Mensalão , Petrolão , doláres na cueca , presidanta , manifestações de boutique , corrupção , violência .......esqueça tudo o que você ultimamente está acostumado a ver em jornais ou noticiários de televisão e imagine o seguinte cenário : são 7.367 quilômetros de extensão , iniciando na foz do rio Oiapoque ( Amapá ) e só terminando no ponto em que o modesto arroio CHUÍ ( Rio Grande do Sul ) deságua e ainda há um mar territorial de 200 milhas , um dos maiores do mundo ........De tão grande , o LITORAL BRASILEIRO costuma ser dividido em 4 regiões distintas : LITORAL AMAZÔNICO ( do rio Oiapoque até o delta do Parnaíba - Piauí , caracteriza-se pela grande quantidade de manguezais e matas de várzea ) , LITORAL NORDESTINO ( do delta do Parnaíba até o Recôncavo baiano , é caraterizado por alternar dunas , falésias , restingas e manguezais e também é habitado por grande quantidade de espécies de tartarugas e pelo peixe-boi marinho ) , ZONA DO LITORAL DO SUDESTE ( estende-se do Recôncavo baiano até a divisa entre os Estados de São Paulo e do Paraná e ainda tem uma considerável parcela de Mata Atlântica original ) e LITORAL SUL ( os litorais dos três Estados do sul - Paraná , Santa Catarina e Rio Grande do Sul - e que apresenta manguezais , costões e a partir do balneário gaúcho de Torres , uma faixa contínua de praia ) . Além da impressionante variedade de paisagens e da quase infinita quantidade de espécies animais , não podemos esquecer da paisagem humana : maranhenses , cearenses , alagoanos , pernambucanos , capixabas , " caiçaras " paulistas e paranaenses , " manezinhos " catarinenses ........Ah , quantas culturas , quantas histórias , quantas lendas , quantas histórias fantásticas de sereias , donzelas , seres monstruosos ou encantados , piratas malvados , tesouros.......Nem só de textos críticos e ácidos é feita a produção literária de DONALD MALSCHITZKY : a beleza e a vastidão do mar o inspiraram a escrever a bela crônica de hoje . É para começar bema semana ! CONFIRA :
"Era apenas uma pegada, dava para ver os dedos – dedão
maior do que os outros -, a forma do pé e o calcanhar bem
marcados.
Sozinha, apontava para o sul, de onde vinha o vento, a
divisa da baía
se estendia em risco de praia e o mar bravejava.
Seguiu-a como azimute, puxou a gola do casaco para cima e baixou
a aba do boné.
Olhos meio cerrados protegem as íris, mas não
impedem que enxergue no meio do tempo plúmbeo. O sol fazia dias
que não aquecia a areia.
Tatuíras
teimavam em enterrar-se já abaixo do limite do
alcance do espraiar das ondas, algumas mostrando pequenas
antenas, como escafandros no meio dos restos de espuma. Uma
colônia de vôngoles
enterrada fazia a água deixar desenhos em
sua passagem. Sentia pedaços de concha a cutucar a sola dos
pés, no meio da areia grossa.
Areia que se moldava entre os dedos
para voltar a ser praia ao próximo passo.
Uma garrafa vazia de mensagens jazia à espera de novas
marés para ser levada a piratas e crianças que cresceram sem
deixar de sê-lo.
De que mares viriam pedaços de coisas que um dia serviram
a alguém - pratos que já reuniram famílias ,
um apito que importunou
ouvidos sem graça ,
um pé de bota que talvez tenha subido
montanhas, pedaço de corda que amarrara barcos durante
tempestade ,
folhas feito fragmentos de papiros do que um dia fora
um diário, uma boneca sem braços e sem pernas que talvez ainda
fosse carregada no colo de quem nada tinha
– e agora já nada
eram senão destroços?
Sem pressa e sem vagar, andava contra o vento, sentindo já
os respingos anunciadores da chuva que fazia seu caminho.
“Westward, westward, ever westward, we shall meet your
fruitful soil”, murmurava a velha canção marinheira e riu-se a
pensar que o oeste ficava lá para o outro lado do oceano.
Encostou o pé em uma noz que há tempos não via na praia e
da qual não sabia o nome. Esfregou sua parte negra na roupa com
energia e a encostou no rosto. Com o calor, sorriu um sorriso de
infância.
Sentou-se num tronco trazido pelas águas e que perdera
sua vocação de canoa.
Uma gaivota solitária tirava rasantes no ondular do mar.
Quando uma onde maior se levantou e afinou-se para preparar a
quebrança ,
viu peixes a nadar em sua encosta, como a desafiarem
vidros de janelas.
Assobiou a canção marinheira.
Na areia, apenas sua pegada
solitária, nenhuma para trás, com os dedos bem marcados – o
dedão maior do que os outros –, a apontar para o sul. "
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