quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Êta Obra Demorada !

Ele foi o filho que TODAS AS MÃES DE JUÍZES DE FUTEBOL gostariam de ter tido : em longos e discretos 25 anos de carreira - entre 1965 e 1989 - era difícil ouvir o seu nome sendo "homenageado " pela torcida em função de algum erro grave e de tão bom - talvez o melhor juiz da história do futebol brasileiro - acabou apitando a final da Copa do Mundo de 1982 ( ABAIXO )  , em que a Itália venceu de maneira categórica a Alemanha ( 3 a 1 ) e conquistou seu terceiro título mundial .

No fim de 1989 a idade - 46 anos - já pesava e acabou trocando o apito , a pressão das ruidosas torcidas e dos temperamentais jogadores e os campos de campos de futebol pelo microfone , o ar condicionado e todo o conforto das cabines de imprensa , sendo comentarista de arbitragem da poderosa TV Globo e tornando famosa uma frase : "A REGRA É CLARA ! " .......A famosa frase dita pelo ex-juiz carioca ARNALDO CÉSAR COELHO ( ABAIXO )  poderia muito bem se encaixar ao tema deste texto :

a data era 5 de maio de 1849 ; o local era a cidade de Hamburgo ; de um lado estava o empresário e senador da república de Hamburgo , CHRISTIAN MATHIAS SCHROEDER ( principal acionista da empresa que , como é sabido , lotearia e colonizaria Joinville : a então recém criada Sociedade Hamburguesa ) e do outro LEONCE AUBÉ , representante do Príncipe de Joinville . Motivo : o antigo rei francês LUÍS FELIPE ( ABAIXO ) - conhecido como " O REI CIDADÃO " , em virtude de sua postura discreta e mais de um presidente que de um monarca - , que governava aquele país desde 1830 havia destronado por um levante ocorrido em 24 de fevereiro de 1848

e em virtude disso a agora ex-família real francesa encontrava-se exilada na localidade de Escher , vizinha a Londres . Forçado a se afastar de seu país e sem rendimentos , não restava ao príncipe ( ABAIXO ) outra alternativa  senão a de negociar parte de 25 léguas quadradas de terras recebidas 6 anos como dote de casamento com Francisca Carolina .....

Naquele histórico encontro de Hamburgo , diante do notário público EDOUARD SCHRAMM e de mais 2 testemunhas , Schroeder e Aubé assinaram um contrato que cedia para a empresa hamburguesa 8 daquelas 25 léguas quadradas de terras e que trazia uma série de condições e de exigências , vindo a ser ratificado e oficializado em 28 de maio , através das assinaturas do príncipe e da princesa ( ABAIXO )  .

O contrato não chegava a ser longo , sendo constituído de 10 parágrafos e 10 artigos e o mais importante desses parágrafos , com o título de " CONDIÇÃO DA PRESENTE CONCESSÃO DE TERRAS " e em seu artigo quarto , não deixava qualquer dúvida : " O Senhor Schroeder ( ABAIXO ) obriga-se a construir conforme a necessidade , IGREJAS , hospitais , escolas , etc.., e enviar os respectivos SACERDOTES , médicos e professores.....".......Mas parece que ninguém leu muito atentamente ou deu muita importância à isso , pelo com relação à questão religiosa : o primeiro pastor PROTESTANTE - religião da esmagadora maioria daqueles 389 pioneiros e heroicos primeiros moradores de Joinville no fim de 1851 - só chegou em dezembro ( ele era DANIEL HOFFMANN )  , 9 meses após a fundação oficial de Joinville . Já o primeiro padre .....Bom , isso faz parte do tema a abordaremos hoje.....

      Após a descoberta de que o solo de Joinville não seria propício para ser a tão sonhada e planejada "maior colônia agrícola da América do Sul " e a vinda de imigrantes em número muito inferior ao planejado , no ano de 1855 a Sociedade Hamburguesa encontrava-se  à beira da falência .....Um novo contrato , dessa vez assinado com o governo imperial brasileiro e datado de 13 de junho daquele ano , veio a dar um novo gás à empresa ( o próprio príncipe - ABAIXO -  tornou-se um dos acionistas da empresa , em 23 de novembro daquele ano ) .

Entre outras coisas , ele determinava que a responsabilidade de construir as igrejas  da colônia - tanto a católica quanto a protestante - , bem como os pagamentos dos salários do pastor e do padre , seria do próprio governo imperial com o dinheiro sendo liberado de maneira indireta , através da Coletoria Fiscal de São Francisco do Sul ( na verdade o dinheiro era liberado através da tesouraria do governo de Santa Catarina ) . O próprio governo financiando construções de igrejas e pagando salários de religiosos ? Estranho e absurdo , não ? Os tempos eram completamente diferentes : a Constituição brasileira de então , imposta pelo mulherengo , vaidoso e narcisista imperador DOM PEDRO I ( 1798-1834- ABAIXO  )  , em 25 de março de 1824 , também era claríssima , determinado que a RELIGIÃO OFICIAL DO BRASIL era a católica apostólica romana e com isso os padres e demais religiosos eram também funcionários públicos do governo imperial .

