não é apenas contemplar uma paisagem maravilhosa e de beleza única mas também a própria história da região . Pouco depois do PORTAL RURAL DE JOINVILLE , também conhecido como CASA KRUEGER , ( ABAIXO )
existe um grande pasto com uma antiga casa , tendo como anexo um rancho de madeira . O visitante mais observador há de pensar : " É mais uma casa antiga , pertencente a uma das tantas famílias de colonos que vivem aqui ". E realmente é : a propriedade foi adquirida pela família FLEITH em 1935 . Mas , e quem vivia ali antes ? A família GOMES DE OLIVEIRA , tão presente na história e na política de Joinville , foi a sua antiga proprietária e a época da compra de sua compra lá existiam antigos ranchos de madeira , onde eram alojados os escravos da família.........Pois é , mesmo na mais germânica das regiões de Joinville já houve escravidão e isso é mais um fato que contradiz a tão decantada e repetida imagem de " cidade germânica " .......Como é sabido , muito antes da fundação oficial de Joinville já estavam estabelecidas aqui dezenas de famílias , sendo que a presença de algumas delas remontava a época da fundação da vizinha São Francisco do Sul : 1658 . CARLOS FICKER ( 1916-1974 ) , autor daquele que é seguramente o mais completo dos livros já escritos sobre a história de Joinville ( foi publicado em 1965 , pela gráfica e editora Ipiranga ) , fez questão de nesse mesmo livro citar várias dessas famílias , como os MIRANDA , ROSÁRIO , BUDAL , GOMES , VEIGA e VIEIRA , e que estavam radicadas em locais equivalentes aos atuais bairros BUCAREIN , BOA VISTA , CUBATÃO , ITAUM , PARANAGUAMIRIM ( ABAIXO ) , JARIVATUBA e ITINGA .
Todas elas eram proprietárias de chácaras , sítios ou fazendas e também estavam presentes em futuras regiões rurais e onde predominariam os alemães , como A ESTRADA DOS SUÍÇOS ( atual bairro Vila Nova ) , o atual bairro BOEHMERWALDT ( ABAIXO - que significa " floresta da Boêmia " )
e a já citada Estrada Dona Francisca e todas elas também possuíam escravos , geralmente entre 18 e 22 e que realizavam serviços domésticos , embora existissem exceções , como a de SALVADOR GOMES , que chegou a ter 40 escravos . Vale lembrar que esses antigos , assim como , é claro , seus escravos , foram de fundamental importância tanto no transporte , na adaptação e nas construções das moradias dos imigrantes e caso essa providencial ajuda não tivesse acontecido seria muito provável que a colônia Dona Francisca ( ABAIXO ) tivesse fracassado .
A partir de 1877 também se tornou mais frequente a presença de famílias brasileiras em Joinville , atraídas pelo chamado CICLO DA ERVA-MATE - o grande responsável pela transformação de Joinville em um centro industrial - e que eram geralmente oriundas de localidades vizinhas , como PARATY ( atual Araquari ) , ou de cidades paraenses , como MORRETES , ANTONINA e PARANAGUÁ , onde já possuíam moinhos de beneficiamento de erva-mate . E , é claro , todas elas trouxeram seus escravos . Embora uma lei de 11 de agosto de 1849 proibisse os imigrantes de possuírem escravos ( a medida foi uma iniciativa da SOCIEDADE HAMBURGUESA , empresa que colonizou Joinville , não por uma questão humanitária , mas pelo fato de que pretendia implantar um território alemão isolado e encravado no Brasil e que fosse fornecedor de produtos agrícolas e matérias-primas ) , por incrível que pareça , existiram casos de imigrantes que tinham escravos , embora fossem casos raros . O que aconteceu foi o seguinte : quando um imigrante casava-se com uma brasileira , ela trazia o seu ou seus escravos . Um caso como esse aconteceu com um alemão de sobrenome SEILER , radicado na cidade paranaense de Morretes e que ao mudar-se para Joinville veio junto com a esposa e o escravo dessa . Infelizmente não sabe exatamente quantos escravos chegaram a ser enterrados em Joinville mas por um levantamento feito por CARL BOERGERSHAUSEN ( 1833-1906 ) , primeiro padre de Joinville , ( ABAIXO )
só no período entre julho de 1862 e abril de 1870 foram enterrados 8 escravos no atual CEMITÉRIO DOS IMIGRANTES , quase todos crianças , e é bem provável que esse número tenha sido maior : vale lembrar que até setembro de 1870 os católicos também eram enterrados naquele local e consequentemente também os seus escravos . Outra informação importante : o cemitério católico funcionou , de 1870 a 1913 , em um morro , quase na esquina entre a rua Ministro Calógeras e a atual avenida Juscelino Kubitschek ( ABAIXO ) , e portanto ali também foram enterrados escravos .
