"Não sinto muita simpatia pelo inverno ( ABAIXO ) . Se ele fosse uma pessoa, me
recusaria a sentar na mesma mesa.
Talvez seja porque sou apaixonado pelas
estações médias, outono e primavera ( ABAIXO ) , nessa ordem. Tenho uma forte relação
psicológica com essas estações, coisa do tempo de menino.
A primavera começava, nos tempos de escola, com a cerimônia de plantar
uma árvore.
A temperatura era sempre fresca, agradável, parecia que
respirávamos liberdade.
As árvores eram parceiras nas explorações de íntimas
florestas.
O outono ( ABAIXO ) , para mim, é um tempo mítico, atemporal, feito de gostos,
cheiros, lugares e ventos. Um tempo no inconsciente ( como é difícil expressar
essas coisas intangíveis, que ficam impregnadas na gente ).
Tempo frio não é bom para caminhar: o choque térmico da friagem
externa com o aquecimento do corpo pode provocar comichão.
E comichão,
além de incomodar, é uma das palavras que constam da minha relação das
mais feias da língua.
Mas não vou deixar que minhas preferências estraguem a alegria
daqueles que apreciam um friozinho. Daqueles que se submetem ao frio para
viajar a certos recantos a fim de apreciar a neve.
Daqueles que esperam a
temperatura baixar para poderem dormir debaixo de três cobertores, para
degustar um vinho ou um chocolate quente.
Não. Devo dizer que tempo frio tem suas vantagens. Podemos tirar do
armário os pesados casacos, as luvas e toucas.
E as mulheres são mais
bonitas no inverno, com seus casacos e botinhas. No inverno não existe mulher feia
Mas o inverno joinvilense é um traidor. Nada de geadas, neves e
nevascas de São Joaquim ( ABAIXO ) ; nada da neve americana, propícia à fabricação de
bonecos e bolas de neve.
Apenas, na maioria do tempo, um friozinho mixuruca
( entremeado de breves ' ondas de frio ' ) que se resolve com um blazer leve.
Não houve jeito, até agora, de tirar do baú belas roupas de inverno ( ABAIXO ) , adquiridas
num impulso consumista e nunca antes usadas. Tenho o costume de comprar
as coisas e viver esperando a melhor ocasião para usá-las.
Roupas que já não
estarão tão folgadas como no tempo em que as comprei. Roupas ( ABAIXO ) têm essa
estranha mania de irem se estreitando em torno de nosso peito e abdome, a
ponto de algumas vezes não conseguirmos mais abotoá-las.
Não pretendo frustrar aqueles que adoram esta época de muita roupa e
de mãos geladas, mas atenção:
nosso inverno já vai se desvestindo, para se
transformar em tempo de camisetas e bermudas. Quem sabe já tenha
terminado quando você estiver lendo esta crônica. "
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