quarta-feira, 20 de julho de 2016

Vive Le France !

Você imaginou as cavernas em que viviam os nossos remotos ancestrais pré-históricos sem as suas  tão características pinturas rupestres ? O Egito sem suas pirâmides e os seus misteriosos desenhos e inscrições ? Os antigos gregos sem a sua fantástica mitologia e seus deuses quase humanos ? O Império Romano sem o Coliseu ( ABAIXO ) e outras monumentais construções que exibiam e exprimiam o  gigantesco poder desse império ? As religiões e organizações secretas , como a Maçonaria , sem seus rituais ? Os países sem suas bandeiras ? ......Enfim , os exemplos são incontáveis e são demonstrações do quanto os SÍMBOLOS são importantes nas sociedades humanas .

 Aliás , toda cidade que se preze tem o seu BRASÃO : além de ser um dos símbolos dessa cidade , de certa maneira ele não deixa de contar um pouco a história dela . Iremos ver agora especificamente o caso de Joinville : em 1929 , a ainda pequena , pacata e fortemente germânica cidade ( ABAIXO ) - que , por sinal , tinha um território maior do que o atual ( incluía os atuais municípios de Jaraguá do Sul , Corupá , Guaramirim e ainda partes de Araquari e Massaranduba )  - já experimentava um fortíssimo progresso econômico , impulsionado pelas exportações de madeira e erva-mate e era preciso , portanto , encontrar algo que simbolizasse  essa pujança e, é claro , a própria cidade e o poder municipal .

Em uma época em que a elite luso-brasileira da cidade dava as cartas , tanto no setor econômico quanto no político , governava Joinville - desde 1927 - o juiz paraibano ULISSES GERSON ALVES DA COSTA e por meio da lei de número 443 , de 27 de abril de 1929 , criou-se o BRASÃO DO MUNICÍPIO DE JOINVILLE ( ABAIXO - extinto durante a ditadura de GETÚLIO VARGAS - entre 1937 e 1945 e que proibia a existência de símbolos municipais e estaduais - , acabou sendo recriado através da lei 71 , de 16 de agosto de 1948 , e revisado , através da lei 1.173 , de 22 de dezembro de 1971 ) .

 Explicar e analisar o brasão exigira um texto um tanto longo e detalhado e no momento esse não é o nosso objetivo ( fica para outra ocasião ! ) mas vamos a um dos desenhos que estão nele : na parte superior direita do brasão , com fundo azul , aparecem os desenhos de 3 FLORES-DE-LIS em posição triangular ( ABAIXO ) e aquilo que os especialistas em HERÁLDICA ( ciência que estuda todos os tipos de brasão ) chamam de LAMBEL ......Tratam-se de dois antigos símbolos nacionais FRANCESES e que foram adotados por aquele país até 1870 , quando deixou de ser uma monarquia .

Imediatamente alguém irá dizer : " Com certeza isso tem a ver com o PRÍNCIPE DE JOINVILLE " . Realmente , isso tem a ver com ele ( o título de PRÍNCIPE DE JOINVILLE vem do nome de uma pequena cidade vizinha a Paris - JOINVILLE -LE -PONT - ABAIXO  - onde a dinastia dos ORLEANS , a família do príncipe , tinha propriedades desde a Idade Média ) e embora jamais tenha posto os pés aqui em terras de Dona Francisca , ele sempre esteve presente :

 como lembramos em uma ocasião anterior , o príncipe era proprietário de uma serraria em local onde hoje está uma das estações da Companhia Águas de Joinville , às margens da atual SC-301 , a antiga ESTRADA DONA FRANCISCA . E seus negócios não se resumiam a isso : por sinal a mais antiga empresa de Joinville - DOMÍNIO DONA FRANCISCA LIMITADA , criada em 1846 - administra alguns terrenos e propriedades ainda existentes em Joinville e região e pertencentes aos descendentes do príncipe ( ABAIXO ) .

      A exemplo de seu irmão , o DUQUE D´AUMALE jamais botou os pés aqui mas muito do processo de colonização e desenvolvimento do distrito de Pirabeiraba deve-se à ele : foi de sua propriedade uma hoje desativada usina de açúcar ( ABAIXO ) que chegou a ser  talvez a maior do Estado e que era abastecida com a cana-de-açúcar cultivada em outras regiões da cidade , como o Cubatão e o Aventureiro .

