quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Ponto Final

É sempre adquirir conhecimento com a experiência de vida de pessoas sábias......mesmo que uma dessas pessoas tenha apenas 29 anos de vida ! Hoje apresentamos mais uma das crônicas bem particulares da jornalista VANESSA BENCZ . CONFIRA : "Eu não costumo cortar relação com as pessoas, a não ser que estas sejam psicopatas. Ou seja, até hoje só cortei relação com uma única pessoa – mas isso é assunto para outra conversa. Eu sou absurdamente otimista, sentimental e ingênua; e sempre tento achar essas características nas outras pessoas, nem que eu seja obrigada a revirá-las e desdobrá-las como a um origami. Por isso sou bem frustrada também: nem todo mundo tem o desenho do sol na asa direita. Ao todo, nestes meus 29 anos suados e felizes de existência, sete pessoas cortaram relação comigo. Dois são ex-namorados. O restante, ex-amigos. Seis homens e uma mulher. Esses sete indivíduos me transformaram, na cabeça deles, em menos do que uma lembrança. Talvez, no conto de fada deles, eu seja agora só uma árvore. Minha avó, quando se separou do meu avô, rasgou todas as fotos dele. Será que sou uma foto rasgada para essa gente? Apesar de serem maiores de idade, estudados e com estantes soterradas de livros, esses sete cidadãos não souberam lidar com a diferença de pensamento de uma garota cabeça aberta e sorridente como eu. Até aí tudo bem; cada um lida como quer ou como pode com as suas limitações. Mas como fica quando essas pessoas esbarram com uma foto rasgada andando na rua ou passeando no shopping? Essas pessoas obrigam-se a manter o ponto final que deram aos outros. Gosto de observar todo o procedimento desse fenômeno. Por exemplo: a pessoa que me bloqueou da vida dela me identifica na rua, me olha nos olhos e rapidamente coloca-se no papel de vítima ao qual se adequou. E vai vivendo esse roteiro patético e infantil com orgulho. É como o castelinho de areia que a criança constrói – mas depois luta para que o mar, o vento e outras pessoas não o derrubem. Aposto que, depois de encontrar na rua alguém com quem cortou relações, os birrentos compartilham em seu perfil de facebook alguma frase orgulhosa de autopiedade, como por exemplo: 'algumas pessoas saem da nossa vida porque oramos para que deus nos livre do mal'. Quando eu encontro uma dessas sete pessoas na rua, sou agarrada por várias emoções. Por primeiro, fico confusa; não sei se devo cumprimentar alguém que suicidou sua existência da minha vida. Me pergunto, rapidamente: será que a pessoa se arrependeu e quer retomar a amizade? Lembrando que eu sempre – SEMPRE – acolho de volta os amigos pródigos. Perdoar é algo que aprendi a fazer e adoro ostentar esse diploma tatuado na parede da minha alma. Depois, sinto vontade de rir. Acho engraçadíssimo que a pessoa que resolveu me excluir da vida dela tenha que lidar com a realidade. A realidade é que eu existo, e que não há botão de bloqueio igual nas redes sociais. A realidade é que existe o mar, o vento e as pessoas que querem passar por cima do castelinho de areia. Ao final, quando vejo que o indivíduo deu meia volta, trocou de calçada ou olhou para baixo para não dar de cara com meus olhos, sinto peninha. Sinto solidariedade pelo fulano que deixou de falar comigo porque não concordou com alguma atitude ou pensamento meu. O pior é quem que tem o hábito de viver a ilusão do botão de bloqueio ou exclusão faz isso com outras pessoas – existe toda uma lista de excluídos. E deve ser o maior trabalhão administrar tantos fantasmas por aí. Sim, esses sete que me excluíram também são fantasmas para mim. Se mataram, na minha perspectiva. E eu sinto falta de cada um deles. Talvez não sejam mais tão essenciais como alguma engrenagem do momento presente – mas sei que a tessitura do hoje é feita pelas pessoas e pelos acontecimentos do ontem. Eu gosto de todas as minhas fotos, e quero-as intactas."

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