quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Crônicas de Joinville: Azul

Hoje trazemos um texto da contista,poeta e orientadora educacional MÁRCIA CORDEIRO.Além de belo o texto é comovente.CONFIRA: "Cada vez mais azul embrenha-se na floresta. Ela,a menina,desde que nascera só parava de chorar quando sua mãe a vestia de azul.Razão essa de seu nome. Seus pés cansados doíam.Machucados,pois seus sapatos há muito apertavam e não tinham mais a brancura de quando lhes foram presenteados. Agora sua mãe chora copiosamente.Nada podia conter suas lágrimas e entendia que não podia deter sua filha.Não era apenas isso,mas em tudo que Azul se determinava ninguém a segurava. À medida que corria para dentro da floresta ,ia se abrindo um estreito caminho e muito iluminado.Vaga-lumes aos milhares se encarregavam de clarear o percurso.Não sentia mais seus pés doerem,apenas observava as cores brilhantes das borboletas que a acompanhavam. Repentinamente sentia-se elevar-se do chão e se viu flutuando no ar.Elas,as borboletas,ergueram seu corpo magro e esguio de tom lilás e a transportavam suavemente sobre uma aquarela de nuances. Azul agora contemplava sua viagem.Era tudo diferente.Jamais havia feito algo parecido tão belo e resplandecente.As asas das borboletas a conduziam para asas maiores e brilhantes também,porém esbranquiçadas.Os donos dessas asas possuíam sopro em suas bocas e entoavam sonidos nunca ouvidos,dos instrumentos que traziam em suas mãos. Após um período de viagem,aproximaram-se de um grande mar.A menina,encantada com aquele azul espelhado do céu,pontuado por uma espuma que mais lhe fazia sentir o gosto de algodão doce em sua boca,nem notou que já estava de volta ao chão,e ao seu lado surge um menino moreno,cabelos cacheados e compridos,caminhando na areia.Azul vê-se ao lado do menino: -Meu nome é Portãozinho e o seu qual é?-falou o menino interrogativo -Ah,meu nome é Azul-responde com ar descontraído. Portãozinho aponta para seus pés e pergunta: -Ainda doem? A menina então percebe que seus sapatos eram os mesmos,apenas não apertavam mais e estavam brancos como no dia em que os ganhou de presente.Pisca por um momento prolongado e sorri. O corpo lilás de Azul foi colocado lá no meio do jardim das libélulas,num caixão branco junto ao Hospital de Oncologia Infantil de sua cidade."

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