"Há uma ânsia de futuro que permeia a vida e que muitas vezes cria tristezas e doenças no presente. Crianças
são incitadas a definir o mais cedo possível qual a profissão que querem exercer para mais tarde se transmutarem de pessoas em profissionais. Deixamos o prazer, a alegria para amanhã, e hoje nos matamos para juntar indulgências para um futuro de recreio quando o recreio pode ser agora, como descanso entre jornadas de agradável labor.
Planejamos o que fazer daqui a dois, três, vinte anos, mas não aproveitamos o que o dia de hoje nos oferece porque nos preocupamos com o que há de vir.
A salvação nos é oferecida para a eternidade que só começa com a morte, mas, para alcançá-la, é preciso sofrer agora.
Sim, planejar ajuda, preparar-se para eventualidades é uma boa medida, não ser perdulário
Sim, planejar ajuda, preparar-se para eventualidades é uma boa medida, não ser perdulário
é questão de respeito, mas há um presente que vivemos e um passado que construímos e que nos acompanhará não como uma mochila que podemos tirar das costas e esquecer no ponto de ônibus, mas como a essência mesmo do que corre dentro de nós. Esse passado é o que somos, pois os momentos se tornam passado na mesma velocidade que acontecem.
O futuro pode ser o sonho que repousa dentro de nós à espera de sua aurora que pode vir ou não. É elástico e adaptável. De perene, apenas o passado; de concreto, apenas a lembrança. O DNA
O futuro pode ser o sonho que repousa dentro de nós à espera de sua aurora que pode vir ou não. É elástico e adaptável. De perene, apenas o passado; de concreto, apenas a lembrança. O DNA
é a lembrança primeira de nosso ser físico, de nossa ancestralidade até o dia em que o sopro alimentou a matéria pela vez primeira. O gesto é a memória do longínquo momento em que um ser, talvez saciado, deu um naco de comida a outro ser com fome. O sorriso
é a herança da primeira cócega, sem querer, na sola do pé da tristeza.
De memórias, inteiramente de memórias somos feitos, por mais que sonhemos caminhos de porvir. As palavras que usamos, os sentidos e sentimentos que nos amparam, nossa fé e nossa descrença, nossos planos, descaminhos, virtudes e pecados, júbilos e vergonhas, determinações e desistências, tudo que nos constrói ou implode é feito do barro e do hálito das memórias. "
De memórias, inteiramente de memórias somos feitos, por mais que sonhemos caminhos de porvir. As palavras que usamos, os sentidos e sentimentos que nos amparam, nossa fé e nossa descrença, nossos planos, descaminhos, virtudes e pecados, júbilos e vergonhas, determinações e desistências, tudo que nos constrói ou implode é feito do barro e do hálito das memórias. "
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