 Mas por que a igreja luterana também foi contemplada ? Vale lembrar que o então imperador DOM PEDRO II ( 1825-1891- ABAIXO  ) era irmão da princesa Francisca Carolina ( 1824-1898 ) e isso acabou fazendo com que o governo olhasse para a então colônia Dona Francisca com muito mais atenção e lhe desse mais regalias em relação às demais colônias estrangeiras espalhadas pelo país ( também aí pesou o fato de o imperador de ser um homem culto e erudito , portanto aberto às demais culturas e credos religiosos ) ......

Mesmo assim , a primeira verba do governo destinada á construção da igreja católica - 15 contos de réis - só seria liberada em 1856 ( ficou decidido na ocasião que o governo liberaria mensalmente a quantia de 1 conto de réis ) . Com dinheiro em caixa , a construção da tão planejada igreja católica teve início logo nos primeiros dias de 1857 , tendo sido escolhido como seu local um morro no alto da então " ZIEGLEISTARSSE " ( "RUA DA OLARIA " ) e próximo a olaria que existia onde hoje está o prédio em que funciona a COMERCIAL PESCAÇA ( ABAIXO ) , sendo que a primeira tarefa era complicada e hercúlea naqueles difíceis e pioneiros tempos : em uma época em que máquinas como tratores e retroescavadeiras não existiam nem em sonho , o trabalho de nivelamento daquele terreno teve de ser braçal .

A obra teve a responsabilidade do arquiteto ALBERT KROEHNE e os trabalhadores , que tinham como seu mestre de obras um certo senhor ENGELBERGER , ganhavam por dia 800 , mil e duzentos e até mil e quinhentos réis , dependendo de sua qualificação . Não era lá grande coisa mas já era muito se comparado com parcos rendimentos de moradores que em sua maioria dependiam da agricultura e de esporádicas obras públicas para reforçar seus minguados orçamentos ......( ABAIXO , MAPA DE 1853 DA ENTÃO COLÔNIA DONA FRANCISCA )

Naquele ano de 1857 os pouquíssimos moradores católicos tiveram uma agradabilíssima notícia : o primeiro padre enfim estava chegando em Joinville .....Contratado não pelo governo mas sim pela Sociedade Hamburguesa , tratava-se de um seminarista do mosteiro da cidade de Hildeschheim - reino de Hannover - então com 24 anos ( nascera na cidade de Duderstadt , também em Hannover , em 16 de agosto de 1833 ) e que atendia pelo nome de CARL BOERGSHAUSEN ( ABAIXO ) ......

     Chegou aqui em terras de Dona Francisca em 9 de novembro daquele ano ( veio a bordo do veleiro "LUCIE CAROLINA " juntamente com seu irmão, Franz ,  e mais 56 pessoas ) e seria uma das mais marcantes , importantes e queridas figuras dos primórdios de Joinville : além de padre - função que exerceu durante longos 37 anos - também foi professor e dono da própria escola , que a princípio funcionou onde hoje está o PALACETE NIEMEYER e que a partir de 1882 ( ABAIXO , FOTO DA INAUGURAÇÃO DA ESCOLA )  passou a funcionar em prédio onde 1936 e 1974 funcionou a sede Prefeitura de Joinville .

Falecido em 1906 , deixou como grande legado , além da educação de gerações de joinvilenses , o terreno que era de sua propriedade e que ele mesmo acabou doando para a construção do atual HOSPITAL SÃO JOSÉ  ( ABAIXO , EM FOTO DA DÉCADA DE 60 ) ......

Com relação à moradia , o padre não teve do que se queixar : tratava-se de uma casa de madeira medindo 2.320 palmos quadrados , feita de madeira , com paredes de ripa e  barro , telhada , assoalhada e que custou a bagatela de 1 conto , 623 mil e 580 réis em sua construção . Em relação ao local onde trabalharia com o seu "rebanho " , muito provavelmente ele deve ter se decepcionado : não passava de uma improvisada capela improvisada dentro de um galpão de madeira construído para receber e alojar os imigrantes que chegavam à colônia e próximo à olaria da atual Rua do Príncipe .....( ABAIXO ,A HISTÓRICA RUA , POR OCASIÃO DA CELEBRAÇÃO DOS 75 ANOS DE JOINVILLE , EM 1926 )

Se a cerimônia de lançamento da pedra fundamental da igreja protestante - atual IGREJA DA PAZ - , em 1 de junho de 1857 ( ABAIXO ) , foi um dos eventos mais concorridos e animados dos primórdios de Joinville , com a presença de autoridades e da elite da colônia , o mesmo não se pode dizer a respeito da igreja católica : lançada em 2 de dezembro daquele ano , existem apenas uma relação de despesas e materiais utilizados na obra e nenhum registro ou relato a respeito da cerimônia . O aparente pouco entusiasmo com esse fato talvez encontre justificativa nos números : dos escassos 1.700 moradores de Joinville apenas 213 eram católicos ......

