segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Meu Amigo : O MAR

Mensalão , Petrolão , doláres na cueca , presidanta , manifestações de boutique , corrupção , violência .......esqueça tudo o que você ultimamente está acostumado a ver em jornais  ou noticiários de televisão e imagine o seguinte cenário : são 7.367 quilômetros de extensão , iniciando na foz do rio Oiapoque ( Amapá ) e só terminando no ponto em que o modesto arroio CHUÍ ( Rio Grande do Sul ) deságua e ainda há um mar territorial de 200 milhas , um dos maiores do mundo ........De tão grande , o LITORAL BRASILEIRO costuma ser dividido em 4 regiões distintas : LITORAL AMAZÔNICO ( do rio Oiapoque até o delta do Parnaíba - Piauí , caracteriza-se pela grande quantidade de manguezais e matas de várzea ) , LITORAL NORDESTINO ( do delta do Parnaíba até o Recôncavo baiano , é caraterizado por alternar dunas , falésias , restingas e manguezais e também é habitado por grande quantidade de espécies de tartarugas e pelo peixe-boi marinho ) , ZONA DO LITORAL DO SUDESTE ( estende-se do Recôncavo baiano até a divisa entre os Estados de São Paulo e do Paraná e ainda tem uma considerável parcela de Mata Atlântica original ) e LITORAL SUL ( os litorais dos três Estados do sul - Paraná , Santa Catarina e Rio Grande do Sul - e que apresenta manguezais , costões e a partir do balneário gaúcho de Torres , uma faixa contínua de praia ) . Além da impressionante variedade de paisagens e da quase infinita quantidade de espécies animais , não podemos esquecer da paisagem humana : maranhenses , cearenses , alagoanos , pernambucanos , capixabas , " caiçaras " paulistas e paranaenses , " manezinhos " catarinenses ........Ah , quantas culturas , quantas histórias , quantas lendas , quantas histórias fantásticas  de sereias , donzelas , seres monstruosos ou encantados , piratas malvados , tesouros.......Nem só de textos críticos e ácidos é feita a produção literária de DONALD MALSCHITZKY  : a beleza e a vastidão do mar o inspiraram a escrever a bela crônica de hoje . É para começar bema semana ! CONFIRA :



"Era apenas uma pegada, dava para ver os dedos – dedão



maior do que os outros -, a forma do pé e o calcanhar bem



marcados.



 Sozinha, apontava para o sul, de onde vinha o vento,  a



divisa da baía



se estendia em risco de praia e o mar bravejava.





Seguiu-a como azimute, puxou a gola do casaco para cima e baixou



a aba do boné.



Olhos meio cerrados protegem as íris, mas   não



impedem que enxergue no meio do tempo plúmbeo. O sol fazia dias



que não aquecia a areia.



Tatuíras



teimavam em enterrar-se já abaixo do limite do



alcance do espraiar das ondas, algumas mostrando pequenas



antenas,  como escafandros no meio dos restos de espuma. Uma



colônia de vôngoles



 enterrada  fazia a água deixar desenhos  em



sua passagem.  Sentia pedaços de concha a cutucar a sola dos



pés, no meio da areia grossa.



Areia que se moldava entre os dedos



para voltar a ser praia ao próximo passo.





Uma garrafa vazia de mensagens jazia à espera de novas



marés para ser levada a piratas e crianças que cresceram sem



deixar de sê-lo.





De que mares viriam pedaços de coisas que um dia serviram



a alguém - pratos que já reuniram famílias ,



um apito que importunou



ouvidos sem graça ,



 um pé de bota que talvez tenha subido



montanhas, pedaço de corda que amarrara barcos durante



tempestade ,



 folhas feito fragmentos de papiros do que um dia fora



um diário, uma boneca sem braços e sem pernas que talvez ainda



fosse carregada no colo de quem nada tinha



– e agora já nada



eram senão destroços?



Sem pressa e sem vagar, andava contra o vento, sentindo já



os respingos anunciadores da chuva que fazia seu caminho.





“Westward, westward, ever westward, we shall meet your



fruitful soil”, murmurava a  velha canção marinheira e riu-se a



pensar que o oeste ficava lá para o outro lado do oceano.





Encostou o pé em uma noz que há tempos não via na praia e



da qual não sabia o nome. Esfregou sua parte negra na roupa com



energia e a encostou no rosto. Com o calor, sorriu um sorriso de



infância.



Sentou-se num tronco trazido pelas águas e que perdera



sua vocação de canoa.





Uma gaivota solitária tirava rasantes no ondular do mar.





Quando uma onde maior se levantou e afinou-se para preparar a



quebrança ,



 viu  peixes a nadar em sua encosta, como a desafiarem



vidros de janelas.





Assobiou a canção marinheira.



 Na areia, apenas sua pegada



solitária,  nenhuma para trás,   com os dedos bem marcados – o



dedão maior do que os outros –, a apontar para o sul. "


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