Até mesmo um fato trágico-policial teve lugar ali : em 1981 um de seus proprietários - BENTO CARLOS - acabou morrendo em um assalto , justamente ironicamente no dia em que completava 50 anos de idade.......O nascimento daquele que foi um dos pontos mais tradicionais daquela cidade foi noticiado assim pelo jornal DER VOLKSBOTE , em sua edição de 15 de agosto de 1908 : " ABERTURA DE NEGÓCIO : Comunico ao distinto público de São Bento e adjacências que acabo de inaugurar nesta Vila , na antiga casa 'Becker ' , na rua Glueltzow , um AÇOUGUE Vendendo às terças-feiras e aos sábados , CARNE DE GADO e , ás sextas-feiras , CARNE DE SUÍNOS . Mantenho também uma primorosa FRIAMBEIRA , Recomendando às esclarecidas e dedicadas donas-de-casa , especialidades como : salame rosa , salame 'cervelat ' , chouriço , morcília , linguiça prensada , presunto , finas carnes defumadas , toucinho defumado , etc.....Todos os sábados , á tardinha , salsichas de Viena fresquinhas ! Benevolente afluência pede José Fendrich " ( Joseph , ou José , morreu em 20 de novembro de 1940 e o açougue ficou com os seus descendentes ) ..........Confesse : com certeza você acabou de ficar com água na boca ! Na crônica gastronômico saudosista de hoje o escritor DONALD MALSCHITZKY , um filho de São Bento , relembra uma história relacionada ao tradicional açougue vivenciada por ele mesmo ainda na infância e chama a atenção para o final - nada feliz - desse estabelecimento e que mais uma vez demonstra a criminosa maneira como a história e a memória são tratados no Brasil . CONFIRA :
"Era uma aventura para o menino de, talvez, uns cinco ou seis
anos de idade
que saía do que parecia uma lonjura e andava até o
centro de São Bento ( ABAIXO , RUA DO CENTRO DE SÃO BENTO DO SUL - JORGE LACERDA - EM FOTO DA DÉCADA DE 50 ) levando uma sacola de cabo de argolas de
alumínio que teimavam em azular as mãos.
Dentro dela, um bilhete
especificando a carne que deveria comprar. Entregava- a ao
açougueiro
e a recebia de volta com a encomenda e o valor era
lançado na caderneta.
Às vezes, levava uma lata de biscoitos para colocar a carne
moída.
No caminho, havia um funcionário público que amarrava o
cachorro dele na calçada, em frente a seu local de trabalho.
Na
volta do açougue, ao passar por lá, ele pulou em mim, querendo
brincar, saí da calçada
e o dono dele resolveu dar a ré em sua
caminhonete justamente naquele momento, derrubando-me. Sem
dar-se conta, foi-se embora.
Com o impacto, a lata abriu-se e a carne ficou espalhada no
chão.
O medo de apanhar fez-me ajuntar tudo, levar para casa e
nem comentar o acontecido. Durante o almoço, todo mundo
reclamando que o molho parecia cheio de areia e o pai mandou que
calassem a boca e comessem, pois não havia nada de errado. A
grossura dele ( ABAIXO ) me salvou.
Era o Açougue Fendrich ( ABAIXO ) o da história, e funcionou por mais de
100 anos.
Uma publicação da época da fundação ( ABAIXO , A EDIÇÃO DO JORNAL "DER VOLKSBOTE " , DE 15 DE AGOSTO DE 1908 ) poderia ser usada
hoje em dia para cativar clientes para um estabelecimento
destinado a um público exigente e que busca diferenciais.
As
receitas foram preservadas: é questão de gosto, mas desconheço
salames e salsichas tão saborosos quanto os feitos pelo Fendrich.
Numa casa polonesa de embutidos, no Brooklyn, encontrei uma
linguiça de cozinhar: a única parecida que já provei.
Agora, o Fendrich fechou; sem entrar na discussão de todas
as razões de seu fechamento, há uma fundamental: a falta de
políticas públicas de incentivo a iniciativas que preservem valores
expressos em variadas manifestações culturais. Isso inclui a
culinária, e com ênfase, afinal, podemos até ficar sem cantar, o que
é péssimo, mas não conseguimos ficar sem comer.
E comer deve
ser um prazer e uma forma de preservar e reforçar laços, inclusive
com nossa história.
A história do açougue é emblemática e, infelizmente, junta-se
a de centenas de estabelecimentos que deixaram de existir ( ABAIXO , A FOTO A DESTACA A CONSTRUÇÃO ONDE FUNCIONOU A PADARIA ANEXA AO AÇOUGUE E QUE TAMBÉM PERTENCEU Á FAMÍLIA FENDRICH )
justamente por falta de políticas de valorização.
Está na hora de rever como lidamos com o que nos deveria
ser caro. " ( ABAIXO , A SAUDOSA CONFEITARIA DIETRICH , DURANTE DÉCADAS UM DOS PRINCIPAIS PONTOS DE ENCONTRO DE JOINVILLE E QUE NO FIM DA DÉCADA DE 80 FOI ABSURDAMENTE DEMOLIDA PARA SERVIR DE ESTACIONAMENTO )
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