quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Perdidos Em Ponderosa

Uma velha pergunta da humanidade começava a ser respondida naquele 28 de novembro de 1964 : EXISTE VIDA EM MARTE ? Na data citada , pela primeira vez um satélite era enviado rumo ao chamado PLANETA VERMELHO e coube aos norte-americanos , que desde 1957 vinham perdendo de goleada para os rivais soviéticos na corrida espacial travada com esses , essa honraria : o satélite-sonda MARINER 4 pesava 288 quilos , ficou 567 dias em órbita e , além de pesquisas e medições , fez as primeiras fotos daquele planeta que há séculos vem despertando a imaginação humana . A Ciência , especialmente a chamada NAVEGAÇÃO AEROESPACIAL , vivia um de seus melhores momentos e a poderosa cadeia de rádio e TV norte-americana CBS ( Columbia Broadcasting System ) - que começara relativamente modesta , como estação de rádio em 27 de janeiro de 1927 - logo percebeu isso e não perdeu tempo . Comentava-se que o ambicioso projeto que estava em vias de ser realizado era caro demais e em caso de fracasso , a própria empresa iria falir ......Para que tal tragédia não acontecesse a mega empresa procurou logo dois gênios . O primeiro deles atendia pelo nome de IRWING ALLEN ( 1916-1991 ) : produtor e cineasta , já trazia em seu currículo 3 grandes sucessos cinematográficos - O MUNDO PERDIDO ( 1960 ) , VIAGEM AO FUNDO DO MAR ( 1961, entre 1964 e 1968 foi adaptado para ser um seriado televisivo  ) e CINCO SEMANAS NUM BALÃO ( 1962 ) , todos eles verdeiros clássicos do gênero de ficção científica . Para a empreitada que estava assumindo ele , no entanto , se baseou em outro sucesso : o filme O PLANETA PROIBIDO ( 1956 ) , que por sua vez foi baseado na peça teatral A TEMPESTADE , do genial WILLIAM SHAKESPEARE ( 1564-1616 ) e escrita entre 1610 e 1611 .Tratava-se também de um filme visionário , pois as viagens espaciais tripuladas  só começariam a acontecer cinco anos mais tarde . Uma curiosidade : um dos protagonistas do filme era o então jovem e desconhecido ator canadense  LESLIE NIELSEN ( 1936-2010 ) , aquele mesmo que interpretou personagens impagáveis em clássicos do humor , como APERTEM OS CINTOS : O PILOTO SUMIU e MISTER MAGOO  mas que no filme de 1956 interpretou um sisudo comandante de espaçonave.......O outro gênio chamava-se JOHN WILLIAMS , compositor célebre pelas trilhas sonoras de inúmeros clássicos d cinema , como ET ( 1982 ) , SUPERMAN I ( 1978 ) , PARQUE DOS DINOSSAUROS ( 1993 ) e A LISTA DE SCHINDLER ( 1994 ) , além de séries de filmes como GUERRA NAS ESTRELAS e INDIANA JONES .........É claro , não pode faltar um grande elenco : para interpretar o professor JOHN ROBINSON , a sua esposa ( MAUREEN ) e  os seus filhos ( JUDY , PENNY e WILL ) , foram escolhidos respectivamente os atores GUY WILLIAMS , JUNE LOCKHARDT , MARTA KRISTEN , ANGELA CARTWRIGHT e BILLY MUMY . O major DON WEST , comandante da nave JUPITER 2 e que leva a família Robinson ao fictício planeta ALPHA CENTAURI  para dar início a uma colônia humana por lá , foi vivido por MARK GODDARD , e o cientista , DOUTOR ZACHARY SMITH , a princípio o vilão da história e que tinha a incumbência de sabotar a viagem a serviço de um governo inimigo ( vale lembrar que na época vivia-se o auge daquela paranoica disputa entre Estados Unidos e União Soviética : a GUERRA FRIA...... ) , foi vivido por JONATHAN HARRIS e , é claro , não podemos esquecer do robô humanoide B9........
