Eles ajudaram a desbravar a região amazônica e se o atual Estado do Acre é brasileiro , muito se deve a sua presença na região ; construíram Brasília e ajudaram a construir a riqueza de cidades como São Paulo . Este é o povo nordestino cuja mais perfeita definição foi dada pelo engenheiro e escritor EUCLIDES DA CUNHA ( 1866- 1909 ) em seu livro OS SERTÕES , publicado em 1902 : " O NORDESTINO É ANTES DE TUDO UM FORTE " . Euclides da Cunha esteve presente no sertão baiano acompanhando a GUERRA DE CANUDOS ( confronto entre os moradores da comunidade religiosa de Canudos e o Exército brasileiro , ocorrido entre 1893 e 1897 ) e , além dos horrores da estúpida guerra , pôde observar todo o drama e o modo de vida do sertanejo nordestino . Dono de uma rica e fascinante cultura popular , em que se destacam o artesanato , o repente e a literatura de cordel , o Nordeste revelou uma imensa quantidade de grandes artistas . Gente como LUIZ GONZAGA , RAUL SEIXAS , GILBERTO GIL , JOSÉ DE ALENCAR , CASTRO ALVES , GONÇALVES DIAS , RENATO ARAGÃO , CHICO ANÍSIO , JOSÉ WILKER........Na crônica de hoje , JURA ARRUDA desvenda um pouco da alma nordestina e comenta sobre um dos mais peculiares meios de transporte , ainda presente em algumas cidades da região : O CAMINHÃO PAU-DE-ARARA . CONFIRA :
"Contou-me a Izabel Santos que o sertão nordestino é um campo semeado de crônicas .
Quer me levar para lá para que eu deite olhar sobre a vida rústica daquela gente . Contou-me que as feiras são verdadeiros eventos , que acontecem na maioria das cidades pequenas da região e são ponto de encontro de quem tem a vender , a trocar ou a comprar .
O trajeto se faz , e ela fez , de pau-de-arara . 'Jura , é gente , galinha , porco , máquina de costura e até caixa d´água em cima daquilo ' , diz .
O transporte de pau-de-arara é comum , ainda nos dias de hoje , em algumas cidades afastadas do Nordeste brasileiro . Vamos ao que se trata : sobre a carroceria do caminhão colocam-se duas tábuas que servirão de acento , por cima arma-se uma espécie de lona para cobrir os passageiros da poeira , ventos , sal e.....chuva ?
Câmara Cascudo , folclorista , ( FOTO ABAIXO ) diz que o nome de pau-de-arara se deu porque em tal veículo a algazarra dos passageiros é igual à feita pelas aves .
O pau-de-arara usado por Izabel precisou parar para pegar mais gente que ia à feira , mas a caixa d´água ocupava espaço demais e o motorista precisou decidir se levaria a caixa ou a gente . Optou por levar o povo porque este não poderia esperar mais uma semana por outra feira .
Com a ajuda dos passageiros tirou a caixa e colocou na beira do caminho . 'Na volta , a gente pega ' , disse .
Enquanto ouvia minha amiga contar essa e outras histórias de sua estadia na região árida do país , pensei em como as pessoas em situações precárias e em luta diária , adaptam-se e encontram soluções para resolver a vida , de maneira solidária e olhar atento a quem divide sina e sonho . Parece que o ser humano é mais humano quando em condições sub- humanas .
Mas basta que tenha um carro , uma geladeira cheia e uns verbetes decorados e pronto !
Já não consegue , nem aceita , fazer sacrifícios diários em nome de um futuro melhor . Estudantes daquela região percorrem , à noite , quilômetros nos pau-de-arara para assistirem às aulas na faculdade . ( ABAIXO , TRANSPORTE EM CAMINHÃO PAU-DE-ARARA , DE ESTUDANTES NO INTERIOR DA BAHIA )
Formam-se professores , ganham status , oferecem esperança . Aqui no Sul , em clima subtropical , com mananciais e verdes imensos ,
com estradas asfaltadas e amortecedores inteligentes , a tônica é reclamar :
o ônibus que chacoalha , o trânsito que atrasa , o ar condicionado que falta , a prova sem aviso , o frango congelado , a atendente mal humorada , o preço , a luz que faltou , o buraco que rompeu , a chuva que molhou , o sol que queimou , o porco do irmão , a galinha da vizinha , o pau-de-arara !
Devíamos ir ao Nordeste
para ver que temos mais do que precisamos e vivemos menos do que poderíamos . Desconfio que eles riem mais do que nós . Ser feliz é tão relativo . "
Quer me levar para lá para que eu deite olhar sobre a vida rústica daquela gente . Contou-me que as feiras são verdadeiros eventos , que acontecem na maioria das cidades pequenas da região e são ponto de encontro de quem tem a vender , a trocar ou a comprar .
O trajeto se faz , e ela fez , de pau-de-arara . 'Jura , é gente , galinha , porco , máquina de costura e até caixa d´água em cima daquilo ' , diz .
O transporte de pau-de-arara é comum , ainda nos dias de hoje , em algumas cidades afastadas do Nordeste brasileiro . Vamos ao que se trata : sobre a carroceria do caminhão colocam-se duas tábuas que servirão de acento , por cima arma-se uma espécie de lona para cobrir os passageiros da poeira , ventos , sal e.....chuva ?
Câmara Cascudo , folclorista , ( FOTO ABAIXO ) diz que o nome de pau-de-arara se deu porque em tal veículo a algazarra dos passageiros é igual à feita pelas aves .
O pau-de-arara usado por Izabel precisou parar para pegar mais gente que ia à feira , mas a caixa d´água ocupava espaço demais e o motorista precisou decidir se levaria a caixa ou a gente . Optou por levar o povo porque este não poderia esperar mais uma semana por outra feira .
Com a ajuda dos passageiros tirou a caixa e colocou na beira do caminho . 'Na volta , a gente pega ' , disse .
Enquanto ouvia minha amiga contar essa e outras histórias de sua estadia na região árida do país , pensei em como as pessoas em situações precárias e em luta diária , adaptam-se e encontram soluções para resolver a vida , de maneira solidária e olhar atento a quem divide sina e sonho . Parece que o ser humano é mais humano quando em condições sub- humanas .
Mas basta que tenha um carro , uma geladeira cheia e uns verbetes decorados e pronto !
Já não consegue , nem aceita , fazer sacrifícios diários em nome de um futuro melhor . Estudantes daquela região percorrem , à noite , quilômetros nos pau-de-arara para assistirem às aulas na faculdade . ( ABAIXO , TRANSPORTE EM CAMINHÃO PAU-DE-ARARA , DE ESTUDANTES NO INTERIOR DA BAHIA )
Formam-se professores , ganham status , oferecem esperança . Aqui no Sul , em clima subtropical , com mananciais e verdes imensos ,
com estradas asfaltadas e amortecedores inteligentes , a tônica é reclamar :
o ônibus que chacoalha , o trânsito que atrasa , o ar condicionado que falta , a prova sem aviso , o frango congelado , a atendente mal humorada , o preço , a luz que faltou , o buraco que rompeu , a chuva que molhou , o sol que queimou , o porco do irmão , a galinha da vizinha , o pau-de-arara !
Devíamos ir ao Nordeste
para ver que temos mais do que precisamos e vivemos menos do que poderíamos . Desconfio que eles riem mais do que nós . Ser feliz é tão relativo . "
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