A História é uma ciência incrivelmente fascinante e uma prova disto está naqueles livros , muitas vezes e infelizmente chatos , a respeito da história do Brasil .....É muito difícil você jamais ter visto essa gravura : trata-se do quadro INDEPENDÊNCIA OU MORTE , ou O GRITO DO IPIRANGA , de autoria do pintor e desenhista paraibano PEDRO AMÉRICO DE FIGUEIREDO E MELO e que é a mais conhecida ilustração retratando a independência do Brasil ( caso você ainda não se lembra de que gravura se trata , basta procurá-la no GOOGLE ) . Pintado à óleo , na cidade italiana de Florença ( local onde o artista vivia na ocasião ) e tendo como medias 4, 14 cm por 7,60 cm , está embutido em uma das paredes e é uma das atrações do MUSEU PAULISTA , popularmente chamado de MUSEU DO IPIRANGA . E se lhe dissermos que tudo aquilo que está na gravura é mentira ? Para início de conversa , Dom Pedro I não montava um cavalo mas sim um burro ( geralmente em longas viagens utilizam-se mulas e jumentos ) ; a comitiva que o acompanhava era resumia-se a alguns poucos ; os soldados que aparecem no quadro , vestindo imaculadas e belíssimas fardas brancas , montando fortes e garbosos cavalos e empunhando suas espadas são os chamados DRAGÕES DA INDEPENDÊNCIA , corporação militar que obviamente só começaria a existir depois do Sete do Setembro ( consta que foi o próprio Dom Pedro quem planejou o uniforme da corporação ) ; nem Dom Pedro e nem as pouquíssimas pessoas que o acompanhavam usavam naquele ocasião roupas de gala ; a casa que aparece ao fundo da ilustração realmente existe , só que foi construída em 1884 ; a proclamação da independência ocorreu em uma colina e não às margens do hoje poluído e canalizado RIACHO IPIRANGA , como aparece na gravura ; o próprio Pedro Américo se auto retratou no quadro , usando cartola e empunhando um guarda-chuva ( KKKK!!!!!) , sendo que ele nasceu em 1843 , portanto 21 anos após aquele acontecimento e ao contrário do que aparece na ilustração , Dom Pedro não estava com uma fisionomia saudável e com postura ereta e imponente , mas sim com DIARREIA desde a noite anterior e pouco antes do gesto histórico foi fazer as suas necessidades fisiológicas - ou " o número dois " , como diriam alguns - em um mato próximo ( isso foi registrado por um dos integrantes da comitiva ! ) ......Outro detalhe : o quadro foi pintado em 1888, portanto 66 anos após o GRITO DO IPIRANGA , ocasião em que raríssimas pessoas que viveram aquele momento ainda estavam vivas . Então tudo aquilo é uma farsa histórica ? Muito pelo contrário !
Em primeiro lugar Pedro Américo era um artista e os artistas não têm compromisso com os fatos reais , sendo a IMAGINAÇÃO a matéria-prima e o princípio básico de sua profissão . Em segundo lugar a obra foi encomendada pela família imperial brasileira , portanto a ideia era fazer algo que exaltasse não só Dom Pedro e aquele fato mas a própria monarquia que àquela altura estava agonizando e já não contava com os valiosos apoios das elites e de boa parte do Exército , embora ainda tivesse muito apoio popular ( a abolição da escravidão fez com que o imperador Dom Pedro II recuperasse a sua popularidade ), dai a grandiosidade , imponência e ufanismo do quadro . Aliás a própria construção do MUSEU DO IPIRANGA , no exato local onde a independência foi proclamada e que estava sendo planejada desde 1884 , fazia parte dessa estratégia ( o museu só foi inaugurado em 1895 , portanto 6 anos o golpe que implantou a república e atualmente é administrado pela Universidade de São Paulo - USP ) . Outro detalhe : em um dos cantos do quadro aparece um homem , assustado com o que estava acontecendo , conduzindo um carro de bois puxando toras de madeira ; um segundo homem , próximo da comitiva de Dom Pedro e montado em um cavalo e bem ao fundo um negro , de costas para o que estava acontecendo e conduzindo uma mula , sendo que os 3 não têm participação alguma naquele evento histórico .......Esse detalhe não deixa de ser uma sutil crítica de Pedro Américo à própria maneira como a independência foi feita : um arranjo entre as elites eque excluiu completamente o povo ......Pesa contra Pedro Américo um suposto plágio do quadro 1807, FRIEDLAND , de autoria do pintor e escultor francês JEAN LOUIS ERNEST MEISSONIER ( 1815-1891 ) e que retrata uma das vitórias do exército napoleônico : assim como o quadro de Pedro Américo , o quadro foi feito em 1875 , ou 68 anos após o acontecimento , sendo que o francês nem sequer era nascido naquela ocasião......Se é plágio ou não , isso depende do ponto de vista de cada um , mas isso não diminui a qualidade da obra de Pedro Américo , muito pelo contrário : a própria época em que o quadro foi feito só ressalta a genialidade do paraibano , sendo que as comunicações e a quantidade de informações eram precaríssimos .......Ele não é nenhum artista plástico mas domina com destreza as palavras e tem no HUMOR a sua grande arma : na crônica de hoje HILTON GORRESEN nos convida para fascinantes viagens no tempo , tendo como combustível aquele bom humor bem característico seu ......CONFIRA :
"Em meus delírios de imaginação ( frutos da leitura de gibis e dos filmes
americanos na infância ) , sonho que pertenci à Legião Estrangeira ( ABAIXO ) , no norte da
África , para onde se refugiavam os que desejavam esquecer seu passado ou
que, por algum motivo , resolviam fugir de sua pátria .
