segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Triste Final Feliz

A vida parecia ser madrasta para HANS ...........Filho de um modesto sapateiro e de uma lavadeira , ele nasceu na pequena cidade dinamarquesa de Odense e toda a sua família dormia em um único quarto . O menino adorava ler , especialmente as histórias de WILLIAM SHAKESPEARE  e montava pequenas peças teatrais com marionetes  . Aos 11 anos veio o pior : seu pai morreu e ele teve que começar a trabalhar cedo , primeiramente como ajudante de tecelão e depois como aprendiz de alfaiate . Dono de uma belíssima voz , a sua vocação artística voltou a falar mais alto e com apenas 14 anos ingressou como cantor do prestigiado TEATRO REAL DA DINAMARCA ( lá ele também seria ator e bailarino ) e mais ou menos na mesma época , incentivado por um amigo , começou a escrever poesias . Logo começou a escrever romances , canções patrióticas e peças teatrais , mas foi como autor de contos infantis que o mundo acabaria conhecendo HANS CHRISTIAN ANDERSEN ( 1805-1875 ) ..........Influenciado pelos contos populares  e também por sua origem bastante humilde , Andersen  escrevia histórias que ao final sempre traziam alguma mensagem moral e que são um retrato perfeito da sociedade dinamarquesa da época . Entre  1835 e 1872 escreveu 156 histórias e com muitas delas sem ter um final feliz , outra característica marcante de sua obra .

 Presume-se que um escritor queira ser lido e queira também fazer seus leitores pensarem . Então , POR QUE SOMOS GOSTAMOS DE HISTÓRIAS COM FINAL FELIZ  ? Na crônica de hoje , questionado por um de seus mini leitores , o escritor JURA ARRUDA  procura explicar isso , citando  , inclusive uma das histórias de Andersen  . CONFIRA :

"Piscou a janela do Facebook , atendi . Era a Marilaine , amiga recente , mãe de primeira , que conheci numa visita a um centro de Educação Infantil e com quem tomei café em um dos encontros em uma livraria da cidade : ' Jura , desculpa incomodar de novo  , mas preciso fazer uma pergunta ' . Aguardei que o texto parecesse na janela  , pensando se teria resposta . Temo em responder ultimamente , sinto como se não houvesse resposta que preenchesse o vazio de qualquer dúvida .



 Respirei e ela perguntou : ' Devido a alguns livros que temos lido , o Pedro me questionou por que se escrevem finais tristes ? Qual a importância de finais muitas vezes surpreendentemente tristes ? O livro está indo bem , aí o personagem morre ......' O Pedro tem seis anos , é leitor voraz e já me deu aula sobre dinossauros e mitologia grega . ( ABAIXO , GRAVURAS DE PERSONAGENS DA MITOLOGIA GREGA )



 Os livros referidos eram ' O Lobinho Bom ' , da inglesa Nadia Shireen , ( FOTO ABAIXO )



 e ' A Menina Dos Fósforos ' , do dinamarquês Hans Christian Andersen . ( FOTO ABAIXO )



 Depois de ponderar um pouco , remexer na memória e estender um tapete de possibilidades , questionei a mim mesmo : o que ambos têm em comum ? Finais surpreendentes . Porque são inesperados . Bem , se são inesperados , cumpriram seu papel . Não é bom ler um livro que surpreende ? Então por que estranhamos e quase rejeitamos tais finais ?

 Estamos acostumados com finais felizes , como se toda literatura devesse dar esperanças .



Não acho que deva .

 Embasei teorias , formulei respostas e ainda trago mil dúvidas . Contudo , e porque precisava dar meu ponto de vista , para o debate ir adiante , arrisquei que finais tristes servem para nos fazer pensar .



 A morte da menina dos fósforos ( GRAVURA BAIXO ) ensina tento ou mais do que sua redenção .



 Acho que uma das funções da literatura é desequilibrar o leitor , trazê-lo à reflexão . Os finais inesperados parecem conseguir isso com mais eficiência  do que os finais felizes . Afinal , quem vive feliz para sempre ? E por que temos que acreditar que todo final é feliz ? A última página pode ser o início de uma nova história . Mesmo que seja na cabeça do leitor  . História boa é aquela que fica no leitor quando ele fecha o livro .

 E ao fechar o livro , depois de ter lido a última frase , que se sabe oque a história causou no leitor . Quando se termina a história e se põe a obra sobre o peito , que a mente se apropria de tudo que leu e tenta dar significância . Outra atitude emblemática é quando se termina o livro e se o folheia de trás para frente  ,na esperança de que haja ainda história para ler , ou porque se quer entender tudo o que levou o final a negar-nos o que esperávamos . Mas o melhor de tudo é que esses finais surpreendentes fizeram Marilaine , Pedro  e eu refletirmos . Venceu a boa literatura . "

Nenhum comentário:

Postar um comentário