Mas será que a PRESENÇA FRANCESA em Joinville se resume apenas a seu nome , ao já comentado desenho em seu brasão , à figura do príncipe e aos negócios particulares dele e de seu irmão ? Uma pesquisa mais detalhada irá revelar fatos e números surpreendentes : entre 1851 ( em 12 de dezembro daquele ano o veleiro "NEPTUN " chegou a São Francisco do Sul trazendo 49 passageiros , entre eles o agricultor francês JULIES GENYEMBRE , natural de Paris e então com 22 anos - ABAIXO , GRAVURA DE UM VELEIRO DO SÉCULO 19  )

e 1869 ( em 31 de maio o vapor " ELETRIC "- ABAIXO -  chegou a São Francisco trazendo último imigrante francês de que se tem registro na então colônia Dona Francisca : o ecônomo FERDINAND COLSON , também parisiense e então com 26 anos ) , Joinville recebeu 45 imigrantes franceses , todos católicos .

Em relação às suas profissões , foram 16 agricultores , 1 carpinteiro , 1 ferreiro , 1 sapateiro , 1 titular de rendas , 2 criadas , 2 ecônomos , 1 operário e ainda 5 mulheres solteiras ( infelizmente as listas de imigrantes não especifica as profissões que exerciam ) e algumas  curiosidades : o navio que trouxe o maior número de imigrantes franceses foi o veleiro " RALEIGHT " , que chegou a São Francisco em 3 de julho de 1860 trazendo 11 pessoas ( no total eram 254 passageiros ) ; ( ABAIXO , GRAVURA FEITA EM 1852 DA CASA DO FRANCÊS LEONCE AUBÉ )

os funcionários franceses do príncipe que foram para a então colônia Dona Francisca não constam nas listas de imigrantes e já muito tempo antes da fundação oficial de Joinville , mais precisamente em uma das margens do ribeirão Mathias ( ABAIXO ) e próximo a atual RUA NOVE DE MARÇO ( a antiga PICADA DO JURAPÉ ) , vivia em uma rústica cabana um francês conhecido apenas como M. FRONTIN e que era oriundo da fracassada colônia de franceses estabelecida na península do Saí  em 1842 .......

Fazendo-se uma análise baseada apenas na frieza dos números , a quantidade de imigrantes franceses parece ser muitíssimo inexpressiva perto das multidões de povos de língua alemã , como austríacos , saxões , prussianos , hannoverianos , suíços e , em grau muito menor , suecos e dinamarqueses  mas um fato reforça a importância daqueles poucos franceses e que inexplicavelmente não é contada pela história oficial de Joinville : na região equivalente ao atual bairro SAGUAÇÚ ( ABAIXO ) existiu uma comunidade conhecida como " COLÔNIA FRANCESA " e que era constituída em sua maioria por imigrantes SUÍÇOS de fala e cultura franceses .

A origem dessa pequena comunidade está em estrada que começou a ser aberta em janeiro de 1852 , por um grupo de 10 homens liderados pelo suíço JOHANN WEBER ( por sinal , essa foi a primeira estrada a ser aberta em direção a SERRA DONA FRANCISCA ) e cujo ponto inicial foi uma antiga fazenda existente provavelmente desde o ano de 1807 e que pertencera a MANUEL DE OLIVEIRA CERCAL , em local onde hoje está o ARQUIVO HISTÓRICO DE JOINVILLE .....( ABAIXO )

     E a surpresas não param por aí ......Ainda pesquisando e analisando os primórdios de Joinville , encontramos 3 franceses que tiveram muitíssima importância no processo de construção e desenvolvimento de Joinville . O primeiro deles atendia pelo nome de LEONCE AUBÉ ( 1816 -1877 - ABAIXO  ) : engenheiro e representante oficial do príncipe ( foi ele quem em 5 de maio de 1849 , mais especificamente em Londres , assinou o contrato com a Sociedade Hamburguesa cedendo as 8 léguas quadradas de terras à essa empresa ) , foi ainda funcionário da Sociedade Hamburguesa em Joinville , diretor da colônia Dona Francisca entre 1855 e 1860 , deputado provincial em Santa Catarina entre 1858 e 1859 ,

um dos primeiros desbravadores de Joinville (  foi o primeiro a escalar o MORRO DA TROMBA , no atual distrito de Pirabeiraba , em 8 de março de 1854 ) , vice-cônsul da Franca em Santa Catarina e responsável pelas já citadas estrada e colônia no atual bairro Saguaçú . Por sua destacada atuação , acabou recebendo , em 9 de outubro de 1857 , a comenda da ORDEM DE CAVALHEIRO DA ROSA ( ABAIXO )  e hoje dá nome a uma movimentada via no bairro Boa Vista .

