terça-feira, 24 de setembro de 2013

Liberdade,abre suas asas sobre nós !

Quando se aborda o tema ESCRAVIDÃO NO BRASIL logo vem a mente lugares como Rio de Janeiro,Bahia e Minas Gerais,onde ela foi largamente utilizada e onde também a população negra é muito expressiva e fortemente influente na cultura local.Mas em Joinville,tida como uma cidade "alemã" houve escravidão?Muito antes da fundação oficial de Joinville,em 9 de março de 1851,centenas de pessoas de origem portuguesa já viviam na região(vale lembrar que São Francisco do Sul,a mais antiga cidade da região e do estado,foi fundada em 1658)e muitos deles descendiam de parentes e companheiros de MANOEL LOURENÇO DE ANDRADE,o fundador de São Francisco do Sul,que acabram se "espalhando" pela região.Famílias como VIEIRA,BUDAL ARINS E ROSÁRIO descendem desses pioneiros.Boa parte desses primeiros ocupantes tinha escravos e um deles,JOÃO ANTÔNIO VIEIRA,tinha grandes quantidades de terra onde hoje existem os bairros Itaum e Bucarein(no local da atual ponte Mauro Moura já existia um pequeno porto,antes mesmo da fundação de Joinville-FOTO ABAIXO)e consequentemente muitos escravos.Ele foi de fundamental importância na fundação de Joinville,auxiliando os imigrantes e inclusive cedendo escravos para o transporte de mercadorias e imigrantes do porto de São Francisco para a recém fundada colônia.Aliás bairros como Boa Vista,Cubatão e Paranaguamirim foram ocupados antes mesmo da fundação de Joinville. Antes do surgimento do primeiro cemitério católico de Joinville,em outubro de 1870(nas proximidades da atual avenida Juscelino Kubitscheck),foram enterrados vários escravos no atual Cemitério dos Imigrantes(FOTO ABAIXO),juntamente com os imigrantes luteranos.No período entre abril de 1862 e julho de 1870,foram enterrados 8 escravos,em sua maioria crianças.E além dos brasileiros que já viviam na região,com o desenvolvimento de Joinville impulsionado pela indústria de erva-mate,vieram muitos brasileiros(especialmente donos de moinhos de erva-mate do Paraná e moradores de localidades vizinhas como Araquari)que trouxeram escravos e estabeleceram-se no núcleo da então colônia Dona Francisca juntamente com os imigrantes. Jornais locais como FOLHA LIVRE,GAZETA DE JOINVILLE E KOLONIE ZEITUNG(durante muito tempo o principal jornal de Joinville e escrito exclusivamente em alemão-FOTO ABAIXO) traziam notícias relacionadas a escravidão,especialmente a partir de 1884(época em que o movimento abolicionista ganhava muita força no país).A pouco mais de uma no da abolição da escravidão,em março de 1887,existiam 96 escravos em Joinville e ainda 24 negros forros(libertos) e na tarde de 26 de fevereiro de 1888,no salão Kuehne,foram libertados em uma solenidade 40 escravos.A solenidade contou entre seus oradores com ABDON BAPTISTA(grande liderança política e empresarial de Joinville na época)e IGNÁCIO BASTOS(com grande atuação nas áreas cultural e política de Joinville).Na chuvoso noite de 13 maio de 1888 desfilaram pela Rua do Príncipe ex-escravos ,tendo a frente a banda 28 de setembro,composta apenas por negros.A seguir um excelente texto do BLOG HISTORIANDO,que traz preciosas informações a respeito da escravidão em Joinville e que de certa forma ajuda a desfazer o mito de cidade "germânica " de Joinville.CONFIRA: "Mais um autor registra a presença de escravos rurais, foi na região da Colônia Dona Francisca (atual Joinville). O historiador Dilney Cunha, segundo o jornalista Gustavo Meneghim, acabou com o mito que entre os colonizadores de Joinville não houve escravocratas. Dilney relatou em seu livro “História do Trabalho em Joinville - Gênese”, que no início da colonização em Joinville, no ano de 1856, houve na região uma forte tendência à produção do artesanato, comércio, exportação de madeira (que foi a primeira grande fonte de renda da região). Em seguida relata a produção e exportação de erva-mate e de cana-de-açúcar, cuja usina ficava em Pirabeiraba. A prática de ter escravos era comum entre os luso-brasileiros, porém isto não quer dizer que os imigrantes ficavam alheio a isto: Trata-se do caso de Felizarda, africana, falecida em 1880 com “mais ou menos” 45 anos, escrava de Gustavo Seiler, um dos mais ricos comerciantes locais e feitor do engenho de erva-mate de Eduard Trinks. De Seiler, sabe-se apenas que foi nascido na Suíça e que era primo do primeiro prefeito de Joinville, Ottokar Doerfel(NOTA DO BLOG:A CASA DE OTTOKAR DOERFEL FOI CONSTRUÍDA COM MÃO-DE-OBRA ESCRAVA É HOJE O MUSEU DE SRTE DE JOINVILLE-VER FOTO ABAIXO)”[...] A região de Joinville já contava com escravos desde o início das Sesmarias (latifúndios de luso-brasileiros) onde por volta de 1850 existiam em torno de 60 a 70 escravos. Entre a população local, também existiam diversos escravos libertos e outros “emprestados” a imigrantes da região e que realizavam todo o tipo de oficio, de barqueiros, artesãos a criados. O próprio Inácio Lázaro Bastos, telegrafista, jornalista, teatrólogo, professor e uma das principais lideranças republicanas da região (vide rua Inácio Bastos), chegou a Joinville nesta época, proveniente da Desterro (Florianópolis) com