     Curiosamente o ator Jonathan Harris foi o último a fazer parte do elenco e a princípio teria uma participação pequena e secundária : com o tempo tornou-se que o protagonista e de um violão perigoso passou a ser apenas um covarde preguiçoso . Outros fatos interessantes : o episódio-piloto jamais foi ao ar ( consta que teria sido o episódio mais caro já produzido na história da televisão ) e alumas de suas cenas acabaram sendo aproveitadas nos 5 primeiros episódios . Também nele a nave não tem o nome de Jupiter 2 mas sim de GEMINNI 12 ( uma referência ao programa espacial dos Estados Unidos , desenvolvido entre 1961 e 1966 )........Em 1965 ao ir ao ar o episódio NO PLACE TO HIDE , não tinha início apenas mais seriado de TV mas sim um dos mais lembrados , cultuados e festejados seriados televisivos de todos os tempos : o icônico LOST IN SPACE , ou PERDIDOS NO ESPAÇO ( curiosamente , no primeiro disco da LEGIÃO URBANA , de 1985 , também existe uma música com esse título ......) ......Nem sempre o rumo da trama foi o mesmo : no primeiro ano o seriado focou a aventura e a ficção científica , no segundo - já com imagens coloridas - ele perdeu meio que o sentido e tornou-se quase que uma comédia e no terceiro ano voltou a enfocar a aventura e ao mesmo tempo tornou-se quase que um humorístico pastelão . O público não deu muita bola para isso e as suas audiências foram um verdeiro fenômeno para época .......Os milhões de aficionados do seriado teriam uma desagradável surpresa : em 6 de março de 1968 foi ao ar o octogésimo terceiro ( 83 ) e último episódio - UMA SUCATA NO ESPAÇO - sendo que , curiosamente , algumas cenas daquele que seria a quarta temporada já estavam gravadas .......Comenta-se que a radical e inexplicada decisão da emissora teria ocorrido em função de um corte geral de custos : vários outros projetos da emissora não tiveram o mesmo sucesso que Lost In Space e quase levaram a CBS à falência .......De tão marcante , o seriado ganharia uma versão cinematográfica em 1997 , justamente o ano em que se passava a trama nos anos 60 , e curiosamente os atores June Lockhardt , Mark Goddard , Marta Kristen e Angela Cartwright não participaram da nova versão em seus personagens originais , mas sim interpretando personagens secundários . No Brasil o seriado também criou gerações de aficionados : foi exibido pelas TVs RECORDE , GLOBO ( sim a poderosa emissora do plim-plim o exibiu entre 1970 e 1978 )  , TUPI , BANDEIRANTES , GAZETA e mais recentemente a TV BRASIL ( as emissoras de TV fechada FOX e FX  também o exibiram ) . Um desses apaixonados pelo seriado é o jornalista e contador de histórias ROBERTO SZABUNIA .......Também fã assumido do seriado western BONANZA , o Forrest Gump de Joinville acabou escrevendo esta crônica , que o ALAMEDA CULTURAL traz em primeiríssima mão ! CONFIRA :