Mesmo assim as obras da igreja andaram em ritmo frenético até o final de 1858 e aí pesou um problema tão comum hoje em dia : a falta de dinheiro ! As obras só seriam retomadas , mesmo assim em ritmo lento , em 1860 e voltariam a ganhar um ritmo frenético no ano seguinte , ocasião em que governava Santa Catarina VICENTE PIRES DA MOTTA . Detalhe : ele era PADRE ! Entre os dias 6 e 7 de setembro de 1862 Joinville recebeu a visita do vice-presidente da então província de Santa Catarina - JOÃO FRANCISCO DE SOUSA COUTINHO - e que além de ter entregue a quantia de 3 contos 795 mil , 136 réis para a continuidade da obra , veio com uma exigência : A IGREJA DEVERIA TER UM TORRE ANEXA . Quem observar uma foto da antiga catedral ( ABAIXO ) não encontrará  a tal torre .

 Explicação : em 24 de janeiro de 1863 o arquiteto Albert Kroehne enviou um relatório completo e detalhado para presidência da província : a torre até poderia ser construída mas ela custaria "salgados" 4 contos , 800 mil , 580 réis .....Mas não foi o valor salgado que impediu a sua construção mas sim o um fato ocorrido pouco antes , em 26 de dezembro de 1862 : Vicente Pires da Motta deu lugar ao militar PEDRO LEITÃO DA CUNHA , que não demonstrou muito interesse pela torre de preço "salgado " e com isso o projeto acabou sendo arquivado . Em 27 de junho daquele ano de 1863 um grande número de pessoas , inclusive de fora de Joinville , prestigiou uma série de celebrações e os tradicionais discursos por ocasião da conclusão da cobertura da igreja . ( ABAIXO )

Não sabiam eles , especialmente os católicos , que seriam necessários mais 4 longos para que a igreja ( ABAIXO ) fosse enfim inaugurada :  isso veio a ocorrer em um domingo - 8 de dezembro de 1867 - novamente com grande presença de público , muitas festas , discursos e contando com as doações de um sino de bronze - por parte do governo imperial - e de um órgão harmônio , doado por ninguém menos que o Príncipe de Joinville .

   E parece que a sina dos católicos de Joinville era ficar esperando : a igreja só seria transformada em catedral em 17 de janeiro de 1927 , ocasião em que Joinville também foi elevada sede de bispado e a diocese . Outro fato curioso e até inexplicável : embora a sua inauguração tenha ocorrido em 1867 a igreja ( ABAIXO )  já estava pronta desde fins de 1864 ! ......

Se no século 19 apenas algumas poucas centenas de moradores de Joinville eram católicos em 1933 a situação era completamente diferente e pela primeira vez se falou em uma possível construção de uma nova catedral sendo que a extinção da primeira loja maçônica de Joinville - fundada em 30 de dezembro de 1855 , extinta em 1937 e que funcionava em terreno vizinho e logo abaixo da catedral ( ABAIXO, FOTO DE 1870 DA CATEDRAL JUNTO COMA ANTIGA LOJA MAÇÔNICA ) - deu ânimo ao projeto ( chegou-se até a se pensar uma catedral em imponente  estilo romano ) :

após várias reformas e até ampliação - entre 25 de fevereiro de 1938 e 15 de maio do ano seguinte - em 1943 a ideia ganhou corpo e o então bispo de Joinville , DOM PIO DE FEITAS ( ABAIXO )  - por sinal , o primeiro bispo da cidade - chegou até a abençoar a pedra fundamental que chegou a ser lançada , porém várias dificuldades , como a guerra que estava devastando a Europa e consumindo milhões de vidas ; a falta de materiais para a construção da nova matriz e a tradicional falta de dinheiro acabaram adiando o projeto por longos 16 anos ......

Enfim , a partir de 26 de outubro de 1959- ocasião em que DOM GREGÓRIO WARMELLING ( 1922-1997 ) era o bispo da cidade -  tiveram início as obras da nova catedral (  a velha foi demolida em 1964 ) que só veio a ser inaugurada oficialmente depois de quase 20 anos : em 5 de junho de 1977 . Porém  a quase interminável saga da construção formada por duas cúpulas em forma de concha , 12 colunas de sustentação e 20 vitrais não terminou ali : o CAMPANÁRIO ( ABAIXO )  , aquele monumento com um sino do lado da avenida Juscelino Kubitschek , previsto no projeto inicial só seria inaugurado em 24 de dezembro de 2005 !

 Muitas são as críticas com relação à ela , especialmente com relação à sua arquitetura e à sua acústica , mas muitas pessoas , incluindo aqueles longínquos operários do século 19 acabaram se sacrificando para que ela se tornasse uma realidade e nada melhor do que uma pessoa que participou dessa história para nos contá-la melhor : ( ABAIXO , INÍCIO DA CONSTRUÇÃO DA CATEDRAL )

o vídeo do dia , que é um trecho de um documentário a respeito da história da cidade produzido em 2006 pela TV BRASIL ESPERANÇA , traz um valioso depoimento do popular , querido e super jequeano ( pelo jeito suas orações não têm surtido efeito.....) PADRE BERTINO WEBER 9 ABAIXO ) .......VALE A PENA CONFERIR !


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