segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Momento Lírico: Viver

O poeta e apresentador de televisão FABRÍCIO CARPINEJAR(FOTO ABAIXO0 escreveu um ótimo texto que retrata perfeitamente a vida vazia da sociedade atual,rica em avanços tecnológicos e paupérrima em avanços pessoais.VALE A PENA LER! "Nossa vida está perdendo consistência. Espessura. Segurança. Estamos mais sujeitos a mudar do que a insistir. Estamos mais sujeitos a nos separar(FOTO ABAIXO) do que a permanecer casados. Estamos mais sujeitos a ir embora do que a voltar para casa. O mundo está tomado de mutantes, zeligs, camaleões, transformers. Se algo incomoda, se algo atrapalha, o botão Desapego é rapidamente acionado. Como não pretendemos sofrer, caminhamos para a total insensibilidade. Deixa-se o começo por outro começo. Não há mais meio ou fim, o que vigora é a desistência. Substituímos a responsabilidade pela ideia de liberdade. Experimentar é a lei – fazer patrimônio e futuro não tem sentido. Anteriormente, nos dedicávamos à família. Agora, nossa obsessão é o prazer pessoal. Danem-se as complicações. A aparente leveza se assemelha a desenraizamento. Buscamos chegar logo, não olhar a paisagem. A velocidade é o que nos provoca. Buscamos desembarcar logo num novo destino, não nos vale a estrada. A viagem deve ser curta e indolor, jamais reflexiva e longa. Não estou sendo dramático. Na infância, tínhamos três canais de tevê. Hoje, são mais de 300. A variedade nos conduz a não nos fixarmos em nada durante grande tempo. Ter um romance longo é quase uma insanidade, assim como ler um livro de 400 páginas ou assistir a um filme de três horas. Não oferecemos chance para permanência, para a rotina, para a confirmação das expectativas. Não toleramos o desgaste, o tentar o possível antes de se despedir. Sacrifício e renúncia são expressões banidas do vocabulário, significam burrice. 'Perder tempo com alguém, com tanta gente interessante por aí?' é o que nos dizem. O oi já é um convite, o tchau já é um adeus, não existe relacionamento seguro e firme que suporte a tempestade de contradições. São muitos apelos para biografias imaginárias. São muitas opções de ser diferente, que nem descobrimos quem somos. É sempre alguém nos chamando no Facebook ou nas redes sociais com uma história incrível, extraordinária, afrodisíaca, que é um crime não provar. É sempre alguém oferecendo conselhos, dicas, sugestões. Repare. O mundo virou sábio de repente: todos têm soluções, ninguém mais convive com seus problemas. Não me refiro à infidelidade amorosa, mas ao quanto somos infiéis com o nosso passado. Não é trocar de parceiro ou parceira, mas trocar de tudo: largar emprego, cidade, amigos, esportes, manias. Troca-se de mentalidade mais do que de opinião. E é tão fácil descartar, difícil é refinar a própria vida. Mas se você concluiu a leitura desta crônica, ainda há esperança. Esperança de não virar a página por um momento

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