sua escrava. A região de Joinville já contava com escravos desde o início das Sesmarias (latifúndios de luso-brasileiros) onde por volta de 1850 existiam em torno de 60 a 70 escravos. Entre a população local, também existiam diversos escravos libertos e outros “emprestados” a imigrantes da região e que realizavam todo o tipo de oficio, de barqueiros, artesãos a criados. O próprio Inácio Lázaro Bastos, telegrafista, jornalista, teatrólogo, professor e uma das principais lideranças republicanas da região (vide rua Inácio Bastos), chegou a Joinville nesta época, proveniente da Desterro (Florianópolis) com sua escrava. Na Colônia Dona Francisca(FOTO ABAIXO DE 1866) existia um verdadeiro apartheid (separação exclusiva de negros), que eram proibidos de freqüentar qualquer um dos clubes que brancos freqüentavam.A segregação racial, segundo o livro, era motivo de orgulho dos ditos “alemães” que se viam como exemplos de civilização. O sucesso da usina de açúcar de Pirabeiraba foi registrado por um dos mais renomados historiadores, Carlos Ficker, que descreveu em sua obra: “História de Joinville: Crônica da Colônia Dona Francisca”, a reprodução de um relatório produzido pelo Senhor Bruestlein, prefeito de Joinville em 1880, onde o mesmo enaltecia o plantio e o beneficiamento da cana-de-açúcar de Pirabeiraba. O sucesso desta usina foi tão expressivo, que em dezembro de 1884, Sua Alteza Real o Conde d’Eu, esposo da Princesa Isabel, permaneceu três dias em Joinville, visitando a Fazenda Pirabeiraba e outros estabelecimentos industriais e rurais, desta colônia. O interessante é que em nenhum momento o Sr Frederico Bruestlein, administrador da Colônia Dona Francisca, mencionou a presença de escravos na Fazenda, ou em qualquer outra parte da região, até porque sua propriedade fazia divisa com a Fazenda Gomes, onde faziam uso de mão obra escrava. Acreditamos que esta ausência de registros foi proposital, em virtude de uma legislação que proibia as Colônias de Imigrantes fazerem uso desta mão de obra. Nesta linha também segue o grande historiador Carlos Ficker, pois em sua obra sobre a colonização joinvilense, fez vários paralelos com acontecimentos políticos e sociais no âmbito nacional em sua narrativa cronológica, porém quando chegou ao ano de 1888, registrou em quatros linhas que na noite do dia 15 de maio, “… sob chuvisco e tempo nebuloso, percorreram a cidade de Joinville os negros, mulatos, moradores da redondeza, soltando foguetes…”. Com certeza não foram os escravos de São Francisco do Sul, que se deslocaram até Joinville para homenagear a Princesa Isabel e o Conselheiro Antonio Prado, mas sim os próprios escravos joinvilenses, que tanto os historiadores tentam “Invisibilizar”. O viajante Auguste de Saint-Hilare(ILUSTRAÇÃO ABAIXO), em sua passagem por São Francisco do Sul em 1820, registrou em sua obra um censo populacional significativo, pois da população de 4.028 pessoas, 871 eram escravos. Acrescentou que o número de escravos não crescia proporcionalmente ao número da população livre, por uma questão econômica, pois devido à falta de recursos, os agricultores optavam pela aquisição de dois escravos homens, que era muito mais lucrativo, ao invés de um casal. Relacionou a mão obra escrava com o cultivo da cana-de-açúcar, dizendo que esta cultura dá-se muito bem, porém toda a produção era empregada na fabricação de aguardente. Diante deste registro podemos verificar a significativa presença escrava nesta região, inclusive nas plantações de cana-de-açúcar. 3 REGISTROS E CASTIGOS Encontramos mais registros de escravos rurais na Colônia Dona Francisca (atual Joinville), inclusive listando-os como propriedades do Sr João Gomes de Oliveira, proprietário de uma Fazenda no Rio Cubatão Grande, por volta da década de 1880(ABAIXO REGISTRO DE COMPRA DE ESCRAVOS). Observe o texto de Ricardo Costa de Oliveira: Alguns escravos do meu trisavô João Gomes de Oliveira, fazendeiro do Rio Cubatão Grande, município de Joinville, Santa Catarina, por volta da década de 1880. Eram classificados como de regular moralidade. Bernarda, preta, 24 anos, solteira, da lavoura e apta para todos os serviços. Com quatro pessoas de família Benta, preta, 25 anos, com tres pessoas da família. Theodora, preta, 27 anos, com tres pessoas de família. Rosália, preta, 17 anos, sem família. Lucrécia, preta de 11 anos. André, preto de 32 anos, Joaquim, preto, de 25 anos, Luiz, pardo, 29 anos, João, preto, 21 anos. Marcos, preto, 14 anos, Fabricio, preto, 14 anos, Gaspar, preto, 13 anos. Antonio, preto, 13 anos, Ventura, preto, 14 anos. Em 15/3/1888 consta o óbito de Gaspar, afogado no Rio Cubatão Grande. Escravo de João Gomes de Oliveira. O corpo foi encontrado rio abaixo, no terreno de Herman Vetlerdander." Em 1960 lideranças negras de Joinville,barradas nos clubes tradicionais da cidade, fundaram a sociedade KÊNIA CLUBE,percussora do carnaval de rua de Joinville.Atualmente cerca DE 17,4% da população de Joinville é negra,sendo a maior população negra do estado ou nos termos politicamente corretos de hoje,AFRODESCENDENTE(FOTO ABAIXO).

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