segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Entrevista:professora CLEONICE BERARDINELLI

Agora a primeira parte da entrevista com a professora de literatura CLEONICE BERARDINELLI(FOTO ABAIXO),publicado pelo conceituadíssimo jornal O ESTADO DE SÃO PAULO no último dia 29 de julho.Mais do que uma entrevista agradável,uma lição de vida de uma senhora de 96 anos(!) para as ditas pessoas jovens!E ela ainda leciona..... "'A CARREIRA DE PROFESSORA É A QUE DÁ MAIOR GRATIFICAÇÃO AMOROSA' Aos 96 anos, Dona Cleo, xodó dos amantes da literatura, abre sua biblioteca, recita de cabeça poemas de Fernando Pessoa e dá uma lição de sensibilidade e energia Aos 7 anos, Cleonice Berardinelli escreveu seu primeiro poema – definido por ela como 'minúsculo e ridículo, naturalmente, próprio de 7 aninhos de idade'. Hoje, aos 96, é uma das professoras de literatura mais reconhecidas e queridas do Brasil. Dona Cleo, como é carinhosamente chamada, brinca ao dizer que é meio carioca, meio paulista e muito portuguesa. Sua relação com Portugal não se restringe à paixão pela literatura de lá – ela é especialista em Camões e Fernando Pessoa –, mas pelos muitos amigos portugueses que ainda cultiva. Alguns, inclusive, fizeram questão de prestigiá-la quando tomou posse na Academia Brasileira de Letras, em 2010. Ela ocupa a cadeira de número 8. Formada pela USP em 1938, é professora emérita da UFRJ e da PUC do Rio. Foi orientadora de 74 dissertações de mestrado e 42 teses de doutorado. É unânime. Zuenir Ventura, seu ex-aluno, a apelidou de 'divina Cleo'. E de Carlos Drummond de Andrade ganhou poema, cujos versos dizem: 'Até Fernando Pessoa, com respeitoso carinho/ trago pois, minha oferenda/ de bem humilde vizinho/ nesta ensancha prazenteira/ a justiça que me impede/ à genuína fazendeira/ Cleonice Berardinelli.' Recentemente, atraiu olhares de todo o Brasil ao dividir uma mesa, na Flip, com sua mais nova fã, Maria Bethânia. Durante uma hora e meia, leram poemas de Pessoa selecionados por Dona Cleo. A simpatia do público pelo carisma da professora foi imediata. O carinho foi retribuído nos autógrafos de seu novo livro, Antologia Poética, na mesma noite. “Fiquei exausta, mas virei notável, foi um sucesso”. A professora recebeu a coluna, em seu apartamento, em Copacabana, na zona sul do Rio, antes da vinda do papa Francisco ao Brasil. Católica, ela se disse contente. “Ele é de uma falta de atavios, uma simplicidade impressionante. E escolheu o nome de Francisco. Amo a oração de Francisco”, diz. No seu escritório, montou uma biblioteca – batizada de “Galeria Camões”. Os livros, diz, deixará para a Academia Brasileira de Letras, para que sejam bem cuidados. Além deles e das inúmeras fotografias dos netos e bisnetos espalhadas pela biblioteca, Dona Cleo coleciona uma séria de prêmios e honrarias, acumulados ao longo de sua carreira: 'Das profissões, professora é a que dá mais gratificação amorosa. Tenho mais de mil ex-alunos'. Ela impressiona pela memória. Não esquece um verso de qualquer poeta, recitando tudo de cor. A boa saúde, explica, tem dois grandes motivos: a família e a religiosidade: 'Tenho conversas particulares com o pai do céu. Enquanto eu estiver vivendo como estou… eu gosto de viver'. A seguir, os principais trechos da entrevista. A MESA DA ÚLTIMA FLIP DE QUE A SENHORA PARTICIPOU JUNTO COM MARIA BETÂNIA SOBRE FERNANDO PESSOA ,FOI UM SUCESSO .COMO VOCÊS DUAS SE CONHECERAM? Faz um tempinho. Júlio, nosso mediador na Flip e meu ex-aluno, me disse que Bethânia(FOTO ABAIXO) queria que eu olhasse uma seleção de poemas do Fernando Pessoa, feita por ela, para um show. Fui assistir ao espetáculo, fui ao camarim cumprimentá-la. E foi assim que a conheci. Sobre os poemas, ela pediu que eu escolhesse. Ela é de um grande carinho e delicadeza comigo. E ENTÃO NASCEU UMA AMIZADE? Mais ou menos. Começamos a nos encontrar em muitas homenagens. No Conselho Federal de Educação, na Sociedade Hebraica do Rio de Janeiro(FOTO ABAIXO), em Portugal. E brinquei com ela que estávamos habituadas a receber prêmios juntas. FOI DIFÍCIL FAZER UMA SELEÇÃO DE POEMAS DE PESSOA PARA A FLIP(FEIRA LITERÁRIA DE PARATY-RIO DE JANEIRO-FOTO ABAIXO)? É como tirar pedaços seus, levar e deixar outros pedaços. Mas como escolhemos muitos, não foi tão doído. Mandei para ela com um bilhetinho assim: “Para Bethânia, com a condição de que, corte, acrescente, altere à vontade”. Então, foi engraçado, porque ela tem umas cismas. Por exemplo, ela não diz a palavra “desgraça”. NÃO? Não. E iríamos ler um poema muito bonito que diz assim: “…ou desgraça, ou ânsia – Com que a chama do esforço se remoça/ E outra vez conquistemos a distância/ Do mar ou outra, mas que seja nossa.” Daí ela me disse “Dona Cléo: eu não falo essa palavra”. E eu emendei, dizendo que não tinha importância. Poderíamos trocar por “desgraça” ou por “miséria”. Então mantivemos um poema de que eu gosto muito (risos). MARAVILHOSO. MAS A SENHORA TROCOU MESMO? Sim (risos), tem o mesmo nome – “miséria”, “desgraça”. Mesmo lugar de acentuação, não ia estragar o poema. Então, lá ficou. A SENHORA JÁ AFIRMOU QUE NÃO GOSTARIA DE SER UMA HETERÔNIMA DO POETA, PORQUE O PESSOA(FOTO ABAIXO) FOI MUITO TRISTE. Acho que ele foi, de um modo geral, uma pessoa tendendo mais à infelicidade. Dos heterônimos, o mais “contentinho” é o Alberto Caeiro. O Ricardo Reis não é nem isso nem aquilo, é o equilíbrio.

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