Religioso ( era praticante de candomblé e umbanda ) e apaixonado por futebol ( era torcedor dos inofensivos Ypiranga , de Salvador , e Bangu , do Rio de Janeiro ) como boa parte dos brasileiros , Jorge Amado também era extremamente politizado : era militante do PARTIDO COMUNISTA brasileiro e via na literatura uma maneira de denunciar as mazelas da sociedade e também como um agente de transformação social . Chegou a ser preso durante a ditadura do populista GETÚLIO VARGAS ( que ocorreu entre 1937 e 1945 , com o nome de ESTADO NOVO ) e chegou a ser eleito deputado federal constituinte pelo Estado de São Paulo , em novembro de 1945 . Em uma época em que a imensa e esmagadora maioria da população brasileira era analfabeta e vivia no campo , Jorge Amado apresentou vários projetos relacionados à Cultura , só que infelizmente não pôde fazer muita coisa : em 1948 o Partido Comunista brasileiro foi declarado ilegal e ele acabou tendo o seu mandato cassado . Viveu no exílio duas vezes , sendo que em uma delas escreveu o romance SUBTERRÂNEOS DA LIBERDADE ( publicado em 1954 ) , em que denuncia a violência , os desmandos e as arbitrariedades cometidas durante a ditadura getulista . Essa primeira fase , que foi de 1931 a 1956 , quando rompeu com o Partido Comunista em virtude das atrocidades cometidas na então União Soviética pelo ditador sanguinário JOSEF STALIN ( 1879-1953 ) , foi caracterizada tanto pela literatura politicamente engajada como por histórias tendo a região cacaueira da Bahia como cenário . São dessa época clássicos , como CACAU ( 1933 ) , JUBIABÁ ( 1935 ) , CAPITÃES DE AREIA ( 1937 ) e SEARA VERMELHA ( 1946 ) . Já a partir de 1958 , com a publicação de GABRIELA , CRAVO E CANELA , suas histórias passaram a ter como protagonistas os chamados anti -heróis , ou seja malandros bufões , e personagens femininas esbanjando sensualidade . São dessa época clássicos , como OS VELHOS MARINHEIROS ( 1961 ) , TERESA BATISTA CANSADA DE GUERRA ( 1972 ) , DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS ( 1966 ) e TIETA DO AGRESTE ( 1977 ) . Formado em Direito , jamis exerceu a profissão e foi uma das raras pessoas a viverem exclusivamente da literatura . Eleito membro da ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS , em abril de 1961 , faleceu em 6 de agosto de 2001 , a apenas 4 dias de completar de 89 anos de idade . OS MELHORES BEBEM NAS MELHORES FONTES.......A seguir transcrevemos uma carta escrita pela escritora blumenauense URDA ALICE KRUEGER , um dos nomes mais expressivos da literatura catarinense , destinada ao grande escritor baiano . CONFIRA :
" Blumenau, 12 de outubro de 1994.
toda a minha família entrou no clima do livro, eu a ler e a contar os causos, a descobrir facetas não imaginadas do grande romancista e a deliciar com elas a minha gente – o clima ficou tão grande que acabei o livro pensando em lhe escrever a respeito. Dei uma ligadinha para Salvador, para que sua secretária me informasse se o senhor estaria no Brasil, e o clima explode em alegria e júbilo: o sr. mesmo foi quem atendeu ao telefone! Deve lembrar-se, identifiquei-me como leitora de Santa Catarina – só não pode saber da minha alegria ao ouvir a sua voz de verdade, nítida como se Salvador ( ABAIXO ) estivesse a 1 km de distância!
Tenho o vício da leitura desde que fui alfabetizada, tenho o vício de inventar histórias desde que me lembro, desde os três anos de idade. Depois que cresci escrevi alguns livros: continuo a escrevê-los. Uma vez, faz alguns anos, no pique do entusiasmo com a publicação dos primeiros livros , enviei-lhe alguns, e tive a ventura indescritível de receber um seu, autografado: “Os pastores da noite”,( ABAIXO )
que já lera quando adolescente, e que reli com uma paixão muito maior depois de adulta. Não vou lhe mandar livros meus agora porque sei como isso é chato: apesar de ser apenas uma pequena escritora do interior de Santa Catarina, ( ABAIXO , BLUMENAU )
também recebo uma porção de livros para ler de uma porção de lugares do Brasil, e os leio todos, aos bons e aos ruins, e os ruins me roubam um tempo precioso, mas não sei deixar de lê-los. Creio que aos 80 anos
já terei adquirido a imunidade da idade para não ler mais o que não goste, e não vou lhe encher as medidas enviando-lhe livros de aprendiz, quando seu tempo, agora, é um tempo de fazer só o que gosta. Chega esta carta que, se me conheço, vai ficar bem grande.
