terça-feira, 14 de julho de 2015

Novo Amigo

Era uma joia , ou melhor , uma pequena joia tropical , situada em uma pequena ilha do Caribe e com cerca de 27.700 quilômetros quadrados . A colônia de SAINT DOMINGUE era a mais rica de todo o então imenso império francês , sendo o maior produtor de açúcar do mundo e tendo nesse produto quase que o seu único item de exportação . Dominada pelos franceses desde 1697 , aquela parte da ilha de Hispaniola - uma das primeiras regiões da América a serem conquistadas pelos espanhóis , ainda no século 15 - recebeu maciço número de escravos , vindos das mais diferentes regiões da África . Fazendo valer aquele velho ditado - O POVO UNIDO JAMAIS VENCIDO - em agosto de 1791 teve início a primeira de uma série de rebeliões  de escravos e coube a um escravo , de nome VINCENT GOÉ , liderar aquela primeira revolta . Elas agitariam aquela parte da  ilha pelos próximos 12 anos e tinham alvos as fazendas de açúcar e a reduzida população branca do lugar , incluindo mulheres e crianças . Muitos desses levantes não tinham organização alguma e visavam única e exclusivamente libertar os escravos e não território do domínio francês . Mas tudo começou a mudar a partir a partir de 1798 : um negro autodidata , filho de escravos domésticos , chamado TOUSSAINT  L ´OUVERTURE , revelou-se um excelente militar e , liderando um exército formado em sua maioria por negros , conseguiu derrotar e expulsar os invasores ingleses . Lutando a princípio a favor dos colonizadores franceses , mudou de lado e passou a representar a esmagadora maioria de negros e mulatos tornando-se uma figura muitíssimo popular . criando um sentimento nacionalista  . Seu exército conseguiu anexar a região oriental da ilha , então dominada pelos espanhóis , e em 1801 ele foi proclamado governador perpétuo da ilha .

     Embora pequena , as diferenças entre as regiões da ilha e a diversidade de representantes dos mais variados povos da África , aliado a uma intensa mestiçagem , fizeram com Toussaint adotasse uma política de integração . Católico , tentou eliminar todos os ritos africanos praticados na ilha e impor sua religião a todos e , também para decepção de todos , manteve a mesma estrutura sócio- econômica de antes, com os negros , embora não fossem mais escravos , tendo de trabalhar nas fazendas de açúcar .......A reação francesa não demorou e em 1802 a ilha foi reconquistada e Toussaint capturado e preso  , mas a chama da liberdade continuou viva e em várias regiões as rebeliões continuaram . Coube a um ex-escravo , JEAN JACQUES DESSALINES , continuara a guerra e finalmente , com o apoio de norte-americanos e ingleses , derrotar os franceses , proclamando a independência da antiga colônia de Saint Domingue em janeiro de 1804 . Era a primeira rebelião negra vitoriosa na história , sendo que toda a população branca que ali vivia ou foi morta ou foi expulsa . O nome do novo país ? HAITI , que significa TERRA DE MONTANHAS . " Salvei a minha pátria . Vinguei a América......Nunca mais um colono ou um europeu porá o pé neste território com o título de amo ou proprietário ", belas palavras de Jean Jacques Dessalines , mas infelizmente ocas........Ele mesmo  tornou-se um ditadorzinho ridículo e proclamou-se imperador , inspirando-se em NAPOLEÃO BONAPARTE .... A partir dali o Haiti seguiu o roteiro de qualquer republiqueta da América Latina : pobreza , miséria , opressão , caos , ditadores tiranos e medíocres .......Como é sabido o país é um dos mais pobres do mundo e nos últimos anos muitos haitianos têm se dirigido para o Brasil . A crônica de hoje é uma homenagem da escritora URDA ALICE KRUGER a esse povo tão sofrido e ao mesmo tempo alegre . CONFIRA :

"Sou uma apaixonada pela América dita Latina ( ABAIXO , BANDEIRAS DE PAÍES DA AMÉRICA LATINA ) 



e Caribe – andei um bocado por ela, já, e do Caribe, ( ABAIXO ) 



 num primeiro momento fiquei contente, é claro, mas um pouco receosa de abordar aquela gente visivelmente nova no nosso país (sempre me chamaram a atenção por sua elegância e porte),



 sem ter bem certeza se eram imigrantes ou não. Sabia que os haitianos estavam chegando, mas seriam haitianas aquelas pessoas que eu via? Sabia diversas coisas sobre o Haiti, como sua gloriosa independência em 1804 (antes de qualquer de nosotros), ( ABAIXO , JEAN JACQUES DESSALINES , PROCLAMADOR DA INDEPENDÊNCIA DO PAÍS )



onde os haitianos botaram a correr até as tropas que Napoleão mandou para subjuga-los , ( ABAIXO )



que sua língua primeira chamava-se creole, e que tinham o francês como segunda língua – e como falo um pouquinho de francês, ficava doida para abordá-los. Até que um dia arrisquei:

                                   - Bonjour! Ça va? – e um primeiro sorriso haitiano se abriu para mim, e uma nova amizade havia começado. Esse primeiro amigo foi o Maxilien Thomas, de quem continuo sendo amiga até hoje, um jovem haitiano cujos olhos brilham como estrelinhas e cujo sorriso encanta ! ( ABAIXO , HAITIANO EM FLORIANÓPOLIS )

                                   Depois de Maxilien, vieram outros e outros, e em cada um muitas surpresas e alegrias, pois se tem gente educada, afável e refinada a chegar ao Brasil atualmente, são nossos irmãos haitianos. (Um detalhe que pouca gente sabe: quase todos são formados em curso superior,( ABAIXO , HAITIANOS EM UNIVERSIDADE DA REPÚBLICA DOMINICANA )

 muitas vezes em mais de um, e dominam diversas línguas. Num instante, começam a aprender o português -ABAIXO , HAITIANOS EM CURSO DE PORTUGUÊS EM CURITIBA .) 

Quis o acaso que eu descobrisse ser vizinha de três grandes artistas plásticos chegados do Haiti: Oriol, Enock e Marc. Pintam quadros tão maravilhosos, com tanta arte e tantas cores, que não há quem não se impressione com a qualidade do que fazem ! ( ABAIXO , ARTISTA PLÁSTICO HAITIANO CHARLOT ODSON , RADICADO NO BRASIL )

                                   Não é necessário ser-se adivinho para se saber que viraram meus irmãos, meus amigos do peito, e sua casa é o lugar onde procuro refrigério para poder descansar das minhas correrias e conversar coisas inteligentes. Temos tal intimidade de almas que até meu cachorro

 já dorme no colo deles.
                                   Hoje sei reconhecer um haitiano de longe, por seu porte normalmente esguio e sempre digno, por sua elegância muito diferente da de qualquer brasileiro, por sua simpatia.

 E então passo por um deles ou um pequeno grupo e digo:
                                   - Bonsoir! Ça va? – e tenho a certeza de que uma nova amizade começou ! "

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