Cientificamente o que acontece é o seguinte : na data de 23 de setembro , em virtude do movimento de rotação da Terra em torno do Sol , tanto o hemisfério norte quanto o hemisfério sul recebem mesma quantidade de calor pois aparentemente o Sol "percorre " a linha imaginária do Equador ; esse fenômeno é chamado de EQUINÓCIO e marca o início de uma das estações do ano , que tem como uma de suas características mais marcantes e a intensa renovação da vida , tanto animal quanto vegetal . No hemisfério a estação inicia-se exatamente às 18 horas e 20 minutos do dia 23 de setembro e estende-se até às 14 horas e 44 minutos do dia 21 de dezembro ( no outro hemisfério ela vai de 20 de março à 21 de junho ) . Um das eternas musas e fontes de inspiração de poetas , músicos , escritores e demais artistas , na ARTE o conceito de PRIMAVERA é completamente diferente daquele frio , exato e pragmático da Astronomia .......A primavera rende versos como esses : " .....As flores se abrem perfumando o ar / Tudo que é bonito sai pra se mostrar / Cada novo dia é uma festa para se viver / Uma poesia que o Sol faz nascer Uma aquarela em todo lugar / Toda natureza quer se namorar / É como se o mundo se enfeitasse de azul / Ou de um arco-íris que ligasse o norte ao sul ......." O que você acabou de ler é um trecho da música PRIMAVERA , interpretada pela apresentadora ELIANA em 1999 . Trata-se de um versão do compositor PAULO SÉRGIO VALLE para um antigo sucesso de um dos astros da música romântica , BARRY WHITE ( 1944-2004 ) , e que se chama ANY FOOL COULD SEE . Hoje o escritor DONALD MALSCHITZKY está mesmo inspirado ! Nesta crônica-poesia - mitologia ele saúda a primavera , que em 2015 deu o ar de sua graça muito tempo antes da hora . CONFIRA :
"A breve brisa soprou as cortinas e enrodilhou-se junto à moça
que dormia em cobertas de penas, sonhando sonhos de veredas
perfumadas.
Ficou a soprar seus cabelos e fazer cócegas na
orelha, murmurando baixinho: ' Primavera, Primavera ' .
Virou-se a
moça para o outro lado, pois era tempo de dormir e fazia frio lá fora.
Extemporâneo pintassilgo pousou no peitoral e piou sua saudação
fora de hora.
Primavera esfregou os olhos e, pelo sol a refletir na
Ampulheta, julgou que dormira demais, que passara da hora, mas
não reparou que havia areia a escorrer.
Com ímpeto, levantou-se e vestiu sua guirlanda do ano
passado.
Ao mirar-se no espelho,
apesar de murchas as flores e
folhas a coroá-la, sorriu um sorriso de néctar. De pés descalços,
correu até o labirinto onde descansavam os mais fortes ventos e os
liberou para que chacoalhassem as árvores até acordarem para a
dança dos ramos que se desejam enfeitados de flor.
Também que
varressem o céu das nuvens plúmbeas lhes pediu e que visitassem
a montanha e beijassem o mar e levantassem as ondas
para que
lavassem as rochas e levassem os peixes a passear.
Esgueirou-se pela floresta e cutucou o lagarto que dormitava,
acarinhou o pescoço do sabiá
e buscou colmeias nos ocos das
árvores para sussurrar às abelhas que estava próxima a hora de
lamber flores,
traçar alados caminhos e carregar doçuras.
Subiu na árvore mais alta
e apurou o ouvido: pequenos
chilreios, ronronares de quem acorda e se esfrega em quem está ao
lado para proteger e ser protegido, a canção de brisas esparsas nos
ramos desnudos e no capim seco a acarinhar passos distraídos, o
som do mastigar de talos de um casal de preás,
o farfalhar de pés
de pássaros nas folhas a cobrir sua comida, o pio estridente do
gavião perseguido por bem-te-vis.
Voltou ao quarto,
era hora de urdir a nova guirlanda. Ao
colocá-la, a Ampulheta das Estações chamou-lhe a atenção: ainda
era inverno. Era tarde agora: ipês já roxeavam e amarelavam o céu
e pintavam Brasis nos pastos, jacatirões e manacás exibidos
saudavam os viajantes, hortênsias ameaçavam acordar, o pólen
flanava entre flores, nos jardins, crianças e cachorros aspergiam
alegria sobre os passantes e a revoada de beija-flores
assustava
olhos que diziam mais nada querer ver. Já era de Primavera a
estação, apesar de inverno. "
Nenhum comentário:
Postar um comentário