sexta-feira, 14 de março de 2014
Entrevista : JORDI CASTAN
MILENAR , COM UMA DIVERSIDADE DE PAISAGENS E CULTURAS E FASCINANTE , com essas breves palavras poderia ser definido o que é um complexo país chamado ESPANHA . A partir do final do século 15 começou a haver uma verdadeira diáspora espanhola , primeiramente como conquistadores e colonizadores da América e a partir do século 19 como imigrantes , dirigindo-se principalmente para a América Latina e concentrando-se em grandes centros urbanos como Buenos Aires , Cidade do México , Bogotá e São Paulo . Em abril de 1985 um espanhol natural da bela , milenar e cosmopolita cidade de Barcelona mudou-se para uma cidade , na época com cerca de 250.000 habitantes , de colonização predominantemente alemã , nome francês , atividade cultural pequena e pouco divulgada e uma fama de "amor a ordem e ao trabalho " . Desde 2011 o urbanista e consultor empresarial JORDI CASTAN , com mais sete "comparsas" mantém um blog chamado CHUVA ÁCIDA , em que analisa inúmeros acontecimentos , principalmente aqueles que ocorrem aqui pelos lados da terra de Dona Francisca . O blog questiona os "nobres" representantes do povo locais , a passividade do povo de Joinville e a tal ideologia do "respeito à ordem e amor ao trabalho" e é de JORDI CASTAN a honra de ser o primeiro estrangeiro a ser entrevistado pelo ALAMEDA CULTURAL . Mais do que uma entrevista , as declarações de JORDI CASTAN ( FOTO ABAIXO ) servem como uma reflexão sobre a cidade de Joinville . CONFIRA :
"1- QUAIS FORAM AS SUAS PRIMEIRAS IMPRESSÕES AO CHEGAR EM JOINVILLE ?
JORDI - Primeiro que é importante lembrar que cheguei a Joinville em abril de 1985, a cidade era por tanto muito diferente da Joinville de hoje.
Se recapitulo um pouco há pouca semelhanças entre as duas cidades, estamos falando de quase três décadas.
A Joinville daquela época era uma cidade com mais personalidade. Era possível identificar uma identidade definida. A minha lembrança é que a vida cultural era menos que a atual, mas era de melhor qualidade. Feita com menos recursos e muito mais esforço e compromisso. ( ABAIXO , FOTO DE FEIRA LITERÁRIA QUE ACONTECIA NA PRAÇA NEREU RAMOS )
O MAJ tinha um calendário de exposições que justificavam sair de casa e enfrentar a garoa de julho ou agosto.
Mas a oferta cultural era pouquíssima.
Fazer cultura em Joinville é desde sempre tarefa de heróis, trabalho árduo numa cidade em que a mentalidade cartesiana predomina sobre a criativa. ( ABAIXO , LINHA DE PRODUÇÃO DA FUNDIÇÃO TUPY )
2 - QUE DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS EXISTEM ENTRE BARCELONA E JOINVILLE ?
JORDI - Não há como comparar duas cidades tão diferentes, as cidades são o resultado da sua historia, do seu planejamento urbano, do seu modelo econômico, da sua vida politica, das suas escolas e universidades, das pessoas que as escolheram para viver ou dos motivos que aqui as trouxeram.
Joinville é uma cidade nova, num país novo. , ainda, uma tradição que mereça ser preservada. Em Joinville há uma sensação que velho e ruim e moderno é bom e estamos destruindo qualquer referencia do passado. Não estamos deixando pedra sobre pedra e uma boa parte da historia e da cultura da cidade tem se perdido. ( ABAIXO , FOTO DE CONSTRUÇÃO ANTIGA E QUE ESTÁ CONDENADA , SITUADA EM FRENTE AO CEMITÉRIO DOS IMIGRANTES )
Na Europa em geral e em Barcelona ( FOTOS ABAIXO ) de uma forma muito especial há um equilíbrio entre modernidade e historia, entre preservação e desenvolvimento. A vida cultural num ambiente assim é mais rica, mais plural e mais livre.
3 - O QUE O LEVOU A TER UMA VISÃO CRÍTICA DA SOCIEDADE E A CRIAR O BLOG CHUVA ÁCIDA ?
