quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A Receita

Como é sabido os GÊNIOS não se contentam em fazer realizações naquela área que dominam com maestria : eles são sempre irriquietos e estão sempre criando um conceito novo , invento algo diferente.......O gigantesco talento de um gênio é algo tão incrível que ele pode transformar , até mesmo , as desgraças humanas em arte ! Ele não só  foi o criador do gênero literário POLICIAL como até é provável que tenha um dos pioneiros no gênero de TERROR : não só personagens policiais  clássicos como os detetives SHERLOCK HOLMES , HERCULE POIROT e até mesmo os impagáveis como PANTERA COR DE ROSA , ED MORTE ( essa uma criação do irreverente escritor gaúcho LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO ) e MÁRIO FOFOCA ( personagem da novela ELAS POR ELAS , exibida pela TV Globo em 1982 e interpretado pelo ator LUIZ GUSTAVO ) devem suas existências à ele como é até provável que clássicos filmes de suspense hollywoodianos , como JANELA INDISCRETA ( 1954 ) , O BEBÊ DE ROSEMARY ( 1968 ) , ENCURRALADO ( 1971 ) e OS SETE PECADOS CAPITAIS ( 1995 ) tenham um pouco de seu DNA ......A obsesão pelo macabro foi um reflexo de sua própria vida : perdeu seus pais quando tinha apenas 3 anos de idade , seu irmão morreu vítima do alcoolismo , sua esposa - também sua sobrinha e 13 anos mais jovem do que ele - morreu precocemente vítima da tuberculose e ele acabou se entregando ao álcool , tendo sido encontrado caído na rua , na noite de 7 de outubro de 1849 , já agonizando e inexplicavelmente vestindo uma roupa de outra pessoa........
    Definitivamente a vida nunca foi um mar de rosas para o norte-americano EDGAR ALLAN POE ( 1809-1849 ) : nascido em Boston , foi criado por um casal da cidade de Richmond ( Estado da Virgínia ) e chegou até a seguir carreira militar , mas a literatura sempre fez parte de sua vida e foi sua companheira ......Em 1835 , época em que começou a trabalhar  no jornal SOUTHERN LITERARY MESSENGER como crítico literário e ensaísta , deu início a profissão que foi em parte responsável por seu prestígio : a de jornalista . Trabalhou também em diversos jornais literários e na revista BURTON ´S GENTLEMN ´S MAGAZINE , onde consolidou a sua carreira jornalística , fazendo críticas literárias até bastante ácidas. Curiosamente , em seus primeiros como jornalista , Edgar aproveitava o tempo livre para escrever poesias , algo pouco em sua biografia . Em 1838 , com o lançamento do livro A NARRATIVA DE ARTHUR GORDON PYM , Edgar começou a criar um novo conceito de literatura : em bora o livro fosse um romance , era cheio de histórias macabras , incluindo canibalismo.......Em 1841 , com o lançamento do livro O ASSASSINATO DA RUA MORGUE , protagonizado pelo personagem AUGUSTE DUPIN , o gênero policial teve a sua certidão de nascimento mas o reconhecimento popular da obra do escritor norte-americano viria apenas em 1845 , quando foi lançado o livro O CORVO . Muito dinheiro , certamente ? Nada disso : o escritor recebeu míseros 9 dólares pela publicação do livro e esse acabou sendo um dos motivos para aumentar ainda a sua dependência em relação ao álcool , ganhando a fama de louco de depravado.....Mas , afinal , o que é necessário para escrever uma história policial que se aproxime , se é que é isso é possível , das obras não só do gênio norte-americano , como também de autores como BRAM STOCKER , MARY SHELLEY e H.P. LOVECRAFT ? Na crônica de hoje o irreverente HILTON GORRESEN dá a dica e nos convida a um passeio pelo mundo do suspense . CONFIRA :

"É fácil escrever um conto policial . Em primeiro lugar , deve acontecer um crime .


Conto ou romance policial sem crime é como praia sem mar , cerveja sem

álcool ,

 Claudinho sem Buchecha ( ABAIXO ) , etc. , etc .


Evidentemente , se há um crime, tem de haver uma vítima . Vítima é aquela que

geralmente aparece morta no início da obra .


 Se a vítima for rica ou pobre , isso

alterará o cenário do crime . Longe de mim a discriminação , mas pobre ser

assassinado em cenário de rico ,

ou o contrário , já complica mais a coisa .

Tendo a vítima e o crime, o que falta ? Acertou, o criminoso .

Já vou adiantando :

não vá cair no lugar-comum de atribuir a culpa ao mordomo , mesmo porque já

quase não existem mais mordomos .


A trama deve ser complexa . Nada desses crimezinhos cotidianos , sem

imaginação, nos quais basta investigar o ex-marido , o padrasto , o caseiro , o

namorado ciumento ,

o traficante ,

o amante da esposa . Sempre haverá aquele

suspeito para o qual apontam todas as circunstâncias , mas no final se verá que

é inocente . Em alguns casos , o suspeito-inocente poderá ser um dos acima

citados .

Falta agora a estrela do show , o defensor da ordem e da justiça . Tchan ! Aí vem

o detetive .

O detetive esperto, aquele que ' detecta '  o criminoso , que tira

brilhantes conclusões até de um fiozinho fora de lugar , é uma criação do

escritor Edgar Allan Poe ( ABAIXO ) , no século 19 , através de seu detetive amador C.

Auguste Dupin .

Poe foi seguido brilhantemente por Conan Doyle ( ABAIXO )  ( Sherlock

Holmes )

e Aghata Christie ( ABAIXO )  ( Mister Poirot ) .

O detetive não precisa ser bonito.

Sherlock ( ABAIXO ) era um magricela, de nariz adunco ;

 Poirot ( ABAIXO ) , um gordinho com um

bigode ridículo .

Deixe a boniteza para o suspeito que transa com a esposa da

vítima .


Agora a cena está armada . A vítima está fazendo o seu papel ( se o conto for

filmado, seu cachê deve ser o mais baixo de todos ) .

 O detetive é chamado e

chega com seu velho chapéu amassado e sua capa de chuva , mesmo que o

tempo esteja bom ( mas se o conto se passa em Joinville é bom prevenir ) .

A

inconsolável viúva está derreada numa poltrona , e o detetive já acha que ela

está exagerando . Se fosse na Inglaterra , seria choro só pra inglês ver .


Há que se considerar também a ' morte intermediária ' : é a ' queima '  do

personagem que parece saber demais . Quando abre a boca para informar

alguma coisa ao detetive, bam ! A morte intermediária é também quase um

lugar-comum .


Bom , os ingredientes estão aí . Você só tem agora que mexer o bolo ,

movimentar as peças . Ah ! Ia esquecendo : e usar a criatividade . "

Nenhum comentário:

Postar um comentário