"John , Don ( ABAIXO )

e o Robô estão numa das pequenas estações de monitoria

instaladas durante o período – cerca de um ano terrestre – em que

permanecem no planeta que acabou se tornando um lar.


Nos últimos tempos – o equivalente a alguns meses no calendário terráqueo –

percebiam-se registros sísmicos anormais

nos sensores espalhados no

perímetro cada vez mais amplo em torno da Júpiter II.( ABAIXO )


- Estranho, John. Se fosse na Terra, diria que estamos na iminência de um

terremoto – argumenta Don, com a expressão preocupada que lhe enruga a

testa.

- Ou de uma erupção vulcânica – complementa o comandante ( ABAIXO ) , igualmente

contrariado com a leitura dos instrumentos, a agulha desenhando picos e vales

no rolo.


- Talvez ambas as suposições estejam corretas, professor – acrescenta com

sua característica voz grave o Robô ( ABAIXO ) , atento e também registrando e analisando

os dados em seus circuitos internos.


Antes que alguém se manifeste novamente, o que era leitura se torna

sensação real, e o solo começa a tremer, como se de fato um terremoto

estivesse começando, ou um vulcão se preparasse para cuspir lava e rochas

incandescentes.

À medida que o tremor cresce, o cenário passa da

tranquilidade para o caos: instrumentos caindo, fragmentos de rocha rolando,

fendas se abrindo.



- Para a nave, rápido! – alerta, já ordenando, o comandante.



Ao chegarem ao acampamento, o panorama caótico é amplificado: mesas

caindo, equipamentos se quebrando, roupas no improvisado varal

 da sra.

Robinson voando, agora sob uma ventania vinda do nada.

 Em meio ao alarido,

sobressaem os ganidos de desespero de Smith:

- Oh, meu Deus! É o fim do mundo! Vamos morrer! Salvem-me!


Maureen, Judy, Penny ( ABAIXO ) e Will mantêm um mínimo de serenidade, até em

contraste com os berros de Smith.

 Cada um procura segurar o que pode,

agindo de acordo com a preparação exaustivamente feita antes da decolagem,

uns dois anos antes.

O caos dura em torno de um quarto de hora, cessando

quase tão instantaneamente quanto começou. A desolação logo dá lugar à

organização, sempre a característica principal do professor John Robinson ( ABAIXO ) , já

habituado a enfrentar situações adversas.

Don e Maureen assumem suas

funções de imediatos, ele voltado às questões técnicas; ela ( ABAIXO ) , às humanas,

consolando a sempre assustada filha mais nova e verificando eventuais danos

físicos – nenhum, felizmente,

 a não ser os morais do ainda apavorado Smith ( ABAIXO ) ;

para ele, como sempre, sobram as palavras ríspidas de Don .


- Ora, cale-se Smith! Pare de choramingar, o pior já passou.

Serenados os ânimos, é a hora de buscar explicações e iniciar o rescaldo.

- John, nunca tivemos um tremor tão forte antes – comenta Maureen ( ABAIXO ) , tentando

não parecer excessivamente nervosa.


- Acho que estamos passando por uma situação nova, Maureen – comenta

Don.

- De fato – complementa John ( ABAIXO )  –, os instrumentos mostraram uma leitura que

ainda não havíamos visto. Há um nítido aumento na atividade sísmica. Ainda

não sabemos o motivo.


- Talvez o planeta esteja iniciando um período de instabilidade a partir do

núcleo – arrisca o piloto, novamente com a testa franzida.


- Acho que é um bom motivo para apressarmos nosso cronograma de testes do

propulsor da nave. Talvez precisemos acioná-lo antes do que prevíamos –

avisa o professor.

Will  ( ABAIXO ) é o primeiro a concordar:

- Sim, papai, estamos otimistas quanto ao funcionamento do propulsor. O Robô

acha que podemos testá-lo em alguns dias.


- A informação procede, B9 ? – inquire o comandante, numa rara utilização da

nomenclatura oficial do autômato. ( ABAIXO )


- Positivo, professor Robinson. Com alguns ajustes, poderemos testar o

combustível preparado com o mineral extraído do solo planetário. Os dados

indicam uma boa probabilidade de êxito.

- Em números, Robô – pede o major West.

- Entre 65 e 85 por cento, já considerada uma margem de erro, major –

responde B9. ( ABAIXO )


- Bem – acrescenta o comandante, pensativo e ao mesmo tempo decidido

como sempre –, creio que a estimativa é boa o suficiente.

- Suficiente para quê? – pergunta Maureen ( ABAIXO ) , lá no fundo conhecendo a

resposta.