Enfrentei bravamente os
temíveis tuaregues ( ABAIXO ) do deserto
e – por que não ? – recebi do governo da França
a medalha Legião de Honra ( ABAIXO ) . Ótimo para meu currículo ( e para contar aos netos ) .
Claro , em meu sonho ignoro o malvado sargento ( ABAIXO ) que nos obrigava a
marchar por horas debaixo do sol do deserto , com uma pesada mochila nas
costas ;
os ataques de surpresa do inimigo ( ABAIXO , EXÉRCITO TUAREGUE ) , que deixavam vários companheiros
esparramados no chão com uma bala na testa ;
as intermináveis horas de ócio
dentro do forte , vendo apenas as sinuosas dunas de areia
e as horrendas
caras de ladrões e assassinos refugiados na Legião ( quem sabe até algum
originado da Operação Lava Jato ).
Daí minha imaginação salta para o século 19 , em Paris . ( ABAIXO )
Sou um rico
marquês que frequenta bailes , saraus e a intimidade das belas cortesãs .
Passeio de carruagem nas românticas vias parisienses .
Nas poucas horas que
me deixam essas atividades mundanas , escrevo minhas obras de sucesso .
Mas péra aí : escrever à mão, com pena de pato , até endurecer as juntas
dos dedos ;
viver iluminado a óleo de baleia , sem a água quentinha do chuveiro
elétrico ; ( ABAIXO , ANTIGO LAMPIÃO )
locomover-me numa carruagem com cavalos soltando bosta pelas
ruas ,
e em estradas desconfortáveis e lamacentas ; morar em residências sem
descarga nos banheiros ; estar sujeito a receber uma ' baciada ' de dejetos
urinários e intestinais , ( ABAIXO , NO CANTO DIREITO DA GRAVURA E SEGURANDO UM VASO , ESTÁ UM ESCRAVO " TIGRE " CUJA FUNÇÃO ERA DESPEJAR OS DEJETOS FECAIS NO MAR OU EM RIOS E RIACHOS )
ao passar debaixo de alguma janela ? Nem em sonho !
Passo , então , ao tempo dos cavaleiros da Idade Média .
Não podia dar
outra ( a imaginação é minha ) : pertenço ao nobre circulo da Távola Redonda .
Envolto em minha reluzente armadura , saio pelo mundo a enfrentar tudo o que
vier pela frente , desde monstruosos dragões
até revoltantes pererecas que
assustam as delicadas damas . Escolho uma bela dama ,
a quem dedicarei meu
fiel amor platônico . Pra que maior romantismo ?
Mas quê ? A tal da armadura pesa pra caramba , pareço um astronauta
caminhando na lua ; se levo um tombo não levanto mais do chão .
Não sei como
enfrentar um dragão ( até hoje só me defrontei com o da inflação )
e tenho nojo
de pegar em perereca , aquela coisa fria e gosmenta .
E esse tal de amor
platônico não dá nenhum prazer ( considere o duplo sentido ) .
Imaginar é bonito , não é , leitor ? Mas não deixando de lado tudo que nos
permite a atual tecnologia . "
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