Segundo um levantamento feito pelo historiador DILNEY CUNHA ( autor , entre outros livros , de SUÍÇOS : O DUPLO DESTERRO , publicado em 2003 ) , em 1867 existiam em Joinville 63 escravos e ainda 56 negros e 56 negros , todos alforriados . Curiosamente , vinte anos mais tarde , em 30 de março de 1887 , portanto a pouco mais de um ano da abolição da escravidão no Brasil , o número de escravos em Joinville era maior : 96 , existindo ainda 48 ex-escravos alforriados . Outro fato que há de surpreender muita gente : chegou a existir um clube abolicionista em Joinville , criado em 1884 , e que tinha entre seus integrantes INÁCIO BASTOS ( telegrafista e político , natural de DESTERRO , hoje Florianópolis , e que hoje dá nome à conhecida rua do bairro Bucarein ) e um juiz de nome CELESTINO FELÍCIO DE ARAÚJO . Vários jornais , como O DEMOCRATA , O LIBERAL , GAZETA DE JOINVILLE e KOLONIE-ZIETUNG ( jornal escrito em alemão e que foi publicado entre 1862 e 1942 - ABAIXO )
trazem referências tanto a escravidão quanto a libertação de escravos . Graças ao Kolonie -Zeitung , por exemplo , sabe-se que na 26 de fevereiro de 1888 houve uma cerimônia no SALÃO KUEHNE - localizado no centro de Joinville - onde 40 escravos receberam suas cartas de alforria . Naquela ocasião figuras como o próprio Inácio Bastos e ABDON BATISTA ( ABAIXO - destacada liderança política de Joinville , foi prefeito da cidade em 2 ocasiões e chegou a ser senador da república , sendo , aliás , MULATO )
discursaram e houve a execução do hino nacional pela banda KRUEGER . Uma curiosidade : nem todos aqueles escravos receberam a liberdade incondicional , sendo que alguns deles ainda tinham a obrigação de trabalhar para seus senhores durante mais um ou dois anos .......
A abolição da escravidão foi comemorada na noite daquele mesmo 13 de maio de 1888 ,
debaixo de muita chuva , com muitos foguetes e com uma passeata de ex-escravos , tendo a frente a banda 28 de Setembro - composta apenas de negros . Já em 1950 , ou seja , às vésperas do centenário de Joinville , viviam na cidade 2.650 negros . Em nenhum momento , durante as celebrações do centenário , houve qualquer menção à escravidão em Joinville também a participação dos negros na história e na cultura da cidade ........Infelizmente existem alguns poucos documentos relativos à escravidão, tanto no Arquivo Histórico de Joinville quanto na Mitra Diocesana de Joinville ( ABAIXO )
( isso incluiu documentos de compra e venda de escravos e um certo IMPOSTO SOBRE A CIRCULAÇÃO DE ESCRAVOS ; até por volta de 1860 os registros de compra de escravos traziam a procedência dos mesmos ) , sendo que existem vários relatos escritos em alemão relativos à escravidão . Entre tanta papelada antiga existe no Arquivo Histórico um rara foto ,em preto e branco , de parteira e ama-de-leite chamada INÁCIA ( ABAIXO ) e cujos dados relativos a ela infelizmente se perderam no tempo..........
Enfim , trata-se de uma história mais do que interessante e que EXIGE uma pesquisa mais minuciosa ! Por falar nisso , ou melhor , escrevendo sobre isso , em um dos vídeos o rapper joinvilense MALCOLM JÚNIOR ( tivemos a oportunidade de assistir a uma de suas apresentações- ABAIXO , O QUARTO DA FOTO , DA ESQUERDA PARA A DIREITA ) declama versos de sua autoria refentes aos DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA ( celebrado em 20 de novembro , dia da morte do líder negro ZUMBI , em 1695 ) , com o acompanhamento muito especial de um grupo de capoeira . VALE A PENA CONFERIR !
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