Quem tiver interesse e , obviamente , tempo para passar no Arquivo Histórico de Joinville e ,, mais precisamente , estiver folheando algum jornal de julho de 1977 irá se depara com uma foto com pessoas usando roupas curtas e uma matéria , entre surpresa e abismada , comentando sobre o então incomum verão fora de época . Exatamente 20 anos mais tarde , em 1997 , à exceção de um breve frio no mês de junho , não houve inverno . Em compensação no ano seguinte houve dias de muito frio ......só que em março ! Nem seria preciso viajar muito na máquina do tempo , afinal quem não se lembra do terrível verão de 2014 ? Essas verdadeiras loucuras climáticas são uma das consequências da irresponsável ação humana sobre a natureza , afinal , não custa nada lembrar : A NATUREZA , ALÉM DE BELA E SÁBIA , É VINGATIVA .......ou , como diria , uma velha lei da Física : a toda ação corresponde uma reação e o drama da falta de água , hoje tão presente em várias regiões do mundo , pode fatalmente se tornar ainda mais grave . Entre as consequências das alterações climáticas está o desparecimento de espécies de seres vivos : estima-se que acada ano cerca de 27.000 espécies de seres vivos desapareçam da face da Terra , sem que a grande maioria jamais tenha sido estudada e catalogada pelos cientistas ......Embora a cada ano o inverno esteja cada vez menor ele ainda tem aquela velha imagem de estação aconchegante e elegante . Na crônica de hoje o sempre irreverente HILTON GORRESEN mostra o seu lado lírico e comenta , de maneira bem peculiar , sobre a estação em curso . CONFIRA :
"Não sinto muita simpatia pelo inverno.
Se ele fosse uma pessoa, me
recusaria a sentar na mesma mesa.
Talvez seja porque sou apaixonado pelas
estações médias, outono e primavera, nessa ordem. Tenho uma forte relação
psicológica com essas estações, coisa do tempo de menino.
A primavera
começava, nos tempos de escola, com a cerimônia de plantar
uma árvore.
A temperatura era sempre fresca, agradável, parecia que
respirávamos liberdade. As árvores eram parceiras nas explorações de íntimas
florestas.
O outono,
para mim, é um tempo mítico, atemporal, feito de gostos,
cheiros,
lugares e ventos. Um tempo no inconsciente (como é difícil expressar
essas coisas intangíveis, que ficam impregnadas na gente).
Tempo frio não é bom para caminhar:
o choque térmico da friagem
externa com o aquecimento do corpo pode provocar comichão. E comichão,
além de incomodar, é uma das palavras que constam da minha relação das
mais feias da língua.
Mas não vou deixar que minhas preferências estraguem a alegria
daqueles que apreciam um friozinho.
Daqueles que se submetem ao frio para
viajar a certos recantos a fim de apreciar a neve.
Daqueles que esperam a
temperatura baixar para poderem dormir debaixo de três cobertores, para
degustar um vinho ou um chocolate quente.
Não. Devo dizer que tempo frio tem suas vantagens. Podemos tirar do
armário os pesados casacos, as luvas e toucas. E as mulheres são mais
bonitas no inverno, com seus casacos e botinhas. No inverno não existe mulher feia .
Mas o inverno joinvilense é um traidor. Nada de geadas, neves e
nevascas de São Joaquim; nada da neve americana,
propícia à fabricação de
bonecos e bolas de neve. Apenas um friozinho mixuruca (pelo menos até esse
momento em que escrevo), que se resolve com um blazer leve.
Não houve jeito
de tirar do baú belas roupas de inverno, adquiridas num impulso consumista e
nunca antes usadas. Tenho o costume de comprar as coisas e viver esperando
a melhor ocasião para usá-las. Tenho calças, camisas e sapatos há anos
mofando em meu guarda-roupa.
Roupas que já não estarão tão folgadas como
no tempo em que as comprei. Roupas têm essa estranha mania de irem se
estreitando em torno de nosso peito e abdome, a ponto de algumas vezes não
conseguirmos mais abotoá-las.
Não pretendo frustrar aqueles que adoram esta época de muita roupa e
de mãos geladas, mas atenção: nosso inverno já vai se desvestindo, para se
transformar em tempo de camisetas e bermudas.
Quem sabe já tenha
terminado quando você estiver lendo esta crônica. "
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