no trabalho , as novas gerações prossigam na vereda há século traçada , afirmando ao Brasil o esforço dessa gente que procurou fazer uma pátria melhor e , desinteressada ,a ela , confiou , para a imortalidade , sonhos , nervos , sangue , corações no solo da cidade . " ( trecho do texto OS TITANS , de J. BATISTA CRESPO e publicado na edição de número 28 da revista VIDA NOVA , de março de 1951 e na página 52 ) .......( ABAIXO , COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO )
Também , como não poderia deixar de ser , também foram feitos poemas exaltando os imigrantes , como ODE AO IMIGRANTE DE 1851 , de autoria de J. A . Dias Barreto ( foi publicado na mesma edição e página de OS TITANS ) : " Glórias ao colono bravo / Que nos veio d ´além mar : / Da Alemanha milenária , / Da Suíça , da Dinamarca , / Da Holanda , da velha Itália , / De Portugal , nosso irmão ! / Não indaguemos a sua origem , / Que ele sempre nos lembra / O colono de CINQUENTA E UM . " .......( ABAIXO, COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO )
Em nenhum momento , durante aqueles 10 dias de comemorações , fez-se qualquer menção aos moradores luso-brasileiros que já haviam na região antes de 1851 e que por sinal seriam de valiosíssima importância tanto no surgimento quanto no desenvolvimento de Joinville ( ABAIXO , PROCÓPIO GOMES DE OLIVEIRA , PREFEITO DE JOINVILLE ENTRE 1903 E 1907 E ENTRE 1911 E 1915 E QUE ERA NATURAL DE PARATY - A ATUAL ARAQUARI )
( vale lembrar que eles , juntamente com moradores brasileiros do Paraná e de regiões vizinhas , seriam proprietários de engenhos de erva-mate , produto responsável pela transformação de Joinville em um pólo industrial , e andariam na política local até 1934 ) . Os negros ( ABAIXO , CABANA HABITADA POR ESCRAVO QUE VIVIA EM JOINVILLE ) e as populações indígenas , incluindo a extinta e ainda enigmática civilização sambaquiana , também foram solenemente ignorados .
O mesmo aconteceu com os demais imigrantes europeus que vieram para Joinville , com a exceção do poema que citamos ha pouco . Havia , porém , uma voz discordante : em artigo publicado na revista VIDA NOVA , de março de 1951 , CRISPIM MIRA comenta que já existiam moradores vivendo aqui muito antes de 1851, em regiões como os atuais , CUBATÃO , PIRABEIRABA e PARANAGUAMIRIM , ( ABAIXO , VISTA DOS BAIRROS IRIRIÚ E AVENTUREIRO , REGIÕES QUE TAMBÉM TINHAM MORADORES ANTES DE 1851 )
e só em 1965 é que uma publicação contando a história de Joinville lembraria de novo esse fato : o histórico e valiosíssimo livro HISTÓRIA DE JOINVILLE : SUBSÍDIOS PARA A CRÔNICA DA COLÔNIA DONA FRANCISCA ( ABAIXO ) , de autoria do historiador auto didata alemão CARLOS FICKER ( 1916-1974 ) ........
Caso eles já fossem nascidos em 1951 Crispim Mira não seria uma voz solitária : trata-se dos militantes joinvilenses dos movimentos PUNK e HIP HOP ( ABAIXO , EVENTO HIP HOP REALIZADO EM JOINVILLE ) , que como se sabe , são movimentos contestadores por excelência . Um dos vídeos do dia é um interessante trecho do documentário CULTURAS URBANAS DE JOINVILLE , em que aquela moçada deixa o seu recado e conta um pouco desses movimentos contestatórios na cidade . VALE A PENA CONFERIR !
Nenhum comentário:
Postar um comentário