Aliás , o decreto real era claríssimo : " todas as autoridades e moradores da colônia lhe obedeçam e cumpram inteiramente suas sentenças , juízos e mandados , em tudo o que ele (.....) fizer e mandar " ......Em outras palavras : ele tinha mias poderes até do que TOMÉ DE SOUZA ( 1502-1573 ) , o primeiro governador-geral e governante da história do Brasil e acima dele estavam apenas os desembargadores do PAÇO , a estância máxima de Justiça portuguesa de então.......Em 15 de janeiro de 1549 - a duas semanas de partir para o Brasil - o próprio rei lhe prometeu , caso fizesse um bom trabalho , promovê-lo ao cargo de desembargador da CASA DE SUPLICAÇÃO ( uma das cortes máximas da Justiça portuguesa na época ) tão logo retornasse a Portugal . Generoso e praticamente um paizão para o magistrado , o monarca luso ainda - por decreto de 17 de janeiro - concedeu um pensão no valor de 40.000 reais para a esposa do magistrado , SIMOA DA COSTA - durante o período em que esse estivesse no Brasil .......E ainda tem mais : o seu salário era de 200.000 reais , superior até ao de um desembargador do PAÇO ( 170.000 reais ) ! Uma vez corrupto sempre corrupto : durante os 9 meses em que Salvador , a primeira capital do Brasil , foi construída - entre março e novembro de 1549 - infelizmente foram comuns os casos de obras superfaturadas ........Seria até desnecessário afirmar que Pero Borges e seus comparsas deixaram um infame legado que chega até os dias atuais mas se existe uma caraterística elogiável no tão sofrido e explorado povo brasileiro é a sua incrível capacidade de rir de si mesmo e de suas desgraçadas.......Falou em rir ? Então temos um PHD no assunto : a crônica de hoje é mais uma das impagáveis histórias de HILTON GORRESEN .....CONFIRA :
"Sim, não tenho vergonha de dizer: fiquei preso em Brasília. Não,
não foi em Curitiba, foi em Brasília mesmo. Alguns falam que sou a única
pessoa que conseguiu ficar presa por lá.
Não havia ninguém para me
defender, ninguém protestou nem redigiu manifestos.
Mas não tenho culpa de nada. Não sabia de nada. Exerço meu
direito inalienável de negar tudo.
Há anos venho sendo atraiçoado por
alguns elementos da classe política. Digo alguns para não generalizar,
dizem que ainda existe gente honesta nesse segmento, aqueles que ainda
acreditam que a política é uma missão, e não o meio mais fácil de se
tornar milionário em quatro anos e, quem sabe, bilionário em oito.
Mas, a
bem da verdade, que mal faz a pessoa aproveitar as benesses do
mandato para aumentar um pouquinho sua relação de bens ?
É uma
oportunidade única de garantir o futuro dos filhos, netos e bisnetos. Não
é sempre que o cavalo passa encilhado em nossa frente.
É mentira que fiquei milionário. Fui para lá com boas intenções,
pensando em fazer mudanças no país. Ética e moral acima de tudo.
Os
bens que possuo foram doados por amigos, a mansão veio bater à minha
porta, isto é, eu é que fui bater à sua porta. E estava ela lá, novinha,
quitada, imposto pago, muito embora esteja registrada em nome de meu
caseiro.
O dinheiro depositado na Suíça é fruto do acaso; estava de
passagem por aquele belo país ( ABAIXO ) , fazendo parte de uma comitiva oficial, no
interesse do povo, é claro,
quando resolvi comprar um bilhete de loteria
de final de ano. Não é que tirei a sorte grande?
E não houve marmelada,
o pessoal por lá é sério. Atendendo à solicitação dos banqueiros, deixei
toda a quantia depositada ali mesmo.( ABAIXO , BANCO SUÍÇO , PRÉDIO BRANCO )
A maravilhosa chácara usada para meu descanso foi praticamente
achada. Isso mesmo, lá estava ela abandonada, cheia de mato, sem
energia elétrica, habitada somente pelas cabras e por um casal de
posseiros.
Com ajuda dos amigos certos – ou, nesse caso, errados –
consegui sua posse, mandei limpar, instalar luz elétrica, construí a sede,
piscina, churrasqueira e outros pequenos benefícios.
Transferi as cabras ( ABAIXO )
para um restaurante de comida típica de meu compadre.
Os posseiros
foram generosamente compensados com duas cabras e uma bolsa-
marmita ( ABAIXO ) por 24 meses.
Mesmo assim ainda fiquei preso, vejam só ! Não foi por muito
tempo, houve uma queda de energia repentina, fiquei apavorado entre
aquelas quatro paredes frias,
apertei desesperadamente tudo que era
botão e finalmente o ascensorista veio e abriu a porta do elevador. "
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