Alguns anos mais tarde um outro francês , também ligado ao príncipe , apareceu na história de Joinville para ser protagonista : trata-se de FREDERIC BRUESTLEIN ( 1835 -1911- ABAIXO  ) , nascido na cidade de Mulhouse ( região da Alsácia-Lorena , durante séculos disputada e dominada pela Alemanha , daí o seu sobrenome germânico ) e radicado em Joinville em 1865 . Representante oficial do príncipe , idealizador e responsável pela construção do PALÁCIO DOS PRÍNCIPES ( o atual Museu Nacional ) e pelo surgimento da  alameda que hoje leva seu nome , pode-se dizer que foi prefeito de Joinville em duas ocasiões :

 a primeira entre 1875 e 1889 , quando foi diretor da colônia Dona Francisca ( em certa época Joinville chegou a ter 3 poderes : o do príncipe , o da Sociedade Hamburguesa e a da Prefeitura ) , e entre abril de 1895 e janeiro de 1899 , quando foi prefeito propriamente dito . Também foi um grande empreendedor e visionário : em 1878 criou a primeira empresa a explorar comercialmente o trajeto fluvial entre Joinville e São Francisco e cuja estação de embarque e desembarque existia na altura da atual rua Sete de Setembro (  a embarcação que realizava o trajeto era o VAPOR BABITONGA - ABAIXO - , que tinha 13 metros de comprimento , capacidade para 30 passageiros e operou entre 1878 e 1930 ) .....

     Que a antiga ESTRADA DONA FRANCISCA  ( ABAIXO ) foi importantíssima não só para Joinville mas também para várias cidades e localidades da região  não há a mínima dúvida mas um homem teve destacada participação nisso : trata-se de ETIENNE DOUAT , engenheiro responsável pelas obras daquela estrada entre 1874 e 1880 .

Também a primeira usina hidrelétrica de Joinville seria uma obra sua : em 1906 adquiriu um vasto terreno na região do rio Piraí e chegou até a fazer estudos e planejamentos para a construção da usina só que um acidente , porém , interrompeu seus planos : naquele mesmo ano de 1906 acabou sendo vítima de um tiro de sua própria espingarda durante uma caçada e gravemente doente , vendeu a concessão da usina para o empresário DOMINGOS DA NOVA . ( ABAIXO , FOTO DATADA DE 1908 DA CONSTRUÇÃO DA USINA )

É patriarca de uma importante família de empresários , da qual saiu 4 presidentes da poderosa ACIJ ( Associação Comercial e Industrial de Joinville ) e ainda um prefeito : ARNALDO MOREIRA DOUAT (ABAIXO -  nomeado pelo então governador NEREU RAMOS , exerceu o mandato entre 1940 e 1944 e foi talvez o grande incentivador da aviação em Joinville , tendo sido um dos fundadores e presidente do hoje extinto AEROCLUBE DE JOINVILLE entre 1941 e 1962 , quando faleceu ) .......

Até pouco tempo atrás quem caminhasse pela pequena , tranquila e calma rua SENHORINHA SOARES , no bairro Floresta , se depararia com duas bandeiras - uma da Itália e a outra da França - no prédio amarelo ( ABAIXO ) de número 62 .....A presença da bandeira italiana é óbvia : ali desde 2004 funciona a sede do CIRCOLO ITALIANO DI JOINVILLE . E a bandeira da França ? Bom , ali também funciona a sede da ALIANÇA FRANCESA DE JOINVILLE e que por sinal é até mais antiga do que o Circolo Italiano : ela está em Joinville desde 5 de novembro de 1986 .

 Como o próprio nome já indica ela ocupa-se , entre outras coisas , da difusão da língua ( ABAIXO , AULA DE FRANCÊS ) e cultura francesas ( algo que raríssimas pessoas sabem : o francês é uma das línguas opcionais na grade de ensino das escolas públicas municipais de Joinville ) e ainda de eventos como exposições de obras de artes , apresentações teatrais e musicais , exposições temáticas e o tradicional FESTIVAL DA MÚSICA , evento realizado na França desde 1982 ( em Joinville é realizado desde 1995 ) e ainda em mais 98 países ......

 Enfim , a importância da França para Joinville é muito maior do que se imagina e os fatos e nomes que acabaram de ser expostos mais uma vez demonstram o quanto a história de Joinville é mal explorada ( alô historiadores locais ! ) , com  esse tema EXIGINDO pesquisas , estudos , análises e trabalhos bem detalhados e aprofundados . Mais de um século já se passou mas a cidade de Joinville ainda continua exercendo atração sobre os compatriotas de BRIGITTE BARDOT ( ABAIXO ) , ASTERIX , OBELIX , CHARLES DE GAULLE , ALAN DELLON , ZINEDINE ZIDANE ( ai !!! ) e companhia limitada : no curtíssimo vídeo do dia uma turista francesa revela o que mais a chamou a atenção na cidade . A julgar pelo paradisíaco local onde foi feita a micro entrevista , com certeza  muito mais coisas chamaram a atenção da turista .......VALE A PENA CONFERIR !

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