e Jorge Amado. Um dia, faz tantos anos, numa estrada, dez horas da noite, ouço no rádio do carro que Érico Veríssimo se fora. Chorei, meu Deus, chorei como se ele pertencesse à minha família, fiquei de luto por dias e dias – perdera um mestre, um passarinho deixou de cantar dentro de mim por muito tempo.
Restava-me Jorge Amado, como pessoa, alguém tão distante quanto a lua, mas alguém muito vivo no que escrevia, e por causa dele aconteceu na minha vida um milagre: a Bahia.( ABAIXO , PRAIA DE ILHÉUS )
nem pensar em pegar avião para os 3.000 km de distância. Encarei 48 horas de ônibus de rodoviária para conhecer a Bahia, ( ABAIXO , ILHÉUS )
sem hotel reservado, sem nenhum amigo por lá – fui ver o que acontecia. No ônibus, amizade com a boa gente baiana, amizade com dois moços que iam para lá a trabalho – um deles já conhecia a Bahia, prontificou-se a ser cicerone, acabamos indo para o mesmo hotel barato na Avenida Sete. ( ABAIXO )
Chegamos às sete da noite; jantamos às oito, e depois partimos para a praça Castro Alves ( ABAIXO ) , para a Sé, etc. –
o amigo que em Salvador vivera soube até mostrar onde fora o Tabaris – às dez da noite, por escolha minha, estávamos dançando na zona da Montanha, e eu já entrara em contato com uma multidão de personagens de Jorge Amado. Gentilíssimas, as moças e a dona da zona ficaram nossas amigas, e até nos arranjaram um táxi para cairmos fora dali, de madrugada, pois os capitães d’ areia nos esperavam do lado de fora da porta, a esses turistas desavisados que eles deviam estar imaginando que nunca tinham lido Jorge Amado.
tão logo me aposente, daqui a um ano e pouco. Sei que atualmente está bastante difícil conseguir-se morar no Pelourinho, mas sei que vou conseguir um cantinho para mim lá. A intimidade que eu sinto em relação a Salvador é uma coisa única, maior, até, que a intimidade que eu sinto com a minha cidade. Senti algo parecido quando estive em Havana, mas o Brasil é o Brasil e Salvador( ABAIXO ) é o meu lugar nele.
E como foi que tudo isso aconteceu? Aconteceu porque um escritor chamado Jorge Amado soube contar a sua gente como ninguém mais o fez, a culpa é dele. Vê o sr. quanta influência já exerceu na minha vida? Digamos que a mudou com radicalidade, a mim que poderia ter continuado pequena burguesa blumenauense pelo resto da vida, a achar que a Oktoberfest era o máximo,
que as nossas praias eram a grande curtição da vida – ( ABAIXO , BALNEÁRIO CAMBORIÚ )
poderia ter vivido a vida inteira desconhecendo a magia, o mistério, o encanto dessa sua terra que eu sinto como minha. Há que se ter sensibilidade para se descobrir o quanto a Bahia ( ABAIXO , PORTO SEGURO ) é mágica; acho que a tenho.
aquele que a gente não conhece, o livro é ÓTIMO! Não poderia, desta vez, deixar de lhe dizer isto, e foi então que liguei para saber se o sr. estava no Brasil.
ainda estou toda alvoroçada por ter ouvido a sua voz sem ter sido na televisão: quando pensei que um dia isto poderia acontecer a mim? Obrigada, muito obrigada pela alegria que me deu. Acho que já deu para perceber como sou sua macaca de auditório; sinto-me dispensada de falar de cada livro e cada personagem seu, como gostaria de fazê-lo, pois senão esta carta vira um livro, e já falei antes que não quero encher as suas medidas impingindo-lhe livros para ler. Chega o tamanhão da carta.
Aqui em Blumenau o sr. tem um lugar todo de ouro no meu coração. Muito, muito obrigada por me ter dado tantas coisas lindas para ler e para viver.
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