Como costuma se dizer : o TEMPO NÃO ANDA , ELE VOA.....E junto com ele , antigos hábitos e práticas , hoje condenados pela sociedade , eram considerados não apenas normais mas também essenciais . Para horror dos ecologistas , já houve um tempo em que o óleo extraído das baleias era de fundamental importância tanto para a construção civil quanto para a iluminação pública . Morador da localidade de ARMAÇÃO DE ITAPOCORÓI , a atual cidade de PENHA , o português JOAQUIM ALVES DA SILVA era um dos que monopolizavam , no litoral catarinense , essa atividade ao mesmo tempo lucrativa e perigosa . Em 1812 recebeu uma generosa e extensa quantidade terras do governo em um local não muito longe de onde vivia e logo tratou de iniciar o seu povoamento , embora já há décadas vivessem ali algumas famílias de origem açoriana . Alguns anos mais tarde , mais precisamente em 1820 , por ali passou talvez o seu visitante mais ilustre : o viajante e naturalista francês AUGUST DE SAINT-HILLAIRE ( 1774-1853 ) , autor daquele que talvez seja o mais detalhado relato já feito do Brasil . A obra , de tão vasta , acabou sendo dividida em 10 volumes e nela Saint- Hillaire não apenas relatou como comentou tudo o que viu . Ainda no século 19 outro fato , cercado de lenda , teria acontecido naquele pequeno povoado : ao regressar da GUERRA DO PARAGUAI ( conflito ocorrido entre 1864 e 1870 ) trazendo muitos soldados , um navio teria naufragado próximo dali . Uma imensa fogueira feita em comemoração ao dia de São João - 24 de junho - teria servido como orientação aos náufragos , que conseguiram chegar ali sãos e salvos e em retribuição teriam erguido uma igreja de pedra.......
Um hotel instalado na década de 40 , em uma então isolada praia local por um certo inglês de sobrenome GRANT , começou a mudar a história daquela então modorrenta vila de agricultores e pescadores chamada BARRA VELHA . Aos poucos descobriu-se o turismo e o seu considerável crescimento fez com que a localidade se desmembrasse de Araquari através de uma lei de 1956 e que logo acabou sendo anulada pelo Supremo Tribunal Federal . A emancipação enfim veio em 30 de dezembro de 1961 , quando tomou posse o seu prefeito : BERNARDO AGUIAR . Com 22.403 habitantes - segundo o último Censo do IBGE , realizado em 2010 - , Barra Velha é hoje um dos mais badalados balneários do Estado e tem como uma de suas principais atrações uma lagoa , com cerca de 10 quilômetros de extensão . E é esse atraente balneário e sua famosa lagoa , o cenário da crônica de hoje , de autoria do escritor DONALD MALSCHITZKY . Um de seus protagonistas é uma certa ave tida como feia e agourenta ........CONFIRA :
"Se fosse para obedecer aos sinais , teria desistido , mas insisti e fui pedalar . No primeiro morrinho , caiu a corrente . Passo a mão na cabeça e dou-me conta de que saí sem o capacete .
' Bobagem ' , penso , ' quando era criança nem havia essa frescura ' . Resolvo ir até a ponte pênsil ( ABAIXO )
que cruza a lagoa de Barra Velha . No caminho , alguns pés de abricó na praia . Galhos muito altos para serem alcançados ,
recolho as frutas que estão no chão . Levanto-me , ouço um barulho , as coisas mudam de cor e volto bem uns três passos , Dói do alto da testa até a nuca . Todos os galhos estavam altos , menos o pedaço desse um , cortado de forma a ficar na altura exata da cabeça de um ser descuidado como eu . Uma armadilha perfeita para pegar incautos sem capacete .
Passada a tontura e após certificar-me que não sangrava , empolguei-me e passei da ponte , indo até a barra do rio Itapocu . ( ABAIXO )
Valeu a pena : mar muito agitado , ondas enormes formando-se longe da praia e crescendo em seu caminho até a quebrança ; ao quebrarem , aspergiam nuvens a quem estava na praia ou em cima do molhe . Surfistas cavalgavam a onda com entusiasmo .
No início da volta descobri o porquê do entusiasmo em encompridar o caminho na ida : soprava um forte vento Sudeste
que impulsionava as pedaladas . Agora a história era outra , estava contra o vento e se não pedalasse com vigor , ficaria parado , ainda mais no solo arenoso , Um urubu , voando rente à praia , planava contra o vento . Nem mexia as asas e avançava , e eu ali , fazendo força , , mas , fascinado pelo voo , elegi-o meu companheiro inteligente e elegante .
Assim fomos até a ponte , onde o abandonei , pois decidi atravessar a lagoa para pegar uma via asfaltada
e onde a vegetação me protegia do vento .
Parado no meio do vão , hora de encantar-me com o voo das gaivotas
e mergulhões que brincavam com o vento , às vezes dando rasantes tão perto das copas das árvores que tinha como certo que alguma ficaria presa nos galhos .
Na outra margem , outro urubu ; este treinando manobras radicais ; achou uma corrente de ar num pequeno descampado e lá descia até centímetros do chão ,com um leve movimento nas pontas das asas , subia como uma pluma , no alto , uma curva fechada , depois outra suave , novamente até quase o solo , e assim se divertia , como se não tivesse peso .
Brincando , perguntei a três homens ali perto se haviam treinado a ave . ' Deve ter achado uma carniça ' , ouvi de resposta . Calei-me , mas não pude deixar de pensar : ' Já achou três . ' "
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