JORDI - O Chuva Ácida é um projeto coletivo, o José António Baço, ( FOTO ABAIXO )
o Felipe Silveira ( FOTO ABAIXO )
e eu vínhamos amadurecendo a ideia de um blog como o Chuva Ácida, um espaço em que tivessem cabida diversas visões, opiniões divergentes e que propiciasse o dialogo. Joinville tem por tradição uma enorme dificuldade para lidar com a critica, aqui prevalece a unicidade de pensamento. Questionar a posição oficial é visto como um perigo para a ordem pública. Isso evidencia a falta de maturidade política que Joinville ainda vive, e nem falo de política partidária, essa sim que é vergonhosa, falo aqui de política no sentido de exercer a cidadania. Nisso estamos engatinhando e o Chuva Ácida se propõe desde seu inicio a estimular este debate.
4 - JÁ SOFREU ALGUMA REPRESÁLIA POR CAUSA DE SUAS OPINIÕES ?
JORDI - Sofrer represálias me parece um termo muito forte. Digamos que não. Há sim ataques permanentes de anônimos ou nem tão anônimos que incapazes de participar de um debate partem para o ataque pessoal. A velha tática do ataque "ad hominem" o puro ataque pessoal. Num principio incomodava, hoje nem respondo. Mas si alguns outros membros do coletivo tem sofrido represálias, chegando a perder os seus empregos. Numa situação que evidencia o como Joinville pode ser uma cidade provinciana e menor. Não poucas vezes na prefeitura alguns posts do Chuva Ácida tem sido objeto de comentários pouco elogiosos em reuniões do secretariado. ( FOTO ABAIXO )
É curioso que um blog como o Chuva Ácida possa incomodar tanto.
5 - COMO VOCÊ EXPLICA O FATO DE JOINVILLE SER UMA CIDADE CONSERVADORA ?
JORDI - Como poderia não ser conservadora? O modelo econômico é concentrador de renda e conservador, o poder esta em mãos de poucos e sempre os mesmos, fora essa nova geração de políticos aos que Monteiro Lobato ( GRAVURA ABAIXO )
incluiria nesta definição : 'A política virou um privilégio restrito, com feroz exclusivismo à casta dos mais audaciosos amorais' . As nossas universidades fazem parte desse jogo e contribuem a manter esse conservadorismo. É difícil imaginar outra cidade, mais moderna, plural, diversa e democrática sem que mudem muitas coisas. E esta é uma mudança que não acontecera sem um certo confronto. Quem detêm o poder ( FOTOS ABAIXO ) , também o poder cultural não tem a menor intenção de perde-lo ou de comparti-lo.
6 - COMO VOCÊ VÊ A CULTURA EM JOINVILLE ?
JORDI - Acho que a lei de incentivo a cultura e os projetos apoiados pelo mecenato são boas iniciativas, uma divida que Joinville tem com Rodrigo Bornholdt, ( FOTO ABAIXO )
mas falta muito. Hoje a infra-estrutura cultural esta sucateada, os espaços que poderiam alavancar a vida cultural correm risco, estão abandonados e não existe um projeto viável nem para a Cidadela Cultural Antarctica, nem para a antiga prefeitura que já tem sido destinada a outro uso, sem que o setor cultural tenha se manifestado. No caso da cidadela ( FOTOS ABAIXO ) , o resultado hoje é mais um cortiço cultural que uma cidadela.
7 - O QUE PODERIA SER FEITO PARA MELHORÁ-LA ?
JORDI - Me surpreendre a passividade e omissão dos agentes culturais, dos artistas, dos produtores, do que em outros lugares seriam as forças vivas da cultura, não vejo nem que estejam unidos, nem que se mobilizem, cada um procura resolver seu lado é uma pena. A impressão é que a cultura esta toda dominada. Sem que o setor se mobilize e se organize é difícil imaginar que alguma coisa possa mudar. Outro aspecto que me chama a atenção, num olhar "estrangeiro" é como o joinvilense confunde uma agenda cultural com ter cultura. Produção cultural ou vida cultural são coisas bem diferentes a ter uma agenda cultural. ( ABAIXO , FOTOS DE MURO COM GRAFITE NO BAIRRO AMÉRICA E ATORES DA TEATRO BOLSHOI )
.
8 - POR ÚLTIMO , QUE MENSAGEM DEIXARIA AOS LEITORES DO ALAMEDA CULTURAL ?
JORDI - Que acreditem na cultura como o melhor caminho para mudar esta cidade para melhor. Lembro de uma frase que expressa bem essa idéia "O desenvolvimento a traves da cultura" por que a cultura também é desenvolvimento.
É só ver quando a cultura gera de recursos na França, ( ABAIXO , FOTO DO PALÁCIO DE VERSALHES )
na Grão Bretanha ( FOTO ABAIXO )
ou na Espanha. ( FOTO ABAIXO )
Aqui ainda é vista como despesa e não como uma geradora de riqueza e de emprego.
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