Definitivamente a vida nunca foi um mar de rosas para o norte-americano EDGAR ALLAN POE ( 1809-1849 ) : nascido em Boston , foi criado por um casal da cidade de Richmond ( Estado da Virgínia ) e chegou até a seguir carreira militar , mas a literatura sempre fez parte de sua vida e foi sua companheira ......Em 1835 , época em que começou a trabalhar no jornal SOUTHERN LITERARY MESSENGER como crítico literário e ensaísta , deu início a profissão que foi em parte responsável por seu prestígio : a de jornalista . Trabalhou também em diversos jornais literários e na revista BURTON ´S GENTLEMN ´S MAGAZINE , onde consolidou a sua carreira jornalística , fazendo críticas literárias até bastante ácidas. Curiosamente , em seus primeiros como jornalista , Edgar aproveitava o tempo livre para escrever poesias , algo pouco em sua biografia . Em 1838 , com o lançamento do livro A NARRATIVA DE ARTHUR GORDON PYM , Edgar começou a criar um novo conceito de literatura : em bora o livro fosse um romance , era cheio de histórias macabras , incluindo canibalismo.......Em 1841 , com o lançamento do livro O ASSASSINATO DA RUA MORGUE , protagonizado pelo personagem AUGUSTE DUPIN , o gênero policial teve a sua certidão de nascimento mas o reconhecimento popular da obra do escritor norte-americano viria apenas em 1845 , quando foi lançado o livro O CORVO . Muito dinheiro , certamente ? Nada disso : o escritor recebeu míseros 9 dólares pela publicação do livro e esse acabou sendo um dos motivos para aumentar ainda a sua dependência em relação ao álcool , ganhando a fama de louco de depravado.....Mas , afinal , o que é necessário para escrever uma história policial que se aproxime , se é que é isso é possível , das obras não só do gênio norte-americano , como também de autores como BRAM STOCKER , MARY SHELLEY e H.P. LOVECRAFT ? Na crônica de hoje o irreverente HILTON GORRESEN dá a dica e nos convida a um passeio pelo mundo do suspense . CONFIRA :
"É fácil escrever um conto policial . Em primeiro lugar , deve acontecer um crime .
Conto ou romance policial sem crime é como praia sem mar , cerveja sem
álcool ,
Claudinho sem Buchecha ( ABAIXO ) , etc. , etc .
Evidentemente , se há um crime, tem de haver uma vítima . Vítima é aquela que
geralmente aparece morta no início da obra .
Se a vítima for rica ou pobre , isso
alterará o cenário do crime . Longe de mim a discriminação , mas pobre ser
assassinado em cenário de rico ,
ou o contrário , já complica mais a coisa .
Tendo a vítima e o crime, o que falta ? Acertou, o criminoso .
Já vou adiantando :
não vá cair no lugar-comum de atribuir a culpa ao mordomo , mesmo porque já
quase não existem mais mordomos .
A trama deve ser complexa . Nada desses crimezinhos cotidianos , sem
imaginação, nos quais basta investigar o ex-marido , o padrasto , o caseiro , o
namorado ciumento ,
o traficante ,
o amante da esposa . Sempre haverá aquele
suspeito para o qual apontam todas as circunstâncias , mas no final se verá que
é inocente . Em alguns casos , o suspeito-inocente poderá ser um dos acima
citados .
Falta agora a estrela do show , o defensor da ordem e da justiça . Tchan ! Aí vem
o detetive .
O detetive esperto, aquele que ' detecta ' o criminoso , que tira
brilhantes conclusões até de um fiozinho fora de lugar , é uma criação do
escritor Edgar Allan Poe ( ABAIXO ) , no século 19 , através de seu detetive amador C.
Auguste Dupin .
Poe foi seguido brilhantemente por Conan Doyle ( ABAIXO ) ( Sherlock
Holmes )
e Aghata Christie ( ABAIXO ) ( Mister Poirot ) .
O detetive não precisa ser bonito.
Sherlock ( ABAIXO ) era um magricela, de nariz adunco ;
Poirot ( ABAIXO ) , um gordinho com um
bigode ridículo .
Deixe a boniteza para o suspeito que transa com a esposa da
vítima .
Agora a cena está armada . A vítima está fazendo o seu papel ( se o conto for
filmado, seu cachê deve ser o mais baixo de todos ) .
O detetive é chamado e
chega com seu velho chapéu amassado e sua capa de chuva , mesmo que o
tempo esteja bom ( mas se o conto se passa em Joinville é bom prevenir ) .
A
inconsolável viúva está derreada numa poltrona , e o detetive já acha que ela
está exagerando . Se fosse na Inglaterra , seria choro só pra inglês ver .
Há que se considerar também a ' morte intermediária ' : é a ' queima ' do
personagem que parece saber demais . Quando abre a boca para informar
alguma coisa ao detetive, bam ! A morte intermediária é também quase um
lugar-comum .
Bom , os ingredientes estão aí . Você só tem agora que mexer o bolo ,
movimentar as peças . Ah ! Ia esquecendo : e usar a criatividade . "
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