" MEU ÚLTIMO DESEJO É PODER ANDAR ATÉ O PUB MARGATE COMO UM INGLÊS COMUM E BEBER A MINHA CANECA DE CERVEJA ".......Se por um acaso você - que está lendo estas mal escritas linhas - é fã de rock ´n roll saiba que essa declaração não é de autoria de nenhum dos quase incontáveis astros de rock daquela pequena, fria a e chuvosa ilha , embora o seu autor talvez faça parte da imensa galeria de ingleses ilustres.......Assim como outros mestres na sua área , tem como caraterísticas a ousadia , a inteligência , a visão , a esperteza , a rapidez de raciocínio e a habilidade ......SÓ QUE INFELIZMENTE USADOS PARA O MAL ! Essa história teve início no distante ano de 1963 , mais especificamente entre as 3h03 e 3h27 de 8 de agosto : um trem do correio britânico , que havia saído de Glasgow (Escócia ) , acabou caindo em uma emboscada e sendo roubado nas proximidades da cidade inglesa de Mentmore . Esse acabou sendo simplesmente o maior assalto já feito a um trem na história : os meliantes fugiram carregando 120 malotes com a quantia de 4,2 milhões de dólares que , pasmem , seriam destruídos em Londres , sendo que apenas 550 dólares acabaram sendo recuperados pela polícia .......Mas o mais impressionante ainda estava por acontecer : para vexame e humilhação da polícia inglesa , em 1965 um desses meliantes conseguiu fugir da prisão de Wandsworth usando uma escada de trapos e sendo resgatado por um carro dirigido por comparsas que o aguardavam do lado de fora . O tal assaltante , autor da frase que abriu este texto , é ninguém menos que RONALD BIGGS .......Após ter conseguido um passaporte falso na França , feito uma cirurgia plástica e até ser reconhecido por um jornalista na Austrália , Biggs acabou desaparecendo e sendo descoberto pela polícia inglesa apenas 4 anos mais tarde ; aliás , adivinhe aonde estava vivendo : RIO DE JANEIRO........Fim da linha para o famoso bandido súdito da rainha Elizabeth ? Muito pelo contrário : na época , 1974 , não havia um acordo de extradição entre Reino Unido e Brasil e portanto ele não poderia ser preso .......
Em mais uma infame prova de que o crime em terras tupiniquins compensa , Biggs constituiu família em terras cariocas , passou a se autopromover e até a vender canecas , camisetas e diversos outros produtos com seu nome retrato ! A sua vida andou em tons cor-de-rosa até 1981 , quando novamente o crime voltou a dar as caras em sua vida , só que desse vez com Biggs sendo a vítima : acabou sendo sequestrado e levado para a ilha caribenha de Barbados - por sinal , uma ex-colônia britânica - , onde os sequestradores pretendiam entregá-lo à polícia e receber uma polpuda recompensa por isso . E não é que o famoso bandido conseguiu fugir de novo ? Provavelmente , em virtude de alguma repentina crise de consciência , em maio de 2001 Biggs decidiu retornar de qualquer maneira à Inglaterra e acabou incumbindo o seu irmão - MICHAEL - de negociar não só o seu retorno como também uma entrevista , em forma de autobiografia , para o tradicionalíssimo e sensacionalista jornal THE SUN ( a declaração que abre este texto fez parte dessa entrevista ) . Imediatamente preso após o seu retorno , já estava velho ( tinha 72 anos ) e doente e em razão disso sua pena acabou sendo reduzida e comutada ......Na crônica de hoje o irreverente HILTON GORRESEN nos conta uma história até mais espetacular do que acabamos de descrever ......Fugas , cirurgias plásticas , tiroteios , emboscadas perseguições e prisões ? Não , nada disso ! Arriscamos a fazer uma afirmação : TRATA-SE TALVEZ DA HISTÓRIA MAIS ENGRAÇADA DO ESCRITOR SÃO CHIQUENSE .......Portanto , BOAS RISADAS !
"Esta região está ficando perigosa, diziam. Apesar disso, estava curtindo um filme na TV
e nem notei que a porta de casa não estava trancada.
Ouvindo um barulho esquisito, me
voltei, mas já era tarde : dois indivíduos mal encarados estavam em minha frente, um
deles com uma arma apontada para meu peito.
– Que é isso ? – consegui balbuciar.
– Não está percebendo, cara ? É um assalto.
– A-assalto ? Não acredito – falei para mim mesmo.
– Onde está o cofre ? Rápido ! Não fica enrolando.
– Que cofre ? Eu lá tenho cofre. Sou um pobre aposentado.
Aqui vocês entraram pelo
cano. Disse isso e me arrependi, pois o sujeito da arma encostou justamente o cano em
meu peito.
– Você acha que nós tamo brincando, é ? Deixa de conversa mole e vai mostrando a
grana.
Foi nesse momento que aconteceu uma coisa incrível : na porta, apareceram mais dois
sujeitos armados.
– Todo mundo quieto. Encostando na parede.
– Mas o que significa isso ? – reclamou possesso um dos primeiros meliantes. Nós
estamos aqui trabalhando.
O outro ( ABAIXO ) entendeu a situação. Eram concorrentes. Mas não ficou convencido :
– Não interessa o que vocês estão fazendo, mano ; agora é a nossa vez.
– Sua vez um cacete. Nós cheguemo aqui antes. Temos prioridade.
Quando vi ( ABAIXO ) que as coisas podiam esquentar, resolvi dar uma sugestão :
– Olha, meus amigos: por que não resolvem isso na sorte ? Quem ganhar fica ; os outros
vão procurar outra residência.
Parece que eles concordaram. E indagaram se eu tinha alguma espécie de baralho.
– Não, mas vocês podem resolver isso no palitinho. Deixa que vou ver uns palitos de
fósforo.
E fui para a cozinha, deixando-os em sua discussão. Tentava parecer calmo,
mas por dentro estava em sobressalto. Como iria me livrar dessa ? Por azar, a caixa de
fósforos estava vazia. Abri então um pacote de espaguete,
peguei dois deles e parti-os
em três pedaços.
Isso resolveu o problema do sorteio. Os últimos bandidos venceram. Porém os outros
não se conformaram. O do revólver falou indignado :
– Se eu não puder robá, ninguém roba nada. Quero ver se vocês são home.
E apontou-lhes a pistola. O outro fez o mesmo.
E ficaram se encarando, o olhar duro e
malévolo, como numa cena de filme policial. Nessa hora, me abaixei num canto da sala,
misturando Padre Nosso com Ave Maria.
Mas um dos meliantes ( ABAIXO ) falou :
– Calma manos. A gente semo tudo do mesmo trampo. Bora pra outra.
E não é que deu certo. Eles baixaram as armas e deixaram a casa, quase como amigos
de longa data.
Ao passar por mim ( ABAIXO ) , um deles ainda falou :
– Desculpe, cidadão. Fica pra outra vez. "
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