- Para acelerarmos o processo e sairmos daqui antes que o planeta vá pelos

ares – decreta Robinson. ( ABAIXO )


O pesado ar de preocupação geral só é aliviado pelo sorriso de Smith.


-  * -

John, Don e o Robô ( ABAIXO )  preparam a decolagem do planeta em que passaram tanto

tempo

– e que demonstra estar à beira de um colapso, a julgar pelos registros

sísmicos anormais. Com beltrônio suficiente para uma desesperada tentativa, a

nave enfim ganha o espaço. O antigo lar já é um pontinho distante, quando o

planeta explode num clarão ofuscante.

Com os instrumentos de navegação

orientados para uma suposta rota em direção à Via Láctea ,

 a tripulação se

acomoda nas cápsulas de criogênio, preparando-se para “hibernar”. Cabe ao

Robô manter-se alerta.

- Bons sonhos, família Robinson! – é a última frase do autômato.


- Puxa, até parece que o Robô está chorando – comenta Will.



- Ora, essa lata de sardinha enferrujada não tem sentimentos – rosna o dr.

Smith.


Algum tempo – difícil precisar quanto – depois, a voz do Robô é ouvida:

- Bem-vindo professor Robinson!

- Obrigado, Robô. Relate – ordena John ( ABAIXO ), enquanto os demais despertam do

sono criogênico.


- Os cálculos eram corretos, professor. Veja – diz o Robô, deslizando até a

janela do comando.

- Oh, meu Deus, John. Conseguimos! – diz Maureen ( ABAIXO ) , abrindo os braços e

acolhendo os filhos.


Smith  ( ABAIXO ) é o mais empolgado:

- A Terra! É nossa Terra! Voltamos!


De fato, lá fora a visão é do azul planeta Terra.

Reassumindo o comando, os

Robinson determinam a aterrissagem num ponto do estado de Nevada, nos

Estados Unidos ( ABAIXO , DESTACADO DE VERMELHO ) , onde há uma estação espacial adequada. A resistente

estrutura da Júpiter vence sem problemas a reentrada.

O ponto de

aterrissagem, porém, ainda que nas coordenadas corretas, não revela nada

semelhante a uma base. Só se vê a natureza: mata esparsa, solo, rochas,

cursos d’água...

A nave aterrissa suavemente numa ampla clareira. A reação a

bordo vai do espanto geral à calma do comandante:

- Não sabemos quanto tempo ficamos fora. A base pode ter sido transferida.

Mas estamos em Nevada. Robô, análise do exterior.

- Atmosfera: 78% de nitrogênio, 21% de oxigênio e pequenas quantidades de

outros gases. Ar: respirável.


- É mesmo nossa velha Terra. Estamos de volta! Vamos! – comanda John.

Smith ( ABAIXO )  atropela a família, e aos Robinson só resta sorrir ante a cena do ex-

clandestino se ajoelhando e beijando o solo.

Em torno, uma cena mais do que

comum: vegetação típica da região das Rochosas ( ABAIXO ) , pássaros, ar puríssimo.


Algumas horas depois John, Don e Smith partem em rápida expedição rumo a

uma pequena elevação, uma légua à frente. O que veem, então, é difícil de

explicar: num pequeno vale adiante, em torno de um lago, pastam alguns bois.


Descendo a colina, tomam um susto ao se deparar com dois homens a cavalo,

usando trajes do velho Oeste;

um jovem, canhoto a julgar pelo coldre no lado

esquerdo do cinturão; outro mais velho, encorpado, usando um chapelão de

copa alta. É o jovem quem cumprimenta, com um sorriso:

- Bom-dia estranhos. Estão perdidos ? Sou Joe Cartwright ( ABAIXO ) ,

 este é meu irmão

Hoss. Bem-vindos à fazenda Ponderosa ! ( ABAIXO )  "

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